Em 2008, Marita Setas Ferro criou a marca Marita Moreno, mas a grande evolução só se deu em 2015 quando se candidatou ao Portugal 2020, um programa de financiamento com fundos europeus. «A marca existe há nove anos. Sofreu um rebranding há dois, precisamente quando eu avancei com as candidatura ao projeto, com vista à sua internacionalização», explica em entrevista ao Modern Life/SAPO Lifestyle.
Nessa altura, a escultora lançou uma linha de sapatos e de malas. «Anteriormente, fazia apenas peças de vestuário. Agora, redirecionei o meu esforço para a área do calçado e das bolsas, embora ainda vá fazendo umas esculturas nos meus tempos livres», revela a fundadora e diretora criativa da marca que, no último par de anos, já se conseguiu internacionalizar.
«Tenho as minhas criações à venda numa concept store em Berlim, em Londres, em Nova Iorque e ainda num showroom em Los Angeles», afirma, visivelmente orgulhosa, Marita Setas Ferro. Em Portugal, as peças com a sua etiqueta podem ser encontradas na lojas The Fitting Room em Lisboa e no Porto, na loja GUD no Porto e na loja ID Concept Store em Braga ou ainda na loja online que criou.
Sapatos que combatem o preconceito
A escultura foi um dos seus primeiros amores artísticos mas os seus interesses há muito que não se esgotam apenas nessa arte criativa. «Tal como qualquer mulher, os sapatos são uma paixão mas são-no, sobretudo, porque são um objeto e eu trato o sapato com se fosse um objeto escultórico. Para mim, o sapato é mesmo isso», afiança Marita Moreno, como também, por vezes, a tratam.
«Colors of the world», inspirada nas cores do mundo, é o nome da coleção de calçado que lançou para a primavera/verão de 2017, constituída por quatro linhas. Uma delas, «What about skin», «levanta questões sobre o racismo, sobre a cor da pele e sobre questões que acabam por não ser questões nenhumas. A cor da pele é uma cor como outra qualquer», defende a designer.
Essa linha integra quatro modelos, a que chamou «Norte», «Sul», «Este» e «Oeste», onde predominam cores como o branco, o castanho, o cor de laranja e o amarelo. «São precisamente esses os pontos cardeais e são cores que utilizo. Cores bonitas e sem qualquer conotação de raça ou de local no mundo», diz. «Tenho sempre que ter uma história por trás das coleções», afirma ainda.
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Os materiais usados na linha de sapatos vegan
A inspiração para a criação de novos modelos de calçado e de bolsas pode vir de onde menos se espera. «Tenho a [linha] Dali, que é baseada num quadro de Salvador Dali, que é todo distorcido. É uma coleção de homem», sublinha Marita Setas Ferro, que tem a sua oficina de produção sediada em Lourosa e o escritório e o showroom em Arcozelo, no norte do país.
Um dos seus maiores orgulhos é, no entanto, a linha de sapatos vegan que criou, «sem qualquer componente animal», como faz questão de frisar. «Utilizo a cortiça, têxteis portugueses e borracha, todos fabricados em Portugal», esclarece a empreendedora. A diferença está, sobretudo, nos materiais. «Utilizo sola de borracha e têxtil de cortiça, que também é feito em algodão, aqui», refere.
O preciosismo vai ao ponto de usar linha de coser fabricada sem cera de abelha, ao contrário da habitual. «O forro é microfibra, um componente artificial que nada tem de componentes animais e, de resto, uso acrílicos e borrachas, tudo componentes vegetais ou artificiais de base industrial, que não integram nenhum componente animal», assegura a antiga professora de design de moda na Escola Árvore, no Porto.
As nuvens do céu como inspiração
Visualmente atrativas, muitas das peças produzidas por Marita Moreno chegam a exibir um grau de excentricidade acima da média, como é o caso das que integram a linha «Summer clouds». Disponível em versão masculina e feminina, apresenta modelos baseados nas formas das nuvens. «São peças um bocadinho mais artísticas, objetos que transportam alguma arte», descreve.
«E algum património português. Alguma cultura portuguesa», acrescenta ainda. Em «Oporto», um sapato da linha «What about skin», recriou os azulejos do Porto em couro. «Na linha vegan, são os têxteis portugueses», explica. Na «Shell», conjuga a renda de Felgueiras com a cortiça. «Continua a ser uma linha vegan mas é uma edição especial muito delicada», diz.
A peça de renda de filé com cortiça que também surge na coleção primavera/verão 2017 resulta de «um concurso de adereços com novas tecnologias», confidencia a designer. «Juntei um componente altamente tecnológico, como é a cortiça, a um componente altamente artesanal, como é a renda de filé. É artesanato puro!», orgulha-se Marita Moreno.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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