Quarta causa: ROTINA DESAJUSTADA OU AUSÊNCIA DE ROTINA
Eis a quarta causa que integra o artigo “Sete causas que incentivam e enraízam o despertar na madrugada” por parte de um bebé.
“Parabéns, o seu bebé é perfeitinho! Já sabe, ele agora é que manda!” Esta é uma frase muito popular, ouvida logo após o nascimento. É dada com alegria, e na melhor intenção, na tentativa de alertar os pais para as mudanças na sua vida como casal. No entanto, esta expressão deve ser clarificada, pois creio que pode levar a falsas interpretações.
Claro que o bebé deve ser, sem dúvida, a real prioridade dos pais, e o “novo centro do seu universo”. No entanto, muitas vezes, com esta indicação conclui-se que os pais devem apenas seguir o ritmo do bebé, em vez de o observarem e orientarem. Daqui pode surgir uma predisposição para reagir só e quando o bebé chora. A ideia que os pais nada podem fazer para evitar maus hábitos ou ajudar a regular os ritmos do bebé não podia estar mais incompleta e errada.
A tendência dos pais se guiarem pelo que acreditam que o/a bebé/criança “quer” pode manter-se ao longo do desenvolvimento, e mesmo arrastar-se para depois da primeira infância. Claro que, em pouco tempo, será a criança quem manda lá em casa, tendo comportamentos dos quais os pais nada se orgulham.
Neste quadro, oiço muitas vezes queixas de que o bebé é que é “terrível”. E claro que há temperamentos muito mais trabalhosos. Mas ao contrário do que muitas pessoas pensam, o bebé, apenas por si, não tem capacidade de auto-regular os seus ritmos, nem de dar a volta a hábitos enraizados (seja de sono, alimentação ou comportamento). É bom lembrar que este é ainda inexperiente e bastante desconhecedor das estratégias para alcançar o seu máximo bem-estar. Não é da sua responsabilidade, já que não tem experiência, saber, por exemplo, que deve comer antes de estar no extremo de fome! Também não saberá, obviamente, que deve evitar mamar com sofreguidão, sem engolir ar, ou que deve ir dormir, antes mesmo de estar exausto, para adormecer tranquilamente, sem choro e “luta”.
Caso se tente estabelecer uma rotina baseada no ritmo errático do bebé, este terá mais dificuldade em orientar-se nas 24h, e reconhecer os padrões de postura, regular as suas expectativas, mas também o s ritmos de alimentação ou as suas próprias necessidades de sono. Poderá enraizar-se uma rotina bastante irregular e, em alguns casos, até a ausência da mesma. Isto irá potenciar que a noite seja um terreno de reflexo, bastante desregulado e imprevisível, à mercê da mera sorte, com sono potencialmente agitado e bastante interrompido. O bebé não deverá viver maioritariamente em desconforto e em extremo de necessidade, pois isto poderá mesmo influenciar o seu temperamento.
Nem todos os bebés, são “natural sleepers”. Existem de facto bebés que dormirão independentemente se as condições ideais estiverem reunidas, no entanto outros só com bons hábitos é que conseguirão dormir o que de facto precisam. Como escrevi antes, também existem temperamentos mais desafiantes, em que só mesmo com bons hábitos farão o básico (comer bem, dormir bem, estar bem-disposto para aprender e relacionar-se com qualidade). Mas os bons hábitos só se enraízam quando há condições. E as condições mínimas são, evitar resolver as necessidades quando estas já estão no extremo. Sem uma rotina ajustada isso é uma missão quase impossível.
O bebé, ainda que emita sinais, só alerta com o choro quando já está no limite do desconforto. É como a própria sede: só temos sede quando já devíamos ter bebido água. O bebé chora com sono quando já está exausto. E quando se fala de “luta” contra o sono, é muito provável que se esteja perante, não de uma luta, mas de uma total incapacidade de controlo, derivada da exaustão. O bebé já não consegue sair da espiral de choro. (leia mais aqui).
Para o melhor bem estar e desenvolvimento, uma rotina ajustada deve ter em consideração o peso, idade e até temperamento. Deve contemplar tempos de sesta ajustados numa distribuição funcional para a vida do bebé, intervalos de alimentação adequados e períodos de atividade respeitadores, que estimem as suas capacidades e necessidades.
No extremo oposto, também não será sensato os pais imporem o seus ritmos de adulto, perfeitamente desajustados para um bebé ou criança com menor resistência. O bebé tem as suas necessidades e capacidades específicas e as rotinas poderão exigir algum esforço dos pais para se adaptarem a esta nova mas não menos maravilhosa realidade.
Seja qual for a tendência do seu bebé, ou a dica da melhor amiga, saiba que a maioria dos estudos e observações continuadas confirmam que até o bebé deixar de fazer a sesta da manhã (haverá um pequeno ajuste), a ordem saudável que protege os melhores hábitos em cada campo do desenvolvimento, assim como o campo do sono em si, reflete-se numa rotina com esta sucessão:
Dormir > Comer > Atividade > Dormir…. (repete-se ao longo do dia).
“Comer” não deve anteceder “dormir” e a “atividade” não deve anteceder “comer”.
Então, orientar o bebé numa rotina ajustada à idade, peso e temperamento, será uma forma estruturada, simples e organizada, de dar a conhecer este mundo e as regras do seu funcionamento, de uma forma gradual e respeitadora.
Contempla uma série de esforços e aprendizagens benéficos para o bebé, trabalhando de forma mais saudável as suas perceções conceptuais e a sua capacidade de processamento. Melhorará as suas aptidões a cada dia e aumentará o conhecimento dos pais acerca do bebé, aprofundando assim o pilar da relação: a confiança. (ler mais aqui).
Ao aumentar o conhecimento acerca do seu próprio bebé, será notável a melhoria da capacidade de reconhecimento dos seus sinais, identificando-se facilmente as causas de choro, permitindo assim também preveni-las, como um hábito de boa vivência.
Mesmo com uma rotina ajustada é importante que os pais sejam SEMPRE sensíveis á evolução ou mudança de necessidades, que acontece naturalmente e principalmente nos picos de crescimento. A rotina não pode substituir aquilo que existe de mais importante: a relação de vínculo e confiança. A rotina serve sim para promover o bem-estar e ajudar na orientação dos pais e do bebé, para que em conjunto conquistem uma maior proximidade e sintonia. (leia mais aqui).
Uma boa rotina dá igualmente tempo aos pais para prepararem os momentos de qualidade que vivem com o bebé, organizarem a sua vida, reporem a própria energia, melhorarem a sua qualidade parental, mas também a sua relação como casal… Tudo isto, ao mesmo tempo que investem com calma nos melhores hábitos em todos os campos estruturais do bebé, irá promover melhores experiências em continuidade. Isto irá refletir-se num sono melhor, mais tranquilo e sem interrupções, mas também na qualidade de alimentação e de brincadeiras.
Dessa forma, ao contrário de interpretações erróneas da expressão “o bebé é que manda”, é essencial uma orientação ativa e às vezes proactiva, mas sempre sensível por parte dos pais! (leia mais aqui.)
Ensinar a dormir nestas condições, tornar-se-á uma conquista viável e otimizada para todos.
Leia ainda:
Causas que incentivam e enraízam o despertar na madrugada - Parte I: Fome
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Carolina Albino - Especialista em Ritmos de Sono do Bebé
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