Antes de mais, pressupor que a análise grafológica se limita a dizer o que a pessoa já sabe dela, é uma visão muito restrita do potencial e amplitude do processo analítico e dos seus resultados. Esta opinião, além de traduzir preconceitos, baseia-se num conhecimento errado da investigação analí-tica, e constitui uma pretensão que, pode ser muito prejudicial. Qualquer opinião preconcebida sobre uma matéria será em detrimento da pessoa que se agarra à ideia não apropriada.
Esta pergunta comporta uma dupla dimensão e induz a duas questões distintas. A primeira parte formula uma interrogação, e a segunda estabelece uma afirmação preconceituosa. Para poder reconhecer o aspecto vantajoso da análise grafológica, devemos saber qual é o objectivo da análise, assim como compreender o conteúdo das informações reveladas. A resposta à primeira interrogação só pode ser dada com um esclarecimento do que é de facto uma análise grafológica.
Relembramos que o acto de escrever, que se torna uma actividade aparentemente quase automática, envolve uma quantidade de processospsicomotores induzindo interacções psicológicas, fisiológicas e neurológicas. Diferentes áreas do sistema nervoso, incluindo o sistema límbico, são activadas. Numa perspectiva psicológica, a grafologia é um teste de projecção, o que significa tecnicamente que permite identificar o carácter da pessoa. A acepção da palavra carácter, refere-se aqui aos sinais que permitem distinguir um indivíduo, definir o seu estilo de comportamento, as suas atitudes, a sua maneira de ser, de sentir, de reagir, etc. Ou seja, a sua emotividade e sentimentos (aspecto afectivo), a maneira de interagir (aspecto relacional) e de raciocinar (aspecto cognitivo). Numa perspectiva caracterológica, este conceito engloba tanto as disposições genéticas, quanto os modelos e condicionamentos adquiridos, que no conjunto constituem a personalidade.
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A análise grafológica é uma espécie de raio-x da personalidade, na medida em que se podem identificar as tendências conscientes, subconscientes e inconscientes do indivíduo. Contrariamente a certas ideias preconcebidas e certas práticas mal concebidas, o trabalho de investigação do grafólogo, não se restringe a analisar a escrita do autor com vista a proceder a uma descrição da personalidade. Esse tipo de práticas vão oferecer uma descrição de si próprio e assim responder a uma curiosidade inicial, mas limitam-se a uma aproximação estática da personalidade com tendência a rotular a pessoa. O que não permite um autoconhecimento aprofundado, nem favorece o crescimento pessoal. Para que este método de auto-conhecimento se torne vantajoso e proveitoso, as revelações devem abordar não só os comportamentos conscientes e/ou observáveis, mas os mecanismos subjacentes ou forças subconscientes. Estas motivam e explicam as tendências insuspeitas, quer afectivas e emocionais quer racionais, que predispõem a determinados relacionamentos interpessoais e intra-pessoais. Nessa orientação grafo-analítica, o grafólogo fornece à pessoa que o consulte, não só informações descritivas além das percepções, frequentemente selectivas e tendenciosas por si próprias, como ainda expõe outros dados, permitindo-lhe uma melhor compreensão de si mesmo a vários níveis. O que o vai dotar de novos instrumentos para adaptar, ajustar e melhorar as suas potencialidades, de maneira a evitar reproduzir padrões de comportamento que geram sempre os mesmos problemas e repetem sempre as mesmas dificuldades.
Em resumo, para que uma consulta seja enriquecedora a este nível, como em qualquer outro sistema de descrição da personalidade, devemos abordar a pessoa em questão numa perspectiva dinâmica e não estática. Isto significa, adoptar uma visão e um ‘’modus operandi’’ ou forma de proceder, partindo do princípio que todo o indivíduo possui uma aptidão que lhe permite regular certos fenómenos psico-orgânicos e agir nos seus processos de equilíbrio homeostático. Em termos simples, a capacidade de mudar certas características comportamentais moldando desta forma a sua personalidade e consequentemente o seu destino.
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Quer se trate de fazer uma análise grafológica ou de investir na intenção de melhorar a personalidade através da mudança da escrita, nunca é demais repetir: não se pode encarar esta matéria com leviandade, sob risco de se incorrer em graves danos psicológicos.
Relativamente à segunda questão, indicamos desde já que ocorrem mudanças na escrita ao longo da vida da pessoa. Algumas quase imperceptíveis e na maioria involuntárias, que decorrem das vivências ao nível da personalidade, ou seja, do impacto psico-afectivo das experiências. O que explica que a escrita apresente variações diariamente, provenientes tanto do nosso estado emocional e das condições nas quais escrevemos, como da intenção consciente de mudar ou adoptar uma escrita aparentemente diferente. Estes tipos de diferenças voluntárias podem resultar de uma decisão circunstancial de mudar a escrita, como podem reflectir flutuações do estado psico-orgânico ou disposições do autor.
Estes processos voluntários ou involuntários, resultantes de fenómenos conscientes ou inconscientes confirmam as contínuas interacções da escrita com o nosso estado geral. Como assinalámos no artigo Grafologia I, a escrita, e mais particularmente, o acto de escrever empenha um conjunto de coordenações psicomotoras e de funções neuro musculares. O que permite inferir que toda a mudança aplicada ao nível da execução vai provocar reacções ao nível da personalidade. Todavia, o impacto na estrutura da personalidade vai revestirse de várias e sucessivas reacções antes de gerar mudanças efectivas.
Ao nível psicológico, vão emergir mecanismos de resistência, proporcionais às mudanças manuscritas. E no plano neurológico, vão activar-se novas ligações sinápticas no cérebro com as suas correlações no sistema límbico. O que vai alterar a estrutura da personalidade. Daí a importância de iniciar qualquer mudança apenas com uma consciência clara das características ou aspectos da personalidade que desejamos mudar. Para qualquer iniciativa nessa direcção, deve saber-se porquê e como encarar as mudanças que permitam um processo favorável. Em termos práticos, a adopção das mudanças deve seguir uma intenção consciente, repetitiva e disciplinada, já que as tendências anteriores vão naturalmente surgir durante um certo tempo. Mais importante ainda é o acompanhamento de um profissional para evitar encaminhar-se numa direcção indesejável. Este tipo de acompanhamento e procedimento constitui a “Grafoterapia”.
Texto de Dr. Luis Philippe Jorge (Psicólogo e Grafólogo) in Flor de Lótus
Para mais informações: Tel.: 914 246 593 ou
luisphilippejorge@yahoo.ca
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