Muitas mães preocupam-se porque apercebem-se que amam os seus filhos de formas diferentes e a mensagem do senso comum afirma que devem amá-los igualmente, na mesma quantidade e da mesma maneira.
Será possível colocar na balança o amor maternal?
Na prática, o que ocorre é que cada filho tem características próprias, chegou em momentos diferentes e desperta sentimentos diversos: orgulho, realização pessoal, admiração. É natural amar uma pessoa e, às vezes, sentir também raiva ou deceção. A questão é como demonstrar isso aos outros, especialmente aos filhos. Não é possível quantificar a forma de amar, mas as mães precisam de ter consciência da forma como tratam cada um dos filhos e como eles percecionam isso.
Por vezes, a mãe pode sentir-se mais próxima de um filho do que de outro ou achar que um dos filhos tem características mais parecidas consigo do que outro. Isso não quer dizer que ela ama um filho mais do que outro mas, sim, que os ama de modo diferente.
É preciso lembrar que o papel de mãe não é simplesmente ser amiga, estatuto em que se pode escolher passar mais tempo com o filho com o qual tem maior afinidade ou o filho que lembra mais o pai. Ser mãe incorpora a tarefa de orientar e estar disponível e afetuosa para todos os filhos, inclusive para aquele com o qual se tem algumas diferenças. O sentimento de rejeição de uma criança é uma das emoções mais dolorosas da infância.
Se a mãe levar em conta somente a afinidade maior com um dos filhos, pode intensificar a rivalidade entre irmãos, tema comum e recorrente nas famílias. Um certo grau de disputa entre irmãos é normal e não é preciso que as famílias optem por filhos únicos! A necessidade de os filhos procurarem maior atenção de seus pais é essencial ao seu desenvolvimento, uma vez que contribui para a aprendizagem da tolerância, generosidade e empatia.
O que não deve ocorrer, jamais, são análises comparativas dos filhos, do género «a tua irmã arruma os cadernos tão bem e tu deixas tudo desarrumado!» Cada criança deseja sentir que é especial, única e amada pelos pais. Às vezes, as crianças mais pequenas ficam ansiosas quando um irmão recebe afeto dos seus pais porque acha que o amor pode acabar. É preciso ter cuidado para que a afinidade ou expressão maior de afeto não seja tão evidente, pois isso pode magoar muito as crianças.
Os pais também podem explicar que o amor não é finito e, como disse um poeta, «o amor soma-se, não se divide». As diferenças existem e as mães não precisam de sentir culpa. Não é possível tratar os filhos de maneira igual, mas é preciso tratá-los com justiça, de maneira imparcial e consistente.
Justiça significa estar atento às características e etapas de desenvolvimento de cada um. Por exemplo, os filhos mais velhos podem ir deitar-se um pouco mais tarde ou receber uma mesada maior do que seus irmãos mais novos.
Nesses casos, tratá-los literalmente da mesma maneira seria incorreto! Também é preciso ter sensibilidade para perceber quem é que está a precisar mais da mãe em determinado momento e estar pronta para oferecer-lhe apoio.
É sempre bom lembrar que os filhos não vieram ao mundo para satisfazer as expectativas dos pais ou preencher as suas frustrações. Mesmo sendo todos humanos, estamos sujeitos a algumas expectativas irreais e é preciso estar atento a elas.
Se uma mãe frequentemente choraminga porque a filha não quer aprender ballet, um «antigo sonho que não teve condições de concretizar», é preciso alertá-la. Amor incondicional é a aceitação do filho como ele é e não, que você gostaria que ele fosse. Quando a criança se sente verdadeiramente aceite vê o lar como um porto seguro onde sempre haverá um lugar somente seu no afeto dos pais.
Texto: Lídia Weber (psicóloga)
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