O anúncio não é português, mas poderia perfeitamente ser. Uma mulher vagueia pelo supermercado com o seu filho e eis que ele se detém perante uma prateleira e exige que lhe compre uma guloseima.

Ela rejeita o pedido. Ele insiste. E insiste. E insiste. Até que se atira para o chão e berra. O que faz a mulher? Não, ela não tenta acalmá-lo, nem lhe faz a vontade.

Simplesmente... também se atira para o chão e berra tanto ou mais do que ele. A criança fica atónita, o assunto resolvido. É claro que, fora do ecrã, por maior que fosse a nossa vontade, não reagiríamos assim. Seja por vergonha, seja por bom senso. Então,
qual a melhor forma de actuar face a situações que facilmente nos fazem perder o controlo? Caso a caso, as orientações do psicólogo Vítor Rodrigues põem fim à sua dúvida.

Se não dou ao meu filho o que ele quer, simplesmente atira-se para o chão e ... berra

O que deve fazer «Fale com ele calmamente. Explique-lhe que há razões para não lhe dar o que ele quer e quais são elas. Repita calmamente o que está a dizer, as vezes que forem precisas. Considere a situação como um bom treino de paciência e pedagogia. Faça-o recordar outras ocasiões em que ele se comportou de outro modo e como isso foi positivo, maduro. Aguarde que o seu filho se cale
e, passado algum tempo, mostre-se satisfeita por ele ter compreendido.»

O que não deve fazer «Render-se e dar-lhe o que ele pede só para que se cale. Se o fizer, estará a ensinar-lhe que se berrar o suficiente, terá o que quer. Não se irrite ou bata. Estará a transmitir-lhe a ideia que para obter o que pretendemos a violência é uma boa opção ou que ele não tem direito a desejar coisas.»

Quando vejo que o meu companheiro deixou tudo desarrumado fico fora de mim...

O que deve fazer «Respire fundo dez vezes. Pense que surgiu uma oportunidade para testar as suas habilidades de auto-controlo e afirmação construtiva. Fale com ele começando por descrever o comportamento que lhe desagradou; prossiga dizendo o que sente perante isso e quais os inconvenientes de tal comportamento. Por fim, faça sugestões sobre o comportamento dele e quais os benefícios que isso traria para si. Ou peça que seja ele a dá-las.»

O que não deve fazer «Avaliá-lo e apelidá-lo de desmazelado ou outros adjectivos negativos. Isso poderá colocá-lo logo na defensiva ou no contra-ataque. Tente não irritar-se e perder a razão.»

Estou atrasada para uma reunião e bato com o carro. O outro condutor insulta-me e estou sem bateria no telemóvel...

O que deve fazer «Respire fundo 20 vezes. Deixar-se irritar ou amedrontar só irá atrasá-la e trazer-lhe mais dissabores. Diga ao outro condutor que não está a insultá-lo e preferia que ele não fizesse o mesmo. O seu objectivo é resolver a situação de forma honesta e útil para ambos. Sugira soluções como preencher uma declaração para os seguros em conjunto. Procure ajuda junto de outras pessoas, nomeadamente para lhe emprestarem um telemóvel. Se necessário, explique ao outro condutor que, se continuar a insultá-la, será obrigada a voltar-lhe as costas e procurar alguém que a proteja e seja mais razoável.»

O que não deve fazer «Perder o controlo, assustar-se ou entrar num jogo de contrainsulto. Medir forças. Isso poderia ser inconveniente ou mesmo perigoso para si.».

Veja na página seguinte: O que fazer quando o chefe a inunda de trabalho

Estou cheia de trabalho, mas o meu chefe decide atribuir-me mais uma tarefa. Não tenho coragem de dizer nada porque tenho em vista uma promoção...

O que deve fazer «Recorde ao seu chefe as tarefas que já está a desempenhar e explique-lhe que mais essa poderá ser excessiva e comprometer a sua motivação e o seu bom desempenho nas restantes».

«Se já tiver deixado passar a ocasião, poderá explicar-lhe que não avaliou bem a situação de imediato e está cheia de boa vontade mas... (releia as linhas anteriores). Explique-lhe que se considera uma profissional competente e pretende assegurar que não vai baixar a fasquia por estar a aceitar trabalho excessivo».

«É muito perigoso deixar nos outros a impressão de que não há limite para o grau em que podem fazer-lhe exigências ou para a sua boa vontade. Raramente, ou nunca, as pessoas que não expressam os seus direitos nem os seus sentimentos são mais respeitadas por isso».

O que não deve fazer «Aceitar simplesmente sem nada dizer ou presumir que o seu chefe tem uma bola de cristal que lhe dirá o que você sente, quais são os seus limites, direitos. Ficar revoltada em silêncio e planear ir ter com um feiticeiro vodu para que faça cair todo o cabelo ao seu chefe. Procurar
aguentar, estoicamente e com Prozac, uma situação que você pode estar a ajudar
a criar».

Sem querer, apanho as minhas colegas de trabalho a dizerem mal de mim...

O que deve fazer «Respire fundo... Lembre-se que o mal que dizem de nós pode ou não ser verdade e não implica forçosamente nada de negativo da nossa parte. Peça-lhes que expliquem qual a razão para o que disseram ou, simplesmente, descreva o comportamento delas e o que está a fazê-la sentir. Faça isso de modo frontal e honesto mas, na medida do possível, não agressivo nem deprimido. Sugira ou peça soluções».

O que não deve fazer «Reagir de modo impulsivo. Avaliá-las ou atacá-las de imediato. Considerar que, se estão a dizer mal de si, você não deve mesmo prestar para nada ou que, se estão a dizer mal de si, elas não devem mesmo prestar para nada...»

Texto: Nazaré Tocha com Vítor Rodrigues (psicólogo)