Formado em Engenharia, o espanhol Marcos Vázquez procurou desde muito cedo formas de otimizar o seu treino físico e a alimentação. Hoje, é um dos maiores divulgadores de saúde em língua espanhola, com diversas certificações em Nutrição e disciplinas como Treino Pessoal, CrossFit ou Treino Funcional. No país vizinho, o podcast Radio Fitness Revolucionario, conduzido por Marcos Vázquez, conta com mais de 400 mil ouvintes, a que se juntam mais de um milhão de seguidores nas várias redes sociais. A Portugal, o também autor, apresenta-se com o livro Viver Mais – Como Reduzir a Idade Biológica e Aumentar a Vitalidade (edição Contraponto).

Nas páginas da presente obra, o autor sublinha que para retardar o envelhecimento a “chave está no que fazemos todos os dias, os nossos hábitos”. Para Vázquez, os pilares do antienvelhecimento saudável passam pelo exercício físico, uma boa alimentação e uma mentalidade jovem. O autor destaca que “se a nossa idade cronológica avança sempre à mesma velocidade e na mesma direção, a nossa idade biológica é muito mais flexível e moldável, e pode inclusive retroceder”.

Para o efeito Marcos Vázquez, assenta o seu programa de rejuvenescimento e também os princípios que traz para o livro em diferentes dimensões, nomeadamente o aumento da força e resistência físicas, o efeito que o jejum intermitente, a frequência de saunas ou de banhos de água fria têm, realmente, na nossa saúde e o reforço do sistema imunitário.

Alguns entre os temas que trazemos para esta entrevista.

Na apresentação que nos é feita sobre si no livro diz-se que se “considera um estudante do funcionamento do corpo humano”. Quando e como nasceu este seu interesse pelo funcionamento do nosso corpo e como nasceu o programa Fitness Revolucionário?

Desde jovem que me interesso por saúde e desempenho, mas só em 2011 é que comecei a partilhar a minha experiência na área da saúde na Internet. Passei muitos anos a rever literatura científica e vi que muitos dos conselhos clássicos de saúde que a população recebe não são suportados por provas reais.

Com o objetivo de partilhar tudo o que aprendi, nasceu o programa Fitness Revolucionário, uma tentativa de fazer chegar à população em geral o que há de mais recente na ciência e na investigação sobre saúde. Isto, com base em protocolos simples e compreensíveis.

Escreve no seu livro que “nas últimas décadas, a medicina tem prolongado a vida à custa da agonia”. Porquê? Estamos a viver mais, mas a viver pior?

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Vários estudos indicam que estamos a viver mais tempo face ao passado, mas também que estamos a viver mais tempo com diferentes doenças e carências.

A medicina moderna tem tido muito sucesso em manter vivas pessoas doentes, mas não tanto em manter pessoas saudáveis ​​vivas. E este é o desafio, não só o de prolongar a esperança de vida, mas também a qualidade dessa vida adicional.

Sublinha que há investigadores que consideram o envelhecimento como uma doença. Nesse sentido, podemos considerar que há forma de tratar essa doença, ou mesmo curá-la? Ou, no presente, é mera especulação?

Há um debate sobre este tema na comunidade científica. Considerar o envelhecimento como uma doença permitiria que mais recursos fossem dedicados à sua investigação. E ao retardar o envelhecimento estaríamos a adiar quase todas as doenças crónicas modernas.

De qualquer forma, não existe uma “cura” para o envelhecimento em si, mas existem hábitos e intervenções que podem atrasar este processo e prolongar a juventude.

Um dos objetivos do seu livro é o de prolongar a nossa vida, mas também a juventude. Associa-o à vitalidade. O que se entende por vitalidade e como evolui ao longo da nossa vida?

A vitalidade é a capacidade de enfrentar o dia com energia e sem limitações. Está relacionada com a nossa força, resistência, clareza mental e bem-estar emocional. À medida que envelhecemos, a vitalidade diminui, mas a boa notícia é que podemos modular este declínio com hábitos adequados.

Refere a idade aparente, a idade percebida, a idade funcional e a idade epigenética. O que as distingue?

Na sua essência, todas são tentativas de estimar a chamada idade biológica, que seria o verdadeiro reflexo da nossa saúde. Duas pessoas com a mesma idade cronológica podem ter idades biológicas muito diferentes, e é essa a idade que realmente importa.

Para estimar a idade biológica, é geralmente utilizada uma combinação de fatores, como a sua idade aparente, ou seja, quantos anos as pessoas que não o conhecem pensam que tem; a sua idade percebida, isto é, se se sente mais jovem ou mais velho do que a sua idade cronológica; a sua idade funcional, que se traduz no seu nível de força, capacidade cardiorrespiratória, entre outros fatores, por comparação com as pessoas da sua idade e, finalmente, a sua idade epigenética, determinada através de um exame ao sangue, capaz de avaliar as marcas epigenéticas das suas células.

Por exemplo, uma pessoa de 50 anos pode ter a mesma aparência, sentir-se e ter o mesmo desempenho físico que uma pessoa de 40 anos, o que indica que a sua idade biológica está mais próxima desta última.

No livro refere que os “bons hábitos podem estender a longevidade por mais de uma década, mas são capazes de prolongar a vitalidade até ao dobro”. O que se entende por bons hábitos?

Existem muitos, mas se tivéssemos de destacar os principais seriam a atividade física, a alimentação saudável, não beber muito álcool nem fumar, dormir o suficiente, gerir bem o stresse, manter boas relações sociais e ter uma atitude positiva.

O exercício físico é o melhor tratamento para o envelhecimento?

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O exercício físico é, certamente, o mais próximo que temos de uma ‘pílula antienvelhecimento’. Mantém a massa muscular e óssea, protege o cérebro, melhora a mobilidade e reduz o risco de doença. Diria que qualquer forma de exercício ajuda, mas combinar treino de força e trabalho cardiovascular oferece o maior benefício.

Uma pessoa treinada de 70 anos pode ser mais forte e resistente do que uma pessoa sedentária 30 anos ou mais nova. Não existe nenhum comprimido, cirurgia ou dieta que ofereça algo semelhante.

Em seu entender existe a dieta alimentar perfeita?

Não existe uma dieta única perfeita, mas existem princípios universais que todas as boas dietas partilham: dar prioridade aos alimentos reais, evitar alimentos ultraprocessados ​​e comer vegetais e proteínas de qualidade em quantidade suficiente.

Considerando os princípios acima descritos, existe bastante liberdade em relação aos alimentos específicos a combinar ou às percentagens exatas de gordura ou hidratos de carbono. O importante é que seja uma dieta que consiga manter a longo prazo e que ajude a manter um peso saudável.

viver mais
viver mais créditos: Contraponto

É a favor das terapias de reposição hormonal? Porquê?

Durante décadas, houve muito medo em relação às terapias hormonais, porque se pensava que poderiam aumentar o risco de doenças como o cancro ou as doenças cardiovasculares.

No entanto, estudos recentes de grande dimensão indicam que, se estas terapêuticas forem bem planeadas e monitorizadas adequadamente, os benefícios compensam os riscos na maioria dos casos e podem melhorar muito a qualidade de vida das pessoas que as utilizam.

Mas, claro, tem de ser orientado por um profissional atualizado no assunto.

Leva para o seu livro um conjunto de compostos que poderão prolongar a vida. Quer, em breves palavras, falar-nos destes compostos?

No livro, analiso vários compostos e suplementos que atacam diretamente alguns dos mecanismos celulares através dos quais o envelhecimento progride. Por exemplo, a espermidina promove a autofagia ou o sistema de reciclagem celular, a glicina aumenta a produção de glutationa, o nosso principal composto antioxidante.

Também é verdade que a maioria dos estudos foram conduzidos em animais. Nos humanos ainda temos poucas evidências, mas o que há é promissor. De qualquer forma, o mais importante é melhorar todos os hábitos que referimos anteriormente.

Quer partilhar com os leitores portugueses um pouco do seu percurso neste caminho de redução da idade biológica e aumentar a vitalidade?      Como tem evoluído e como se sente?

A minha evolução é fruto da experimentação e da procura constante de melhores protocolos e ferramentas. Tento aplicar o que aprendo, não apenas na teoria, mas na minha vida diária. Aos 48 anos, sinto-me mais enérgico, mais forte e mentalmente mais claro do que quando tinha 35 anos. E espero que os meus novos leitores em Portugal também possam experimentar esta evolução.