Medo, tristeza, ciúme, ansiedade. As emoções menos agradáveis são, normalmente,
consideradas desnecessárias, mas «não ter emoções negativas seria como não ter sensações de dor
no corpo. Ao tocar na placa do fogão, por exemplo, só perceberíamos que algo estava errado ao
cheirar-nos a carne queimada».

A comparação é do psicólogo Vítor Rodrigues, que realça o papel
essencial destas emoções.

«Fazem-nos perceber que algo está mal connosco, com os outros ou com
os nossos relacionamentos e
levam-nos a agir», afirma este especialista. Aprender a lidar com cada uma, em vez de as evitar,
bloquear ou negar, é essencial para descobrir o seu lado bom. Siga os conselhos de quem sabe.

TRISTEZA

Tem origem num sentimento de perda de
algo que valoriza, «seja um ente próximo, um
relacionamento, um valor associado a uma
relação (como confiança ou respeito) ou um bem
económico», enumera Vítor Rodrigues. Ensinar-nos a refletir sobre os erros e a evitar as situações
que a provocam, a desenvolver empatia pelos outros
e a despertar atenção e simpatia são as suas principais
funções, referem François Lelord e Christophe
André no livro «A Força das Emoções».

O que fazer para a superar:

- Busque momentos de isolamento, reflexão e
autoconhecimento. Observe o que sente como se fosse
espetador de si próprio, sem se deixar embrulhar na
negatividade. Perceba as sensações que despertam em si e
a forma como reage.

- Não se deixe dominar por situações de alegria que não
aprecia realmente e rodeie-se de amigos com quem se
sente à vontade para conversar ou simplesmente estar em
silêncio.

MEDO E ANSIEDADE

O primeiro surge quando sentimos uma ameaça
real, concreta e temos «a perceção simultânea de
que não temos possibilidade de a enfrentar», refere
Vítor Rodrigues. «Não ter medo suficiente torna
a vida demasiado arriscada, mas medo em excesso
limita as probabilidades de sobrevivência», lembram
Lelord e André. A ansiedade, considerada «irmã»
do medo, surge quando não existe uma ameaça
concreta ou imediata, mas a pessoa antecipa um
futuro ameaçador, achando que pode não estar à
altura dele.

O que fazer para os superar:

- Informe-se sobre o seu objeto de medo.
O conhecimento pode ajudá-la a perceber que os
seus receios são infundados e a aprender formas de
- minimizar os seus efeitos.

Para se acalmar se está ansiosa, responda às questões
«De que tenho medo?», «Será essa ameaça real?» e/ou
«Se se concretizar, não poderei controlar o pior dos
cenários?», sugere o especialista.

CÓLERA

Segundo Lelord e André, as funções desta emoção são «preparar-nos para o combate, mas também torná-lo inútil, intimidando o outro». Explodir de forma descontrolada e «recalcá-la» completamente são formas opostas mas igualmente más de a gerir.

O que fazer para a superar:

- Elimine do seu discurso interior as expressões «sempre» e «nunca», que generalizam ideias dramáticas e exageradas sobre si próprio ou sobre os outros (por exemplo, «ele nunca ouve o que eu digo»)
e são um pretexto para justificar a sua cólera.

- Perceba que a cólera pode ser legítima. Pense «gosto que me aceitem, mas não posso agradar a toda a gente» em vez de «devo mostrar-me sempre agradável, senão
as pessoas não me aceitam».

Veja na página seguinte: Como superar o ciúme e a inveja

CIÚME

Como refere Vítor Rodrigues, o ciúme «implica sentimentos de posse e medo de perder alguém a quem estamos apegados», pelo que, «se pensarmos que indica apreço por essa pessoa (uma forma menos elevada de amor), serve para cultivarmos um bom relacionamento e nos defendermos».

Para o terapeuta familiar Bernardo Stamateas, autor de «Emoções Tóxicas», «a mensagem interior de uma pessoa ciumenta é decididamente não mereço o que tenho, por isso, a qualquer momento, posso perdê-lo».

O que fazer para o superar:

- Aprofunde o seu autoconhecimento para perceber a origem da sua insegurança pessoal e que pode estar a ser egoísta.

- Aperfeiçoe o seu modo de amar. Como afirma Vítor Rodrigues, «quanto mais amamos, mais estamos interessados em
que o outro esteja bem e seja livre, não
em tê-lo como pássaro na gaiola».

INVEJA

Um estudo recente da Universidade
do Texas apurou que a inveja pode ser útil para emularmos estratégias vantajosas ou para detetarmos algo a usar contra os nossos «alvos da inveja». Mas, para Vítor Rodrigues, esta emoção não é «socialmente construtiva», já que «implica um sentimento negativo de querer prejudicar o outro ou retirar-lhe algo».

O que fazer para a superar:

- Desenvolva a apreciação, contentamento
e empatia. Aprenda a apreciar o que é e tem.

- Descubra e explore a sua singularidade. Procure ser igual a si próprio e superar-se sem se comparar ou entrar em competição com os outros.

- Substitua a inveja por admiração e a raiva por motivação. Encare os outros como parceiros na «escola da vida» e tente aprender com quem já conseguiu aquilo que deseja.

VERGONHA

Parente da culpa, manifesta-se quando nos sentimos «desconfortáveis, inferiorizados ou em falta perante outros» e «pode alertar para algo que pode não estar bem em nós ou na nossa conduta e levar-nos a melhorar». Mas, sublinha Vítor Rodrigues, «há sentimentos de vergonha excessivos, que acabam por minar a autoestima e
fazer-nos acreditar que somos defeituosos e que a nossa única esperança é ninguém nos ver como somos».

O que fazer para a superar:

- Neutralize a voz interior que a envergonha, rindo-se dos seus erros e tomando consciência de que, enquanto ser humano, tem direito a existir, com ou sem defeitos.

- Saiba que cometer um erro não a torna uma falhada. Use os erros para crescer em vez de se castigar.

- Identifique e assuma o que tem de positivo para dar e mostrar aos outros.

Texto: Rita Miguel com Vítor Rodrigues (psicólogo clínico)