Começou a apresentar o Entre Nós, na SIC Mulher, em Setembro de 2010, um programa que a tem ajudado a crescer enquanto pessoa e enquanto apresentadora. No entanto ser mãe está a ser o melhor e o mais relevante papel da sua vida, o único por quem vale a pena abdicar de muitas coisas importantes. Adelaide revela nesta entrevista o prazer da maternidade mas também o de entrevistar pessoas que fazem a diferença no mundo.

Sente-se confortável neste registo de programa de entrevistas?
Agora já é. No início não tanto, mas com o passar do tempo, acho que sim, já é um registo em que me sinto à vontade. Já entendo melhor a mecânica das coisas.

Gosta de preparar cuidadosamente as suas entrevistas?
Quem faz isso é a produção do programa. Eu trabalho a informação que me é dada de acordo com aquilo que julgo que pode ser interessante para as pessoas que vão ver ou também aquilo que eu considero que deve ser dito e conversado.

É um trabalho de equipa?
Sem dúvida. É um esforço conjunto tanto da produção como minha de encontrar aquilo que as pessoas já conhecem e que pode ser ainda discutido, mas também aspetos da vida da pessoa que não são tão conhecidos e que pode ter a ver com gostos pessoais ou atividades ou até mesmo profissões que os entrevistados já tenham tido e que a maioria das pessoas desconhece.

É uma conversa intimista?
O objetivo é, basicamente, conversar com calma com uma pessoa sobre o seu percurso de vida e aquilo que é verdadeiramente importante para ela na esperança de construirmos pontes entre quem nos está a ver e a pessoa que está a falar connosco, no sentido de as pessoas se identificarem com as lutas daquela pessoa, com os seus valores, com aquilo que são as suas prioridades ou não. Também se podem encontrar valores na diferença.

Está a gostar de descobrir as pessoas?
Estou, mas é uma grande responsabilidade, e, às vezes, até é um bocadinho pesada. 

Sente que pode ser pesado revelar o outro?
Sim, porque tenho quase sempre uma perspetiva do entrevistado e quero que as pessoas vejam isso, porque são aspetos desconhecidos que gosto que o público conheça e entenda e por isso invisto emocionalmente na entrevista e para mim é muito importante passar determinada mensagem.

Faz sempre questão de encontrar pessoas inspiradoras?
Sempre. É por isso que sinto o peso da responsabilidade de  revelar alguém ao público.

Começou por fazer um programa feminino na SIC Mulher. Também deve ser uma grande responsabilidade fazer um programa diário?
O Mundo das Mulheres foi um programa diário que apresentei durante três anos. Apesar da especificidade tanto do título como do canal, acabavam por ser temas bastante generalistas. Isto porque não se consegue fazer um programa diário de uma hora durante três anos, se não se abordar temas que não tenham só a ver com mulheres. Eram temas de interesses geral que eram apresentados na perspetiva feminina.

Também apresentou o Prazer dos Diabos, uma tertúlia muito irreverente, bem diferente destes registos, e estava ali peixe na água...
Fiz aquilo um ano e foi uma boa experiência.

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Diversificar é bom?
É. Ainda por cima eram pessoas muito diferentes e foi um desafio muito grande conseguir dar um fio condutor a alguma coisa que podia ficar fora de controle. Cada um tem o seu génio e a sua criatividade e todos queriam falar ao mesmo tempo: cortar a palavra a uns, dar a palavra a outros e gerir o tempo foi uma boa preparação para o Mundo das Mulheres.

Isto começou tudo com uma personagem na série Jornalistas, de Teresa Guilherme?
Ainda começou antes, no Jet7, só depois é que iniciei o meu trabalho de atriz.

Ultimamente a representação está um pouco mais afastada da sua vida. Tem saudades?
Às vezes, quando vejo alguma coisa que gosto na televisão, penso que deve ser muito giro fazer aquela personagem. Adorei fazer a última novela, aliás engravidei quando estava a gravar “Podia Acabar o Mundo”, e gostei especialmente porque era um registo cómico. Hoje percebo que o talento que eu possa ter é mais bem aproveitado em registo de comédia.

Ser atriz era uma paixão tão grande que desistiu de tudo em Lisboa para ir estudar para Nova Iorque...
A vida dá muitas voltas e muitas cambalhotas e nós temos de aprender a cair também.

E o papel de mãe, está a ser o maior de todos?
É o que vale a pena independentemente de tudo. Kyle está quase a fazer dois anos e meio e está a ser o melhor papel da minha vida. Foi um papel muito adiado, mas quando aconteceu, foi muito bom. Por ele tenho abdicado de muitas coisas, até da representação.

Passa o dia todo com o bebé?
Praticamente. Como só venho à SIC uma vez por semana, tento conciliar os meus horários com a escola dele.

O Kyle já está no infantário?
Vai duas vezes por semana meio-dia a um ATL desde os dois anos.  Tem-lhe feito muito bem, está a aprender a socializar e outras coisas que eu não lhe sei ensinar.  Estas horas por semana que ele está na escola também me ajudam a ser novamente humana antes de ser mãe.

Falam com o Kyle em português e em inglês?
Sim. E quando lhe perguntamos como se diz uma palavra em português e em inglês, ele já sabe, e distingue muito bem a língua que fala com a mãe e a língua do pai.

Neste ano e meio de programa, há alguma história humana que a tenha surpreendido?
Houve vários. Uma das pessoas que mais me inspirou e tocou foi o neuropediatra Nuno Lobo Antunes. Ler os livros dele fez-me muito bem e falar com ele foi muito bom. Curiosamente, essa entrevista também foi uma das preferidas dos telespectadores.

É um homem que tem um testemunho muito peculiar?
E é uma pessoa que, independentemente de onde nasceu, da educação que teve e do que recebeu quando era criança, fez-se a ele mesmo. Tem um discurso de uma pessoa que é capaz de se recriar e quando cai, levanta-se e reformula o seu projeto e segue por outro caminho se for preciso sem nenhum problema.

Para além de ser um homem de uma grande generosidade...
Tanto nos livros, onde se revela em termos  íntimos e emocionais, como na medicina. É uma pessoa de uma humildade e capacidade de dádiva que me marcou mesmo!

Estas conversas enriquem-na?
Imenso. O meu objetivo em cada programa é que o prazer que me dá falar com cada pessoa passe para quem nos está a ver. Sinto-me muito enriquecida com todas as pessoas com quem tenho falado. São pessoas que fazem a diferença no mundo, e isso é um grande privilégio...

Texto: Palmira Correia