O rei Carlos III regressou às funções públicas na terça-feira passada após estar afastado três meses devido ao diagnóstico de cancro do monarca, que celebra na segunda-feira um ano desde a coroação.
Foi o primeiro compromisso público formal do rei desde 6 de fevereiro, quando o Palácio de Buckingham anunciou que iria fazer uma pausa para se concentrar no tratamento de um tipo de cancro não especificado.
Simbolicamente, a visita foi ao University College Hospital Macmillan Cancer Centre, em Londres, onde Carlos e a Rainha Camila se encontraram com doentes e funcionários do centro de tratamento ao cancro.
O monarca partilhou com um doente o impacto do diagnóstico: "É sempre um pouco chocante quando nos dizem".
O rei deverá voltar a estar presente em mais eventos públicos antes de uma visita de Estado do Imperador Naruhito do Japão e a mulher, a Imperatriz Masako, em junho.
Mas não é claro em quantos dos eventos reais tradicionais do verão, como o desfile militar em junho para marcar o aniversário do rei e as corridas de cavalos em Royal Ascot, irá participar enquanto o tratamento médico continua.
O Palácio de Buckingham disse na semana passada que os médicos estavam "muito encorajados" pelo progresso do rei, mas que a agenda seria ajustada conforme necessário para proteger a recuperação.
Durante a ausência, Carlos III suspendeu as atividades públicas, mas prosseguiu as funções constitucionais de monarca constitucional, que incluem a assinatura de leis, reuniões regulares com o Primeiro-Ministro e a aprovação de determinadas nomeações.
Nove meses após a coroação, em maio de 2023, o anúncio da doença constituiu, em si mesmo, uma pequena revolução, rompendo o secretismo que rodeou a saúde dos membros da família real até então.
Além de constituir uma oportunidade para se aproximar dos súbditos ao assumir a sua vulnerabilidade enquanto mortal, a decisão de partilhar as notícias aumentou a sensibilização para os benefícios do diagnóstico precoce e do tratamento do cancro e de outros problemas de saúde.
O Serviço Nacional de Saúde de Inglaterra revelou que o número de pessoas que procuraram aconselhamento sobre problemas de próstata aumentou 11 vezes nas semanas que se seguiram ao anúncio de Carlos de que estava a ser tratado.
O rei, que sempre foi muito ativo, estava aparentemente impaciente por retomar as suas atividades públicas.
Mas o cancro, do qual não está curado, vai continuar a ensombrar um reinado pelo qual Carlos III, de 75 anos, esperou a vida inteira.
O ano de 2024 tem sido particularmente difícil para a monarquia britânica.
Para além do monarca, também a princesa de Gales, Kate Middleton, sofre de cancro, detetado após uma cirurgia abdominal em janeiro.
A princesa de 42 anos, considerada a "estrela" da família real, só confirmou sofrer da doença a 22 de março, após semanas de especulação.
Num vídeo emotivo, Kate confiou que estava a ser submetida a quimioterapia preventiva, mas não especificou a natureza do seu cancro e desde então, o Palácio de Kensington, que gere as suas comunicações e as do marido, o príncipe William, herdeiro do trono, não deu mais notícias.
Sarah Ferguson, 64 anos, ex-mulher do príncipe André, irmão do rei, já tinha revelado a 21 de janeiro que sofria de melanoma maligno, um cancro de pele.
Antes dos problemas de saúde na família real, os primeiros meses do reinado de Carlos III já tinham sido perturbados por outros dramas familiares.
No ano passado, o filho Harry, que deixou a família real para se instalar na Califórnia com a mulher Meghan, escreveu uma autobiografia muito crítica, "Na Sombra", criando tensões.
O irmão mais novo do rei, o príncipe André, continua impedido de desempenhar qualquer papel oficial e já não pode usar o seu título de Sua Alteza Real devido à acusação por uma mulher de agressão sexual quando ela tinha 17 anos.
O caso terminou num acordo financeiro, que evitou um julgamento embaraçoso, mas deixou André manchado e a família real exposta.
Coroado a 6 de maio de 2023, Carlos III tem-se esforçado por dar uma imagem mais moderna a uma monarquia que ele quer mais adaptada aos tempos, um desafio para um rei muito dinâmico mas idoso, menos popular do que a sua mãe, a quem falta o brilho e a dimensão histórica.
Algumas das suas primeiras visitas foram marcadas por manifestações antimonárquicas, inimagináveis no tempo de Isabel II.
Conhecido pelas paixões pelo ambiente, desenvolvimento sustentável, medicina alternativa, vida rural e religião, durante anos as crises da sua vida privada ofuscaram as ações deste homem rico, de voz baixa, sempre impecavelmente vestido.
O divórcio com a princesa Diana em 1996 foi notícia em todo o mundo, amplificado pela morte da ex-mulher num acidente de viação em Paris, um ano depois.
Teve de esperar quase uma década até casar com o amor da sua vida, Camilla, em 2005, numa cerimónia civil na Câmara Municipal de Windsor, sem a presença da mãe.
Ironicamente, a rainha, de 76 anos, que também foi coroada em 6 de maio, tornou-se nos últimos meses um baluarte da monarquia.
Os sucessivos problemas de saúde reduziram para quase metade o número de membros ativos da família real e Camilla passou a estar na linha da frente, com numerosos compromissos todas as semanas.
A abdicação surpresa da rainha Margarida II da Dinamarca no início deste ano gerou alguma especulação sobre se tal seria possível no Reino Unido tendo em conta a idade de Carlos III, e, agora, o estado de saúde.
Outros monarcas europeus abdicaram na última década: o rei Juan Carlos de Espanha em 2014, a rainha Beatriz dos Países Baixos e o rei Alberto II da Bélgica, ambos em 2013.
Mas a atual situação da nora torna improvável que decida passar já o testemunho ao filho William.
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