As mais recentes investigações científicas na área da psicologia “parecem mais equilibradas” no que à pornografia diz respeito, já que se interessam “tanto pelos alegados efeitos negativos como pelos alegados efeitos positivos”, escreve Meg Barker, do departamento de Psicologia da Open University, no Reino Unido. “Muitos especialistas e académicos reconhecem qualidades didácticas na pornografia, mas não existe consenso sobre aquilo que a pornografia ensina aos seus consumidores e de que forma o faz”, diz Kath Albury, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália.
Eis algumas das conclusões dos artigos publicados no primeiro volume da revista “Porn Studies”, que está online, de forma gratuita, desde 25 de março. É a “primeira revista internacional com revisão científica exclusivamente dedicada à pornografia”, classifica a editora, a prestigiada Routledge.
O tom geral dos 29 artigos agora publicados é o de que o mundo porno está muito pouco estudado e faltam indicadores quantiativos e qualitativos. “A pornografia tem vindo a tornar-se uma parte importante da vida de muitas pessoas, mas sabemos muito pouco sobre o que isso significa para elas. A forma como a pornografia é produzida e distribuida mudou de forma rápida e radical, mas muito do debate sobre essas mudanças é baseado apenas em suposições”, lê-se na introdução da revista.
“Porn Studies” é dirigida pelas britânicas Feona Attwood, professora de Estudos Culturais na Universidade de Middlesex, e Clarissa Smith, professora de Culturas Sexuais na Universidade de Sunderland.
“É um projeto ambicioso”, assumia Clarissa Smih, no ano passado, quando se anunciou a publicação da revista. “Queremos acolher investigadores que se debrucem sobre todas as pornografias, antigas ou atuais. Vemos a pornografia como uma indústria e uma profissão, um género cultural, uma forma de relação entre as pessoas, um lugar de exposição de fantasias e desejos do quotidiano.”
De acordo com a mesma investigadora, os Estudos Porno começaram nos anos 90 e relacionam-se com outras categorias académicas como os Estudos Queer e de Género e os Estudos Culturais. “Há um interesse crescente pela análise de todas as formas de cultura popular em termos de produção, consumo e representações”, diz Clarissa Smih.
O lançamento da revista foi anunciado em maio do ano passado. E poucas semanas depois já tinha sido criada na internet uma petição contra a revista, por as suas responsáveis, alegadamente, não terem uma visão distanciada da pornografia e lhe serem favoráveis.
Um dos artigos agora publicados – “The ‘Problem’ of Sexual Fantasies” (“O ‘Problema’ das Fantasias Sexuais”), de Martin Barker, da Universidade de Aberystwyth, no Reino Unido –, baseia-se num inquérito “online” feito em 2011 e ao qual responderam 5.490 pessoas, a maior parte das quais entre 18 e 45 anos.
À pergunta sobre os motivos que levam ao consumo de pornografia, as quatro respostas maioritárias (de um conjunto sugerido aos inquiridos) foram: “quando sinto excitação”, “quando sinto aborrecimento, não consigo dormir nem descontrair”, “porque quero sentir excitação” e “para reforçar os meus interesses sexuais”. O artigo não apresenta percentagens, mostra apenas tendências gerais. Ainda assim, faz notar que houve mais homens a responder à primeira hipótese e mais mulheres a responder à terceira, o que pode indicar, lê-se, que as mulheres utilizam a pornografia por “desejarem ter desejo”.
Bruno Horta
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