Não consigo recordar-me de missão mais nobre do que transmitir conhecimentos, a não ser, talvez, a de salvar vidas. Se bem que ensinar é também isso: resgatar vidas à ignorância que torna os seres frágeis e indefesos.

Qualquer civilização sã e próspera tem que se alicerçar em pessoas com conhecimentos e uma capacidade de pensar suficientemente consolidados para executarem condignamente o seu

papel não só na vida profissional como na sua participação social.

Recuso-me a acreditar (ingenuamente talvez) que o poderio que nos tem governado tenha interesse num povo embrutecido por um ensino decadente, antiquado e desajustado à realidade galopantemente mutável destes tempos que vivemos.

Recuso-me a acreditar que não se abram, em breve, os olhos de quem manda, e que os professores tenham que continuar a perder tempo e energia a preencher quilos de papel e a tentar provar que estão aptos para ensinar, em vez de se poderem dedicar ao que já pouco têm hipótese de fazer.

Andei na escola entre 1980 e 1997. Não foi assim há tanto tempo. Nem digo que fosse perfeito. Levei duas reguadas, aprendi alguma coisa e nunca os meus pais questionaram a autoridade e razão dessas pessoas fantásticas cujos nomes, vozes e caras continuo a recordar.  Nessa altura havia testes e classificações. Quem sabia passava, quem não sabia chumbava. E depois ia-se de férias sem mais exames-palhaçada.

As aptidões dos professores mudaram? Não me parece. Mudou a sua motivação e energia. Mudou a sua atitude heróica, vencida pelo desrespeito vindo de todos os lados; espancada por currículos desajustados; esmagada pelos quilos de papeis a preencher e provas a dar às pessoas erradas! Os mestres existem para os discípulos. A escola serve para os alunos aprenderem e isso implica deixar os professores ensinar! Parece-me bastante simples.

Se concordo com esta greve? Isso não é importante. Há razões e desrazões de parte a parte. Só é pena que se tenha que chegar ao ponto de tentar solucionar a educação de um país com braços de ferro que prejudicam, mais que tudo, aqueles que era suposto serem os beneficiários da educação.

O certo é que cada vez mais me apercebo que o ensino é, para quem nele manda, um jogo que se joga à sorte, com o despudor de quem não quer ver a sua importância. É isto que me leva a crer que se não começar eu a tomar seriamente nas minhas mãos a formação dos meus filhos, poucas hipóteses terão de obter sólidas bases. É triste. De todas as formas possíveis.

Ana Amorim Dias

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