As famílias são sistemas vivos, constituídos por elementos que dela detêm graus diferentes de autonomia, de acordo com características pessoais ou a fase da vida em questão. Os sistemas familiares são sistemas complexos, sujeitos a determinados stresses, desafios e conquistas que dependem de um ciclo, de um processo de evolução da própria família.
Os desafios que se colocam a uma família constituída apenas pelo casal são diferentes daqueles que se colocam a uma família com filhos pequenos, ou adolescentes. Ou então, famílias em que os pais dos filhos adolescentes são ainda filhos de pais em processo de envelhecimento e perda de autonomia. Ou ainda, famílias que não conseguem cumprir a sua função de suporte, cujos elementos enfrentam todos os desafios por conta própria.
Escrevo tudo isto para ilustrar a complexidade do que é ser família. Gosto especialmente da imagem que desenha a família como se todos os seus elementos estivessem unidos por um laço, que funciona como um elástico. Se um elemento se afasta, os outros sofrerão o impacto. Maior ou menor, consoante a proximidade relativa de quem se movimentou, numa reorganização contínua.
Numa família, o movimento de um, obriga ao movimento do outro. Permitam que vos dê um exemplo: se uma mãe promover a autonomia do filho, limitando a sua hiperprotecção, o filho será levado a uma maior iniciativa, como resposta ao movimento da mãe. Concordo que este seja um exemplo simplista e amplamente discutível nas especificidades: é apenas mais uma ilustração do funcionamento das famílias e da sua interação com o funcionamento dos seus elementos individuais.
Numa família raramente encontramos uma causalidade linear. Por isso, as análises familiares lineares poucas vezes vingam a explicar suficientemente bem as situações. É na complexidade das ligações, na circularidade do impacto, que geralmente encontramos as respostas que nos permitem a evolução: como parte da nossa família e como pessoas bem delimitadas dela.
Nas famílias, na maior parte das vezes, o sofrimento de um elemento é o sofrimento dos outros elementos. Quase sempre com expressão e manifestações diferentes, que não serão compreendidos através do julgamento, mas sim através da abertura e da ampla comunicação. Para que a vida nunca falte na família e assim cada um dos seus elementos seja livre para viver a sua própria vida.
Texto: Catarina Janeiro - Psicóloga Clínica
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