Apesar de sofrer de uma doença degenerativa que lhe vai limitando cada vez mais os movimentos há 16 anos, continua a desafiar-se, recusando-se a baixar os braços. No passado dia 4, Yves Auberson, um empresário de 51 anos, partiu de Montreux em direção a Montbovon, na Suíça, naquela que foi a primeira etapa da caminhada que decidiu empreender e que o vai levar a tentar alcançar algumas das principais montanhas alpinas em território suíço. Um périplo de mais de três meses que o vai pôr à prova.
Durante 100 dias, Yves Auberson, que foi jogador de golfe profissional e também trabalhou como preparador físico, espera conseguir percorrer cerca de 1.000 quilómetros, antes de regressar a casa em setembro. A intenção inicial era sair da cidade de Zermatt em direção a Nice, no sul de França, mas a pandemia viral de COVID-19 obrigou-o a rever o projeto. Para o poder concretizar, lançou uma campanha de angariação de fundos online. Conseguiu 8.970 francos suíços, cerca de 3.800 euros.
"A doença não nos deve condenar à inatividade", defende. Apaixonado por desporto desde sempre, nunca desistiu de participar em corridas e em provas de triatlo, ainda que a patologia de que sofre o tenha obrigado a readaptar os treinos à sua condição física. "Os campos desportivos sempre me atraíram mais do que os bancos de escola", desabafa Yves Auberson. Foi em 2004 que os primeiros sintomas de parkinson se começaram a manifestar. Ia fazer 35 anos. Para além de ter tremores nos membros superiores, foi perdendo o olfato e tornou-se mais depressivo.
"De início, não ligamos ou tentamos arranjar desculpas mas, depois, os anos passam e a doença progride", lamenta o preparador físico, que continua a praticar entre dois a quatro desportos por dia. Entre os sinais iniciais e o diagnóstico oficial mais temido decorreram quatro anos. Assim que obteve a confirmação, despediu-se. "Foi um choque", admite o suíço. Decidiu, então, pegar na família e dar a volta ao mundo, de mochila às costas, com a mulher e os filhos, que tinham na altura cinco e onze anos.
A companheira apoiou-o. "Demorámos quase dois anos a preparar a viagem. Vendemos a casa e os carros, ela pediu a demissão, suspendemos as matrículas das crianças, encontrámos um novo dono para o nosso gato, tratámos de burocracias, seguros e impostos e pedimos a um conhecido para receber a nossa correspondência", recorda. "Dizem que as viagens longas mudam as pessoas e essa é a mais pura das verdades", reconhece Yves Auberson. Em 2011, no regresso, abre um centro de preparação física.
Em 2018, cinco anos após o pedido de divórcio da mulher, tem um grave acidente de mota. "Vi a morte de muito perto", confessa. Duas costelas partidas, duas clavículas fraturadas, um pneumotórax e uma hemorragia pulmonar atiram-no para uma cama de hospital. É durante a fase de recuperação que tem a ideia de fazer a caminhada de 1.000 quilómetros que agora iniciou. "O corpo é uma máquina que precisa de se mexer para não enferrujar. O exercício trava a progressão da doença", garante Yves Auberson.
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