A escrita à mão requer a interação coordenada de várias funções cognitivas: a perceção, a linguagem, a atenção, a memória e as funções executivas.
A perceção do mundo através dos sentidos, concretamente do tato, da visão e da audição, é imprescindível para o desenvolvimento da escrita e, por conseguinte, da aprendizagem. O tato é responsável pela aquisição de novas descobertas ao nível da motricidade fina, por exemplo pelos complexos e específicos movimentos das mãos e dos dedos ao pressionar o instrumento de escrita. A visão corresponde à capacidade de apreender as formas, os tamanhos e outras características das letras e palavras; e, também as próprias noções espaciais (não esquecendo que um caderno tem detalhes espaciais mais ricos do que um tablet). A audição especifica-se pela diferenciação auditiva dos sons e é através deles que aprendemos a escrever, a falar e a ler.
A interação de várias experiências sensoriais estimula a capacidade atencional, para uma adequada seleção e organização da informação. Posteriormente, são atribuídos significados que facilitam a memorização das letras. A manutenção das representações visuais das letras na memória é reforçada pelo treino e contribui para o aperfeiçoamento e espontaneidade de habilidades na escrita desde as letras, sílabas, palavras, frases e textos, bem como na leitura. Atendendo a que a escrita à mão envolve mais concentração do que um recurso tecnológico (no qual só tocamos nas letras), quando escrevemos à mão conseguimos memorizar mais facilmente as informações.
As funções executivas também desempenham um papel fundamental, quer pelo planeamento e monitorização da escrita; quer pelo raciocínio, porque escrever à mão carece de compreensão e reformulação; quer pela flexibilidade cognitiva importante no reconhecimento e distinção de várias letras, visto que elas são ‘símbolos’ que corresponderem a diversos sons, por exemplo a letra ‘c’ representa sons diferentes nas palavras casa e cenoura.
A escrita à mão desenvolve e mantém a atividade cerebral, em todo o desenvolvimento humano, como tal é importante que tanto as crianças, como os adultos, continuem a praticá-la, sempre que possível. Porém, como a escrita à mão exige prática, pode ser um processo frustrante e cansativo, particularmente para as crianças, por isso em vez de tornar a escrita numa lista de grafismos, devemos tentar estabelecer outras dinâmicas e estratégias, de forma que seja uma atividade mais emocionante; por exemplo:
- Imitar letras e/ou figuras em areia, farinha, espuma ou, simplesmente, no ar;
- Exercitar os dedos e as mãos, como se estivesse a escrever;
- Escrever o seu nome, no início de cada atividade, uma vez que o próprio nome tem um significado afetivo implícito;
- Antes da escrita, desenhar, rabiscar, fazer movimentos com o lápis.
Um artigo da psicóloga clínica Marisa Rosa.
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