Acontece, no início de um processo terapêutico, existir a expectativa de que o/a psicólogo/a possui as respostas (as respostas certas) sobre determinada decisão, situação, dúvida ou problema. Naturalmente, a expectativa é encontrar, o mais rápido possível, alívio para o sofrimento. Ao mesmo tempo, quase se esquece que esse alívio não poderá resultar de respostas dadas por outras pessoas ou não poderá sequer ser encontrado se quem o procura não souber (emocionalmente falando) onde está ou o do que precisa.
A verdade é que num dos primeiros momentos da terapia é necessária a negociação das expectativas do paciente, de forma a que os objetivos terapêuticos definidos e acordados possam ser alcançados. Nas primeiras sessões, deverá ficar claro que o papel dos psicólogos é outro, além dos conselhos.
O conselho remete-nos para a ideia de “certo e errado”, para o julgamento e opiniões. Em terapia, o julgamento (não crítico) não tem por base as opiniões pessoais do terapeuta, ao contrário do que fazemos, por exemplo, com os nossos amigos ou familiares. Quando os aconselhamos, utilizamos as nossas crenças e experiências pessoais para avaliar e partilhar qual o caminho que consideramos vantajoso em determinada situação. Como profissionais, devemos basear-nos no conhecimento científico, no conhecimento adquirido ao longo da formação e prática profissional sobre a subjetividade e o comportamento humano. A empatia (a capacidade de vermos o mundo, as relações, as dificuldades através dos olhos da outra pessoa) e a capacidade de adaptarmos o conhecimento teórico, técnico e científico às características únicas de cada paciente são fundamentais, por exemplo, nos momentos de comunicação terapêutica ou de psicoeducação.
Como psicólogos, ao invés de “dar conselhos”, ajudamos o paciente a descobrir os padrões que afetam o seu bem-estar, criando autoconsciência e terreno fértil para a mudança e para a sua aplicação em diferentes áreas de vida e/ou em diferentes situações percebidas como desafiantes. Ajudamos o paciente a decidir o seu próprio caminho, a lidar com as suas dificuldades, emoções ou pensamentos, tendo por base a relação terapêutica e o conhecimento científico, não podendo decidir por ele.
A relação terapêutica é o espaço para se poder pensar e sentir sem a intromissão das opiniões, valores ou julgamentos de outros. Todas as pessoas que nos rodeiam podem, potencialmente, ter uma opinião diferente sobre determinada questão uma vez que se baseiam nas suas próprias vivências. Por muito tentador que possa parecer alguém poder decidir por nós, percebermos qual a decisão que se encontra mais de acordo com as nossas necessidades (psicológicas) é fundamental para o bem-estar psicológico. A relação terapêutica permite criar espaço para refletir, de forma acompanhada, mas sem o julgamento do outro ou o peso das suas opiniões ou vontades.
Pautar a terapia com conselhos poderia promover a construção de uma relação de dependência e colocar o terapeuta numa posição de especialista relativamente ao paciente. Se por um lado é verdade que como psicólogos temos o conhecimento teórico, os instrumentos de avaliação, as estratégias potencialmente reparadoras, por outro, é o paciente quem melhor se conhece. A “resposta certa” não existe porque não existe uma forma única de resolver todos os problemas e porque a forma que resulta para cada um dos pacientes (ou para o próprio psicólogo) pode não ser a mesma. Quem possui a “resposta certa” é o próprio paciente, mesmo que (ainda) não a consiga ver.
Maria Inês Galvão - Psicóloga Clínica
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