Viriato Quintela é o nome do ator que dá vida ao polícia Valter Santos na novela da SIC 'A Serra'. Licenciado em Engenharia Civil, foi mais tarde que descobriu o seu gosto pela televisão. Lutou muito para concretizar este sonho, apesar de nem sempre ter tido acesso às oportunidades que desejava e para as quais sabia que estava preparado.

Apresentou o 'Ora Acerta', na TVI, uma das grandes conquistas na sua carreira. Mas foi também aqui que percebeu que as coisas nem sempre acontecem como espera.

Ainda chegou a trabalhar como repórter do programa 'A Tarde é Sua', apresentado por Fátima Lopes, mas decidiu largar o lugar, notando que histórias de "faca e alguidar" não fazem o seu género.

Nas redes sociais leva a cabo um projeto - 'Beirão Rijo'- , onde entrevista vários colegas da área, espaço que o enche de orgulho.

Como é que tem sido dar vida ao polícia Valter Santos?

Para mim é especial este projeto porque eu sou beirão. Ter a oportunidade de desenvolver uma personagem é espetacular, ainda mais neste projeto que se chama 'A Serra', que foi onde eu cresci, na Serra da Estrela.

É de que zona do país?

Vila Nova de Tazem, única vila do concelho de Gouveia, distrito da Guarda.

Teve uma infância feliz?

Muito. Vim com três anos da Venezuela, nasci em Caracas. Há liberdade e qualidade de vida. Quando falo em liberdade digo emocional. A pessoa sai, vê sítios desafogados, o que para mim é importante e foi algo de que me comecei a aperceber quando me mudei para Lisboa.

Acho que é o que acontece com as pessoas em Lisboa. Está tudo puxado e prontinho para arrancar. As pessoas estão tensas

Quais as diferenças que mais notou?

Noto que as pessoas estão mais com a 'corda puxada'. Parecem aqueles brinquedos de mola que puxamos, largamos e o carro anda um bocadinho. Acho que é o que acontece com as pessoas em Lisboa. Está tudo puxado e prontinho para arrancar. As pessoas estão tensas.

Mas sempre teve o sonho de vir para a cidade?

Não, foi precisamente o contrário. Quando tirei Engenharia Civil jamais pensei que iria mudar-me para Lisboa e ia estar a fazer novelas, foi algo que foi acontecendo na minha vida.

Aconteceu como? Até porque são duas áreas completamente distintas...

Sim. Eu licenciei-me em Engenharia Civil e ainda tirei um mestrado em Giotecnia Ambiental, daqueles que fazem crescer pelos no peito. Fui ao 'Curto Circuito' no ano em que o Manzarra ganhou e apesar de não ter vencido, achei que a comunicação era algo que estava em mim.

Cheguei a estar como repórter no 'A Tarde é Sua', mas aí confesso que não gostei tanto porque 'faca e alguidar' não é para mim, gosto é de animar e entreter as pessoas

E o que fez para chegar até à televisão?

Comecei meio por acidente com participações pequenas. Estive enquanto apresentador no 'Ora Acerta', vivi durante meio ano em Budapeste e foi maravilhoso. Cheguei a estar como repórter no 'A Tarde é Sua', mas aí confesso que não gostei tanto porque 'faca e alguidar' não é para mim, gosto é de animar e entreter as pessoas.

Refere-se a histórias mais duras de vida, é isso?

Sim. Na última semana que estive no programa já só chorava com as pessoas que entrevistava. Uma senhora que tinha perdido as filhas recém-nascidas e que só pegou nelas para lhe morrerem nos braços. Um outro casal no Porto - com um senhor de 52 anos que estava com Alzheimer - fui lá e tinham acabado de lhe levar cinco mil euros por uma reparação do telhado. Olhei para aquilo e vi que valia dois mil, que o tinham roubado. Percebi que não podia fazer aquilo porque ir-me-ia destruir. Sou uma pessoa alegre, gosto de trazer algo positivo.

Em relação às redes sociais e no caso dos atores, há a perceção de que quem tem mais seguidores vai na linha da frente para conseguir mais trabalhos. Como é que vê isso?

Sei que é verdade, sei que se escolhem pessoas pelos seguidores. É uma forma diferente, mas pelo menos é mais às claras. Antes eram as cunhas, que continuam a acontecer hoje em dia. Vivemos num politicamente correto onde toda a gente é crítica de toda a gente. Não se pode dizer nada por que há de haver alguém que vai ver uma falha no teu discurso.

Temos de ter uma comunicação que seja empática e para o mundo e não apenas 'olha para mim tão giro e estou aqui a vender uns produtos porque tenho imenso alcance'

Acho que as redes sociais têm aspetos negativos, mas não nos podemos levar demasiado a sério. Temos de ter uma comunicação que seja empática e para o mundo e não apenas 'olha para mim tão giro e estou aqui a vender uns produtos porque tenho imenso alcance'.

O que mais o desiludiu quando começou a trabalhar como ator?

A forma como tratam os figurantes. Esquece-se facilmente que somos todos pessoas à procura de um sonho. Eu fiz figuração numa série há muitos anos, 'A Maternidade', e foi bom, apesar de haver pessoas más lá no meio, mesmo em produção.

E como é que a família reagiu quando passou de engenheiro para ator?

Reagiram bem porque não sou estouvado. Cumpri com os meus estudos, tinha a minha vida balizada até que, aos 26 anos, comecei a pensar nisso. Nunca deixei de trabalhar como engenheiro por conta própria, mas ser só engenheiro não é opção.

Era muito marrão?

Ui, não. Era o menino que estudava no dia anterior.

E deu muitas dores de cabeça aos pais?

Não, sempre fui caseiro, adoro estar em casa. Era um ávido consumidor de séries e filmes. Fiquei com um conhecimento enciclopédico incrível, sou um ótimo convidado para jantar. Por acaso adorava apresentar um programa tipo 'Quem Quer Ser Milionário', o 'Ora Acerta' era mais ou menos assim.

Esse programa deve ter sido uma aventura...

Quando fui para lá estava nas nuvens, a viver um grande sonho e ainda por cima em Budapeste, que era uma cidade que eu queria muito conhecer. Tenho de agradecer à TVI por ter apostado em mim e foi uma pena não ter continuado a apostar.

Na altura quando voltei, tinha o maior share de todos os meus colegas. Fui falar com a direção e eles disseram: 'Agora há aqui um programa para o João Montez, o 'Somos Portugal' e para ti não há nada'. Eu pensei: 'Ok, maravilhoso para o João... mas e eu?'. Eu disse que até tinha boas audiências, para me darem uma oportunidade, que ia apresentar três meses o 'Somos Portugal' sem receber nada - claro que é estúpido dizeres isto porque não te dão valor. Nunca me abriram a porta. Fartei-me de esperar e fui fazer as 'Poderosas' para a SIC. Depois voltei em 2018 para o 'Tarde é Sua' e estive lá mais ou menos até a Cristina Ferreira sair.

Não é a necessidade de comparar, o João [Montez] é completamente diferente. Mas vim com a ilusão de que iria apresentar e não aconteceu

Porque é que acha que tomaram essa decisão? De apostarem no João Montez em vez de no Viriato?

A resposta é simples: não sei. Mas o João é bom, não me importei minimamente por ele ir. Importei-me por me dizerem que ele ia em vez de me dizerem 'tu ainda não dá'. Acho que na altura qualquer pessoa reagiria assim. Não é a necessidade de comparar, o João é completamente diferente. Mas vim com a ilusão de que iria apresentar e não aconteceu.

E gostava de fazer parte desta nova fase da TVI?

É uma pergunta injusta. Se disser que sim, iria contra aquilo que realmente acho, se disser que não, fecho uma porta. Como digo sempre a verdade, respondo que não. Está estranho, não quer dizer que não haja pessoas espetaculares lá que fazem um excelente trabalho. Vejo ali várias, mas isso também não me impede de ver outras menos competentes para os lugares que ocupam.

Há pessoas cuja melhor versão delas é estarem a mostrar champôs e estarem vestidas por tal marca

Penso que com milhares a verem-te tens a responsabilidade de teres de ser a tua melhor versão e há pessoas cuja melhor versão delas é mostrar champôs e estarem vestidas por tal marca. Se não conseguires passar lá para casa coisas com positividade, mais vale estares quieto. Tanta gente que tem essa oportunidade e não devia. Já ouvi dizer que sou frustrado por dizer isto, mas pronto, eu digo o que penso. Enfim, o que me interessa é a minha evolução.

Como é que vai esse coração?

Vai indo. Tinha uma relação que acabou no final de 2019. Demorei muito tempo a recuperar, vou ser sincero. Agora que me libertei dessa mochila pretendo focar-me no meu trabalho. Não estou com a ânsia de procurar, mas também não tenho a porta fechada. Estou disponível para que a vida aconteça.

Quais as características que mais aprecia numa mulher?

Não tenho um tipo de mulher. Basta ser uma pessoa com empatia, alguém que ouça e que também queira ser ouvida. Mulher com convicções, forte mas não teimosa. Gostava de encantar alguém.

E é fácil ser-se amigo do Viriato?

É só preciso querer. Vou mantendo as pessoas mas não fecho a porta a pessoas novas.

E o que é preciso fazer para ver o Viriato fora do sério?

Fácil: batota e desonestidade. Detesto que façam batota nem que seja num jogo a feijões. Não admito e nem entendo.

Nem sempre é fácil viver a verdade, é necessário coragem e sorte

No seu perfil do Instagram afirma que "está a viver a sua verdade". Qual é a sua verdade?

Ter a coragem de assumir sempre aquilo que quero fazer. Às vezes é difícil acordarmos de manhã e pensar que vamos fazer alguma coisa. Dizê-lo às pessoas é ainda mais difícil porque têm de ouvir e levar a sério. Nem sempre é fácil viver a verdade, é necessário coragem e sorte.