Hoje em dia, pais e educadores deparam-se cada vez mais com um problema antes diagnosticado apenas em adultos, o stresse.
Considerado um dos males do século e reflexo da sociedade em que vivemos, o stress deixou de ser uma doença apenas de gente grande, tornando-se progressivamente mais comum o diagnóstico de casos em crianças.
Em Portugal, são quase inexistentes os estudos relativos à incidência do stress na infância mas sabe-se que, por exemplo, ao Hospital Dona Estefânia chegam todos os anos cerca de 200 bebés com idades até aos três anos apresentando sintomas de alguma incapacidade em lidar com as suas emoções. A Unidade da Primeira Infância, que os acolhe, é a única no país vocacionada para tratar crianças com este tipo de problemas.
Hoje em dia são cada vez mais as crianças transformadas em pequenos executivos, que dividem o seu tempo entre as atividades desportivas, o inglês, o computador, o ballet, as artes e, naturalmente, as tarefas da escola e a vida familiar. São crianças levadas a esquecer as suas verdadeiras responsabilidades, aquelas da infância como brincar.
Dias alucinantes
O dia a dia alucinante que adultos e crianças vivem altera-lhes os ritmos de vida e gera situações de stress. Face a esta realidade, «é normal utilizarmos termos como estou stressado para definir uma sensação desagradável resultante de um ou vários estímulos agressivos vivenciados», explica Leonor Santos, psicóloga clínica e psicoterapeuta.
O estado de stress depende tanto da personalidade do indivíduo «como do seu bem-estar no momento», pelo que o tipo de reações varia muito de pessoa para pessoa, verificando-se uma tendência cada vez maior para ocorrer igualmente na infância. Segundo a especialista, «a criança reage da mesma forma aos estímulos agressivos».
Também o seu cérebro, «através do hipotálamo, ativa o sistema nervoso simpático e a glândula pituitária que acionam as glândulas suprarrenais, libertando adrenalina». Posteriormente, «esta age sobre o organismo, colocando-o em estado de alerta», razão pela qual, «atividades vegetativas, como a digestão e o sono, ficam mais inibidas», acrescenta.
Na génese do problema
Existe uma série de situações do nosso dia a dia que, mesmo que não se aperceba, pode ser causadora do stress que o seu filho está a vivenciar. É o caso de certos acontecimentos mais ligados ao mundo adulto, como o divórcio ou eventuais dificuldades financeiras pelas quais a família possa estar a passar.
Ocorrem depois outras situações apontadas por Leonor Santos e que, enquanto mãe, deverá ter em conta, como o facto de as crianças suportarem «atividades e responsabilidades em excesso». Neste caso estão, por exemplo, as aulas de inglês, de desporto, de dança, de artes ou de computadores, às quais se juntam depois as tarefas da escola.
Por outro lado, os próprios pais podem desenvolver comportamentos passíveis de gerar stresse, ao pressionarem a criança para realizar rapidamente as suas tarefas.
Já na eventualidade das causas serem inerentes à personalidade, o problema pode ter origem numa eventual timidez, ansiedade, desejo de agradar aos outros ou em alguma insegurança da própria criança.
A eterna dor de cabeça
Entre as diversas fontes de preocupações a ter em conta, a escola é, certamente, uma daquelas a que nenhuma criança poderá fugir. Os problemas começam, desde logo, pelo simples facto de se verem obrigadas a enfrentar pessoas com as quais não estão habituadas a lidar.
Segue-se a integração num grupo de amigos e a gestão de expectativas. E há também a necessidade de passar de ano. Neste caso, coloca-se não só o problema de perder o grupo de amigos, como também de lidar com a frustração causada pelos pais.
Com expetativas elevadas, os pais têm muitas vezes dificuldade em encarar a situação e tendem a dramatizá-la, sem se aperceberem que estão aumentar a angústia da criança. Se o seu filho é um dos muitos alunos que pode chumbar o ano, o melhor que tem a fazer é conversar com ele e levá-lo a perceber que os estudos são mais importantes para ele do que para si, já que é através da escola que poderá ter acesso à aprendizagem.
Texto: Cláudia Marina com Leonor Santos (psicóloga clínica e psicoterapeuta)
Comentários