Chegados ao mês de dezembro, entramos em modo de festividade. O Natal é uma época tendencialmente associada a emoções agradáveis, como alegria, entusiasmo ou compaixão. No entanto, para muitos de nós esta é uma altura de ansiedade, zanga ou dor. Se se sente assim, não está sozinho, e existem a inúmeros fatores que podem contribuir para isso.

Desde o início do mês que somos inundados por campanhas publicitárias de perfumes, relógios ou brinquedos. As lojas estão recheadas de produtos convidativos, que nos deixam confusos ou pressionados a comprar o presente ideal para aquele familiar ou amigo.

Já na ceia de Natal, sentimos falta das pessoas que não estão presentes e também reencontramos familiares com quem não costumamos conviver durante o ano. À mesa podem surgir desacordos enquanto se conversa sobre determinado tema ou conflitos já existentes poderão simplesmente tornar-se mais evidentes. Aqui, há espaço para nos sentirmos zangados, tristes ou magoados com o próximo. E isso pode ser o suficiente para que toda a nossa atenção se direcione para estas emoções, desconectando-nos do ambiente à nossa volta e do que se diz ser “a magia do Natal”.

Também é importante reforçar aqui que, mais uma vez, a imprevisibilidade pandémica ocupa lugar. Possivelmente não teremos um Natal semelhante aos anteriores e a incerteza de se algum dia voltará a ser o que era pode causar alguma preocupação e ansiedade.

Considerando tudo isto, poderá acontecer sentirmo-nos tão sobrecarregados com as nossas emoções desagradáveis, que só desejamos que a ceia de Natal acabe depressa. Estamos fisicamente presentes em família, mas emocionalmente desligados dela.

E o que podemos fazer para nos conectarmos com o que é importante no nosso Natal?

- Organize as suas tarefas e atribua prioridades: se estiver a sentir demasiada preocupação ou stress (por ter várias tarefas para fazer nas suas férias de Natal), tente estabelecer expetativas realistas. Identifique as tarefas mais prioritárias. O que pode esperar até à próxima semana?

- Ofereça presentes que façam sentido para si, e evite fazê-lo por obrigação. A tarefa de escolher presentes nem sempre é fácil. Se não sabe o que oferecer a alguém, peça ajuda a essa pessoa e questione-lhe o que precisa. Aliás, pode sempre fazer algo que demonstre o amor que sente para com o outro, como umas bolachas caseiras, ou até um postal. Não importa tanto o que dá, mas sim o que pretende transmitir com o presente.

- Experimente desligar o seu telemóvel, ou colocá-lo numa caixa ou afastado de si durante toda a ceia. Desafie os seus familiares a fazerem o mesmo. Quando temos os nossos dispositivos eletrónicos por perto, facilmente a nossa atenção se dirige para o ecrã e desligamo-nos do que está a acontecer à nossa volta. Esteja presente.

- Envolva-se na preparação da ceia de Natal e na decoração: Reúna as crianças e adultos e explore as potencialidades de cada um. Partilhar tarefas com os familiares aproxima-nos e contribui para a produção de oxitocina, a hormona do amor.

- Usufrua da companhia de quem está presente: seja curiosamente recetivo a opiniões divergentes e opte por fazer algo que o possa aproximar dessas pessoas, como jogar um jogo ou reavivar memórias alegres.

- Monitorize como se está a sentir: Permita-se sentir, regulando as suas emoções e expressando-as com respeito ao próximo. Aproveite para questionar aos seus familiares como se sentem.

- Explore os seus sentidos: cheire a aletria, olhe para a fogueira, sinta o abraço do seu tio, saboreie o bacalhau, e oiça as crianças a brincar. Estar atento/a aos seus sentidos ajuda-o/a a enraizar-se ao momento presente.

Bom Natal!

Daniela Sousa

Estagiária Profissional de Psicologia Clínica