Os possuidores de uma vontade forte são, normalmente, as mesmas pessoas que se revelam persistentes, resistentes, determinadas.

Costumam lidar melhor com as vicissitudes da vida até por poderem considerá-las como momentos de teste e ocasiões para afirmar e desenvolver capacidades. Não tem interesse passarmos a vida a violentarmo-nos para nos mortificarmos treinando a vontade.

No entanto, trabalhá-la para sermos senhores das nossas decisões, dos nossos atos e assumirmos responsabilidade por ambos pode ser uma excelente ideia. Sentirmo-nos mais firmes em nós mesmos e mais capazes de governar o nosso mundo interior é muito contrário ao stresse.

Prático, muito útil, cientificamente fundamentado e escrito numa linguagem empática (e com uma ironia subtil que nos dá vontade, simultaneamente, de aprender e de sorrir), o mais recente livro do psicólogo Vítor Rodrigues, «Tranquila-Mente», editado por A Esfera dos Livros, esclarece porque razão somos esmagados pelo stresse e como podemos escapar à angústia em que os tempos modernos nos fazem mergulhar. Aprenda a pôr em prática alguns exercícios que pode encontrar neste guia para dias mais felizes.

Como o pode fazer? Qualquer praticante desportivo sabe, com a maior clareza, que para desenvolver músculo é preciso fazer força. A investigação demonstra, aliás, que fazer exercício físico deliberadamente (e não só de maneira mecânica) ajuda ao desenvolvimento de novas células nervosas no cérebro. De certo modo, o supremo músculo para os seres conscientes que somos é a vontade. E como se desenvolve? Exercendo-a conscientemente. Em que situações? Naquelas em que apeteceria fazer outra coisa, fugir de uma situação complicada, descansar em vez de trabalhar e assim por diante. Comece já a seguir.

Não seja vítima das suas emoções Exercícios como o que se segue ajudam-nos a sentir que podemos ter muito a dizer acerca das nossas emoções, em lugar de sermos só recipientes ou vítimas delas. A autoconfiança passa por isso mesmo, por adquirir a convicção de que somos, ao menos em parte, capazes de fortalecer uns sentimentos e diminuir outros e de focalizar o pensamento em conteúdos alternativos a outros que nos fazem sentir mal.

Mas passa também pela capacidade de usar imagens e sensações para lidar melhor com o nosso mundo emocional que, decididamente, funciona mais com isso mesmo do que com raciocínios. É, aliás, por essa razão que censurarmo-nos por não conseguirmos ter a emoção que devíamos resulta mal. As emoções reagem pouco a raciocínios e reagem muito a imagens e sensações, memórias e experiências.

Exercício n.º 1

Este género de exercício, bastante clássico, contribui para o desenvolvimento simultâneo da vontade e da concentração mental. Encontre um objeto físico definido. Pode ser qualquer coisa. Uma estatueta, uma caneta, um móvel, um quadro. O que importa é que você fixa este objeto e conserva o olhar e a mente fixos nele. Se tiver escolhido, por exemplo, um livro, poderá tê-lo à sua frente e olhar para a capa.

Ao mesmo tempo, poderá pensar no livro e no que sabe acerca dele. Pode observar a capa, o material de que é feita, a cor e forma. Será natural que o seu pensamento divague e dê consigo a pensar noutra coisa. O que se pretende é que aceite isso sem qualquer drama e volte, vezes sucessivas, ao objeto que tem à sua frente. Se o seu olhar se desviar, traga-o igualmente de volta ao objeto, sem esforço mas com a determinação de continuar a olhá-lo. Continue assim por uns dez minutos.

Exercício n.º 2

Imagine que está na pele de um antigo samurai, trabalhando para desenvolver a vontade e a firmeza. Você pretende firmar-se como uma montanha desenvolvendo uma imensa estabilidade e uma vontade inabalável. Abra e flita bastante as pernas, baixando o centro de gravidade, os pés apontando para fora. Um praticante avançado de artes marciais faria isto colocando as pernas com grande abertura e com um ângulo entre coxas e barriga das pernas de quase noventa graus.

A sua coluna está bem direita e as mãos colocadas ao lado do corpo. Você permanece nessa postura, que é desconfortável e obriga a um considerável esforço das pernas, sem se mover. Regula a tensão muscular para o mínimo necessário para permanecer assim. Torna-se difícil mas você ainda insiste. Sente claramente que só está a fazer isso porque quer e continua a querer, naquele momento. Continua assim ainda mais algum tempo apesar dos protestos das suas pernas.

A sua coluna está bem direita e as mãos colocadas ao lado do corpo. Você permanece nessa postura, que é desconfortável e obriga a um considerável esforço das pernas, sem se mover. Regula a tensão muscular para o mínimo necessário para permanecer assim. Torna-se difícil mas você ainda insiste. Sente claramente que só está a fazer isso porque quer e continua a querer, naquele momento. Continua assim ainda mais algum tempo apesar dos protestos das suas pernas.

Exercício n.º 3

Ao sentir mal-estar emocional (por exemplo angústia, tristeza ou ira), permita-se caracterizar e observar com cuidado a emoção que está a sentir. Comece por relaxar de olhos fechados. Agora dê ao mal-estar uma cor (clara ou escura). Depois uma forma (grande, pequena, regular ou irregular). Acrescente uma textura (lisa, pegajosa, rugosa, como papel, como seda ou como uma casca de árvore), talvez um som, um cheiro, um padrão de movimento (arrasta-se? salta? desliza? é rápida ou lenta?). Atribua-lhe até mesmo uma idade, se quiser.

Imagine que lhe ocorreu um sentimento a que deu a cor cinzenta, forma de nuvem grande e escura, som de lamento, sem cheiro, textura pegajosa, movimento pesado e lento, com dez anos de idade. Coloque-lhe um rótulo, por exemplo, tristeza. Agora pergunte-lhe o que tem para lhe dizer ou perceba o que ela diria se falasse. Um pouco depois, aproxime-a de si e observe o que isso a faz sentir. Em seguida, afaste-a de si. Observe de novo o que acontece ao seu sentimento. Depois experimente ampliá-la até ser uma nuvem gigantesca.

Experimente encolhê-la até ser um pequeno farrapo de cor cinzenta no ar. Volte a observar os efeitos de tudo isso nos seus sentimentos. Depois traga-a de volta ao tamanho inicial. Modifique-lhe a forma, cor, textura, movimento, convertendo-a noutra coisa que seja mais positiva e, se possível, que seja o oposto. Agora imagine que absorve essa nova forma trazendo-a para dentro de si, ao nível do coração. Torne a observar o efeito de tudo isto nos seus sentimentos.

Mude a forma como pensa

Muitas vezes, ocupamos a mente com assuntos desagradáveis, que originam stresse, quando podemos optar por ocupar o mesmo tempo com assuntos positivos. Estes são alguns dos hábitos que deve adotar para melhorar a sua vida:

- Reveja o seu dia, com calma, e perceba quais os conteúdos mentais e quais as emoções que preencheram o seu mundo interior.

- Teve principalmente pensamentos sobre coisas positivas ou negativas? Imagine que andou preocupado a pensar no modo como algo poderá correr mal e nas consequências nefastas. Por exemplo, perder o emprego. Será que pensar nisso aumenta a probabilidade de não perder? E seria possível optar por pensar antes no que está bem, neste momento, na sua vida? Pensar no que pode correr bem ou tem corrido bem?

- Imagine que passou muito tempo a sentir-se ansiosa ou irritada. Seria possível cultivar outras emoções mais positivas? A arte de sentir amor em vez de cultivar aversões e revolta? Procurar razões para se sentir alegre em lugar de triste? Grato em lugar de magoado ou amargurado? Que tempo tem despendido em ansiedade? Seria possível despender uma parte dele a cultivar calma?