Não faz muito sentido enumerar uma e outra vez os incontáveis rombos que este nosso navio luso tem no casco; nem os buracos que tem nas velas ou os mastros que estão quebrados. Da mesma forma que também já de pouco serve perguntar como foi que os timoneiros que o comandam e comandaram ao longo das últimas décadas puderam transformar Portugal neste país acidentado. Como foi que se permitiu a homens que nem remar sabiam que fossem os comandantes? Quando é que começamos a adornar de forma tão acentuada sem que se tomassem medidas coerentes e sem que houvesse um único marinheiro capaz de segurar este leme?
Não tenho resposta. Mas também devo ser culpada pois sou adulta, racional e eleitora.
Mas o que realmente quero dizer é que há algo muito importante que ninguém pode esquecer: nós não somos só um país, somos uma nação! E o bem mais valioso deste navio metafórico são os seus Homens.
Além de um país pacífico, de belas paisagens, monumentos e tradições seculares, somos uma equipa fantástica de pessoas boas e corajosas. Somos muito mais do que uma soma de sofredores tolerantes: somos a tripulação em apuros de navio que foi contra as rochas. Somos todos marinheiros, de bravo gene ancestral, capazes de estóicos feitos. E parece que chegou a hora de mostrarmos de novo o valor; de nos refazermos com recurso à nossa astúcia, aos nossos inventivos recursos e à nossa condição de eternos conquistadores.
Seria bom unir-nos mais ainda, enquanto marinheiros deste barco, com demostrações de altruismo e mútuo apoio, enquanto tentamos avaliar os estragos e reparar o navio. Seria bom que, enquanto tentamos sobreviver aos ferimentos pessoais, tentássemos simultaneamente trazer de novo à vida o orgulho de ser Português, num sentimento coletivo de abraço a tudo o que de bom corre no nosso lusitano sangue.
Seria bom que, apesar de toda a preocupação, angústia, injustiça e perda, mantivéssemos a capacidade de continuar a transmitir esperança aos mais novos; a capacidade de apreciar a arte, de nos alegrarmos com a música e de sorrir sem motivo… quanto mais não seja uns aos outros.
Um forte abraço a todos,
Ana Amorim Dias
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