O medo de estar separado das figuras significativas (ex. mãe, pai, avós, irmãos) é um medo típico em crianças, até cerca dos 2 anos de idade. Regra geral, como todos os medos, é transitório, no entanto, algumas crianças continuam a sentir este medo de uma forma mais intensa e persistente do que o que seria expectável – a ponto de interferir com o seu bem-estar e com o bem-estar da sua família. Nesses casos, poderemos falar de uma Ansiedade de Separação.

A ansiedade de separação pode manifestar-se de várias formas: medo de ficar em casa sem mãe/pai; medo de dormir fora de casa sem a presença dos pais; medo de ficar na escola sem os pais; medo de estar sozinha/o numa determinada divisão da casa; medo de dormir sozinha/o. Muitas vezes, estas crianças são descritas pelos pais como a sua sombra, porque os seguem para todo o lado, ou, mesmo que não os sigam, estão constantemente a chama-los, para se certificar de que eles estão por perto. Para estas crianças, prever ou experienciar situações de separação pode gerar tanta ansiedade que muitas vezes experienciam sintomas físicos (somáticos) como: chorar, tremer, hiperventilar, batimento cardíaco acelerado, vómitos, tonturas e dores físicas (ex. dores de cabeça e estômago). Em alguns casos mais extremos, podem mesmo fazer febres altas e atentar fisicamente contra si próprias e/ou contra quem tenta “forçar” o momento da separação.

Uma vez consumada a separação e após algum tempo, algumas crianças conseguem ficar mais tranquilas, activando a sua ansiedade apenas em situações específicas, como, por exemplo, perante o atraso do adulto na hora de a ir buscar. Outras podem manter a ansiedade em níveis tão elevados que parece quase impossível manter a situação de separação: por exemplo, algumas crianças podem pedir de forma insistente para que liguem à/ao mãe/pai ou podem intensificar tanto os sintomas somáticos que o adulto presente se vê forçado a equacionar chamar os pais.

Crianças que sofrem de ansiedade de separação têm, muitas vezes, pesadelos e/ou pensamentos negativos associados à separação. Frequentemente sonham/pensam que algo terrível pode acontecer com eles (ser raptados, adoecer, ser abandonados) ou com a figura de referência de quem estão separados (ter um acidente, morrer, esquecer-se da criança); podem pensar que nunca mais verão os pais, que podem ficar esquecidos num determinado sítio, que os pais irão embora e não voltarão mais. Na verdade, estas crianças só se sentem verdadeiramente seguras quando estão suficientemente perto das suas figuras de referência a ponto de as poder ouvir, ver e tocar nelas ou estar com elas. São crianças que estão muitas vezes vigilantes em relação ao bem-estar dos pais (ou de outras figuras de vinculação), ficam atentas a pequenos sinais como: se os pais sorriem, se parecem cansados, se estão mais calados do que o habitual… Qualquer diferença de que se apercebam é por elas interpretada como uma certeza de que algo de errado se passa com os pais e, no limite, de que podem estar muito doentes e morrer, ou tão zangados que não aguentam viver com elas… e por isso as mandarão embora.

É muito comum que, perante situações que implicam grande sofrimento para as crianças, os pais tenham tendência a evitar ou retirar a criança da situação. No entanto, a melhor forma de lidar com a ansiedade é impedir que estes evitamentos aconteçam. Se as figuras de referência mantiverem a situação de separação, estarão a passar a mensagem aos seus filhos/netos de que efectivamente não há perigo naquela situação. Assim, através de uma experiência repetida que vai desconstruindo na criança os seus pensamentos negativos, ela começará a sentir um maior conforto nas situações de separação.

Ainda assim, na exposição a situações de separação podem ser consideradas as seguintes estratégias:
1. Começar por preparar a separação, por exemplo, mostrando o lugar onde a criança ficará, conhecendo as pessoas com quem ficará.

2. Começar por pequenos momentos de separação. Por exemplo, se o seu filho for iniciar o ensino pré-escolar, pode ser importante combinar com a educadora uma visita à escola para que ele possa ficar algum tempo num momento lúdico com a educadora e consigo (ou seja, na presença da figura de referência).

3. Elogiar o seu filho/filha e recompensar o seu esforço em situações de separação.

Muita literatura tem sugerido o uso de um objecto de transição para facilitar o momento da separação. No entanto, há que usar esta estratégia com bastante cautela, já que o recurso ao objecto se pode tornar um comportamento de segurança, uma superstição, que, a longo prazo, funcionará como novo indutor de ansiedade. Por exemplo: se uma criança já estiver mais confortável com a separação e houver um dia em que acidentalmente o objecto fica esquecido em casa (ou se o adulto pretender remover o recurso ao objecto), a criança poderá desencadear nova reacção de ansiedade, por achar que as situações de separação correm bem por causa daquele objecto e não pela sua própria competência de regulação emocional.

Por muito difícil que seja e muito angustiado que se possa sentir, é muito importante, em momentos de separação do seu filho/neto, que não prolongue a despedida. Dê-lhe um beijinho mas não se detenha a explicar porque tem que ir, não volte atrás por ouvir o choro/grito dele, nem invente justificações que não sejam verdadeiras, como “vou só ali ao carro e volto já”. Quanto mais prolongada a despedida, mais espaço dará à criança para que preveja o momento e mais ansiosa ela ficará.

Acredite que, desta forma, estará a ajudar o seu filho/neto a treinar competências de autonomia e de regulação emocional… e a ser mais feliz.

Maria João Silva - maria.silva@pin.com.pt
Psicóloga Clínica

PIN – Progresso Infantil

FACEBOOK PIN