É no número 27 da rua Dom Francisco Gomes, em Faro, que está localizado aquele que, durante décadas, foi considerado por muitos o prédio mais feio da capital algarvia. Hoje, o edifício modernista, que desde a primavera de 2021 alberga o The Modernist, tem uma estética bem diferente. Depois de anos e anos de má fama, tem agora o bom proveito de ser um refúgio para os amantes de arquitetura e de acolher hóspedes que procuram um conceito de hotelaria diferente e valorizam os prazeres mais simples da vida.
A possibilidade de tomar um banho de chuveiro num terraço com uma vista privilegiada para a Ria Formosa é um dos atrativos do The Modernist. Está, todavia, longe de ser o único. Os seis apartamentos com uma área média de 45 metros quadrados não são todos iguais. Uns têm uma varanda, outros um pequeno terraço, mas todos eles garantem o acesso ao verde pátio interior e ao rooftop principal, o local perfeito para apanhar banhos de sol e/ou observar o reboliço da cidade com distanciamento social.
O prédio onde hoje funciona o The Modernist é um dos cerca de 500 edifícios modernistas de Faro. Idealizado no início da década de 1970 pelo arquiteto Joel Santana, preserva ainda o espírito original e (muitos) elementos estéticos do movimento popularizado por arquitetos como Manuel Gomes da Costa, Oscar Niemeyer, Le Corbusier e Franck Lloyd Wright. Mas o projeto desenvolvido pelo gabinete de arquitetura PAr, com delegações em Lisboa e em Olhão, modernizou-o.
As janelas originais foram mantidas, muita da pedra e da madeira também. As renovações delineadas pela empresa, que em 2017 ganhou um importante prémio internacional, apostaram em novas maçanetas e novas soluções de iluminação e noutro tipo de cortinas e de mobiliário em madeira de fabrico artesanal para valorizar o(s) espaço(s) interiore(s). O resultado é uma estética minimalista com um caráter intemporal, como pode comprovar na galeria de imagens que se segue.
Para além de não ter virado costas ao passado, apesar da má imagem que o edifício que ocupa tinha, o The Modernist tem os olhos postos no futuro, não descurando uma preocupação que muitos já vão tendo no presente. Preocupados com a sustentabilidade ambiental do planeta, os promotores do projeto criaram uma unidade hoteleira que se esforça por reduzir ao máximo as emissões de dióxido de carbono. Promover a economia local, demasiado dependente do turismo sazonal, é outra das ambições.
No rés-do-chão do edifício de quatro andares, com dois apartamentos por piso, funcionam dois dos estabelecimentos comerciais mais populares das redondezas, a livraria Bertrand e a loja da sorte Campião. É a partir da porta de um deles que muitos hóspedes iniciam o percurso a pé alternativo para conhecer ou revisitar a cidade que a direção do estabelecimento delineou para os que gostam de caminhar. Os que gostam de jogos têm um à disposição, com blocos de madeira para fazer construções.
Com apartamentos pensados para casais, grupos de três adultos e famílias com dois adultos e duas crianças com cozinhas equipadas, ligação Wi-Fi e zonas de trabalho, o The Modernist é o poiso perfeito para umas férias diferentes ou para uma estadia em regime de emprego remoto, agora tão em voga. Para além de não aceitar animais domésticos, exige, à semelhança de outras unidades hoteleiras, a estadia de, pelo menos, duas noites. Existem preços a partir dos 120 € por noite. Não tem refeições incluídas.
O The Modernist é um projeto de Christophe de Oliveira e Angelique de Oliveira, dois franceses apaixonados por arquitetura e design. Há uma década e meia que os proprietários dedicam a vida a comprar edifícios que foram palco de artes ou de ofícios e que recuperam para dar a conhecer a sua história aos hóspedes, a maioria em Paris. Numa viagem a Portugal, em 2016, visitaram Faro e viram beleza onde outros (só) viam feiura. Reconheceram valor no património arquitetónico que hoje dignificam.
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