No campo é que se está bem… A frase certamente que não lhe é estranha. Muito provavelmente, até já a ouviu mais do que uma vez. Nos últimos anos, uma franja da população citadina, cansada do reboliço da cidade tem vindo a procurar formas de escape e evasão longe dos grandes centros urbanos. Uma tendência que tem vindo a espoletar novos nenócios. O setor do turismo rural é um dos que mais tem crescido.

A Quinta dos Perfumes (na imagem de cima), outro dos negócios florescentes, é um agroturismo, em Cabanas, no Algarve, com sete quartos e cinco suites. Localizado numa propriedade agrícola com 36 hectares, onde a cultura predominante são os citrinos, tem uma piscina de água salgada e pratica preços a partir dos 85 € por noite. Exemplos de espaços como este não faltam, de norte a sul do país.

O Artvilla (na imagem central) é um desses exemplos. Este turismo rural parece uma pequena aldeia com quatro casas independentes, onde existem quartos, estúdios e habitações de tipologia T1 e T5,  viradas para um pátio com forno  a lenha, churrasqueira e piscina. Situa-se no Cadaval, tem como pano de fundo  a Serra de Montejunto e pratica preços a partir dos 70 € por noite.

O campo é cool

A necessidade de procurar o futuro sem desvalorizar o passado

Na Aldeia Nova, em Miranda do Douro, há um turismo rural que vive entre o passado e o presente. O primeiro é visível na traça arquitetónica exterior, o segundo na decoração escolhida para o interior. A Casa dos Edras tem sete quartos, um deles para famílias. Pratica preços a partir dos 60€ por noite. Um valor abaixo ao cobrado nas Cabeças do Reguengo Localizada a 600 metros de altitude, na Serra de São Mamede.

Este agroturismo tem 11 quartos e uma pequena adega tradicional, onde ainda se faz vinho. A paisagem é pincelada de vinhas, oliveiras e árvores de fruta, tudo em modo  de produção biológico. As habitações estão disponíveis a partir dos 75€ por noite. Mais 25 € custa dormir na Pensão Agrícola.

Entre Tavira e Cacela Velha, no Algarve, encontra-se um alojamento rural numa pequena, mas encantadora, quinta. Os seis quartos e as áreas comuns estão decorados com objetos que guardam a memória deste local construído em 1920. Um pormenor importante para os que não dispensam um bom mergulho é que o tanque que faz a vez da piscina, é aquecido no inverno.

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Sentir os sabores do campo no mercado

Os novos mercados que têm vindo a surgir em várias zonas do país também são um reflexo desta nova onda campestre. O Mercado da Ribeira, em Lisboa, sofreu uma remodelação em 2014, ficando com uma área grande de restauração, sem perder a área de frescos com as tradicionais bancas de legumes, fruta e peixe. Na área dos restaurantes, uma das últimas novidade é o espaço do chef Gemelli, Mozza & Co., especializado, como o nome indica, em mozzarella nas suas diversas formas, que pode comer ali mesmo ou, então, levar para casa.

No Mercado Municipal de Matosinhos (na imagem de baixo), o peixe é rei ou não estivéssemos em Matosinhos, terra de pescadores, mas, das redondezas, vêm também os vegetais, a fruta e as flores. Existe, igualmente, uma parte de restauração com a Taberna Lusitana, o Comida de Rua ou o Sushi do Mercado, lojas diversas e a Galeria Quadra. No Mercado da Vila No Mercado de Cascais, o destaque também vai para o peixe, que ocupa o espaço central interior.

À quarta-feira e sábado, há o mercado saloio com os restantes produtos agrícolas. Com as obras do mercado vieram outros negócios, como a loja de chocolates Siopa Chocolatier com bombons artesanais, pintados à mão, e alguns restaurantes como o Marisco na Praça. Mais a norte, o Mercado do Bom Sucesso, no Porto, também já aderiu à tendência.

A parte central deste edifício na cidade do Porto tem várias tasquinhas para petiscar (a francesinha em forno de lenha é uma das especialidades), mas os frescos não foram esquecidos. Não faltam a carne, a fruta, os legumes (aqui também pode encontrar leguminosas, especiarias e ervas aromáticas vendidas ao quilo) e o peixe.

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Mercados de rua

Além de ter havido uma renovação dos mercados tradicionais, os de rua também são cada vez mais e com muita variedade de produtos. Exemplo disso são os mercados de rua que decorrem no Jardim da Estrela em Lisboa (Crafts &Design), a Feira dos Produtos de Agricultura Biológica (aos sábados de manhã, entre as 09h00 e as 15h00, no Príncipe Real, em Lisboa) e o Mercado de Porto Belo na Praça Carlos Alberto, no Porto, que se realiza todos os sábados e que até já tem uma página no Facebook.

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Estilo campestre

Esta nova febre campestre não se resume, contudo, aos mercados de frutas e legumes. Algumas das tendências para as estações mais frias do ano parecem ter saído diretamente de uma quinta, tais como o xadrez, as jardineiras e as calças de ganga, as lãs e, claro, as galochas, os ténis e as cestas para ir às compras ou apanhar os vegetais na horta. A Betty Barclay é uma das marcas que já se rendeu ao estilo do campo.

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Livros na quinta

O campo também é o cenário para vários romances. A Livros Brasil reeditou recentemente «A Aldeia de William Faulkner», ambientado numa aldeia do sul dos Estados Unidos da América e que retrata a assustadora família Snopes. Em «Um Brinde ao Amor» de Laura Dave, publicado em Portugal pela Topseller, o cenário é uma quinta californiana, onde se destaca a vinha, para onde Georgia, a protagonista, regressa uma semana antes de casar para descobrir vários segredos que a fazem pôr tudo em causa.

Sabores biológicos

O modo de produção biológico não recorre ao uso de pesticidas, adubos químicos, nem organismos geneticamente modifi cados. Além disso, na agricultura biológica há um respeito pelo ciclo da natureza, produzindo-se os alimentos da época. Daí que não seja de estranhar que os produtos provenientes da agricultura biológica sejam mais ricos em nutrientes e tenham mais sabor que os produzidos na agricultura dita normal.

Da fruta aos vegetais, passando pelo chá e pelos cereais, terminando no azeite, há uma panóplia grande de produtos com o selo bio, nos mercados, nas lojas especializadas e também em supermercados e hipermercados. Nos últimos anos, várias cadeias de lojas têm vindo a reforçar a aposta neste tipo de produtos, aumentando a sua presença nas suas bancas de frescos.

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O fenómeno das quintas urbanas

As hortas urbanas deixaram de ser um mero passatempo. Nos últimos anos, o número de vegetais cultivados em varandas, canteiros e talhões disparou. A nível empresarial, também surgiram vários projectos. No centro de Lisboa, a empresa Quintal Urbano produz micro-vegetais e tudo começou num terraço em Alcântara que agora se estende para uma estufa nos arredores da cidade.

Produzem para vários restaurantes. Mas, a este nível, há outros projectos que se distinguem. Desperdício zero é o mote da Sustenta, uma horta urbana no Centro Comercial Miguel Bomborda, no Porto, que pratica uma agricultura sustentável, que tem como base a reciclagem e a poupança de água. Vendem produtos hortícolas, mas também pão, compotas, cogumelos, entre outros. Também fazem workshops.

O campo é cool

Texto: Rita Caetano