Sei que nos últimos anos, o uso da chucha tem sido francamente vilificado: há muitas questões negativas em torno da chucha. Que leva a que os bebés confundam a mama e não saibam mamar; que faz com que a anatomia da boca do bebé se altere e seja preciso recorrer à ortodôncia; que aumenta o risco de cáries dentárias. Na prática, tudo certo.
Mas então, se o uso da chucha é inerentemente um problema, porque é que os bebés continuam a usar chucha? E mais: se as chuchas são tão desaconselhadas, o que dizer das chuchas hiper-super-hipters, em diferentes tons de pastel, com aba e tetina redonda que se veem atualmente, numa espécie de invocação revivalista das chuchas dos anos 30 do século passado? Antes de mais, vou tentar clarificar 2 tópicos: os eventuais benefícios da chucha. E sim, eles existem!
Benefícios da chucha
Primeiro: sabemos que a utilização de chucha está associada à redução do risco de morte súbita no lactente. Ou seja, pelo facto de ter uma sucção activa, o bebé parece ficar protegido destes acontecimentos. Como se sabe isto ao certo? Puramente por associação estatística com os relatos de caso de síndrome de morte súbita.
Para quem não sabe, a morte súbita do lactente descreve exactamente a morte súbita, inesperada e silenciosa de um bebé com menos de 6 meses, no leito, durante o sono. É o principal motivo da grande preocupação que todos os pediatras têm sobre a segurança do bebé nos primeiros 6 meses.
Segundo: o reflexo de sucção é algo inato ao ser humano. Naturalmente que nem todas as sucções servem para comer. Estranhamente – ou não – é um reflexo primitivo que induz bem-estar e como tal, pertence à curta lista de ferramentas úteis de que dispomos para regular (acalmar) um bebé. A chucha é naturalmente uma aliada. O nome em inglês para a chucha é pacifier... A pacificadora!
Primeira pergunta: Quando começar a usar chucha?
Como devem imaginar, não há estudos sobre isto. E quando não há estudos regemos-nos pelo bom senso!
A grande questão é não deixar que o bebé fique confuso entre a chucha e o mamilo da mãe, no caso de estar a ser alimentado com leite materno. O que é que isto significa? Significa que, se temos um recém nascido muito pouco despachado a mamar na mama, não é boa ideia introduzir a chucha, porque a sucção vai ser consideravelmente diferente, os movimentos de reptação da língua menos exuberantes e, por isso, o bebé não vai conseguir estabelecer tão bem a amamentação. Por isso, deixá-los mamar bem primeiro e depois passamos à chucha, certo? Infelizmente isto só costuma estabelecer-se na segunda semana de vida.
Segunda pergunta: Mas usar chucha para quê ao certo?
À parte da prevenção da morte súbita do lactente, gostamos de salientar que a sucção acalma os bebés, organiza-os e é inclusivamente uma estratégia de controlo da dor nas crianças doentes ou que irão fazer um procedimento potencialmente doloroso. Não substimar nunca o poder da chucha!
Terceira pergunta: Mas se a chucha faz mal aos dentes e eu não quero gastar dinheiro em aparelhos, porque é que eu vou dar a chucha ao meu bebé?
Bem pensado, mas se o seu bebé fizer aleitamento materno, temos a certeza que nem todas as sucções serão nutritivas... E a chucha do seu bebé será o seu mamilo. Não quer mesmo dar uma segunda oportunidade à coitada da chucha?
Vá oferecendo a chucha por períodos pequenos, entre as mamadas e pode ajudar o seu bebé a auto-regular-se. E mesmo que o bebé adormeça com a chucha, não há problema nenhum. Com o tempo os bebés perdem a auto-regulação pela sucção e começa a ser mais um assunto comportamental. Por isso é que retirar a chucha a um miúdo de 3 anos é muito mais difícil do que a um bebé de 18 meses. Pensem nisto: quanto mais precocemente tirarem a chucha depois dos 12 meses de idade, mais fácil será...
E em relação aos dentes: sim, sabemos que o uso prolongado de chucha leva a uma mordida aberta (incisivos superiores e inferiores afastados e procidentes) e a um palato mais alto e mais estreito. Por isso é fundamental escolher o formato de chucha correto e ter o cuidado de escolher um tamanho de chucha adequado à idade do bebé.
Quarta pergunta: o que tenho de ter em conta antes de escolher uma chucha?
As chuchas podem ter 3 composições: borracha, silicone ou látex. Se escolherem chuchas em borracha, optem por borracha natural, sem BPA, ftalatos, PVC e corantes. Quer a borracha, quer o silicone, são elastómeros, mas o silicone é mais resistente ao calor e como tal menos degradável nos processos de esterilização.
Por fim, o látex, sendo mais mole, é o que se assemelha mais à textura do mamilo materno. Mas é seguramente o menos resistente.
A estrutura habitual de uma chucha inclui a tetina, a aba e a argola de fixação. O ideal é serem constituídas por uma peça única, para ser mais fácil higienizar.
Para as tetinas existem inúmeros formatos: recomendo obviamente as tetinas anatómicas, com uma haste espalmada, ao invés de redonda, porque garante que os miúdos conseguem fechar melhor a boca com a chucha posta.
A aba deverá ser pequena, indentada para não obstruir o nariz e de preferência com buracos de ventilação, para deixar secar a baba em torno da boca. Para mais detalhes sobre chuchas, veja aqui.
Cuidados gerais com a chucha
As chuchas deverão ser substituídas de acordo com o crescimento do bebé e a cada 3-4 meses (menos se forem de látex). Usar uma chucha de bebé dos 0-6 meses quando o miúdo já tem 12 meses é desaconselhado.
A chucha deve acompanhar o tamanho do palato rígido da criança: chuchas com tetinas pequenas num palato grande só servem para o tornar mais alto. E não é por aqui que a criança se "desabitua" da chucha.
E acima de tudo, nada de coisas doces na chucha... Porque com as bactérias que naturalmente se encontram na boca, tal só aumentará o risco de cáries dentárias.
Um artigo da médica pediatra Joana Martins.
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