Este constructo pode ser traduzido de várias formas, sendo elas o desequilíbrio emocional, a dificuldade em processar emoções, a dificuldade em lidar com situações adversas do dia-a-dia como lutos, perdas, stress ou conflitos ou outras situações limite com grande carga emocional, até aos constructos com mais sintomas e, por isso, que provocam maior mal-estar psicológico, como quadros depressivos e ansiosos, fobias e ataques de pânico e, também, as perturbações de personalidade, que representam quadros mais profundos e rígidos que interferem com várias áreas da vida normal de cada pessoa.
Não será difícil de perceber que são várias as situações diárias onde os nossos recursos cognitivos e as nossas emoções são colocadas à prova, testando a nossa resiliência e regulação emocional, obrigando-nos a tomar decisões, a continuar o nosso caminho, a atingir objectivos e a criar novos, a ter relações e a quebrá-las, a sentirmo-nos úteis ou a questionar o que estamos a fazer. Tudo isto faz parte da nossa vida psicológica e não obriga, por si só, à procura de ajuda psicológica. No entanto, é importante perceber que, ao sentirmos que não conseguimos resolver algo sozinhos, podemos ter ajuda neste processo, recorrendo à ajuda psicológica.
É importante e urgente que os mitos que há umas décadas falavam da psicologia como algo apenas dirigido a um público extremo sejam dissipados e que se assuma que os processos psicoterapêuticos servem de apoio de diversas situações do dia-a-dia, sem que rótulos extremos sejam atribuídos às pessoas em acompanhamento.
No limite, todos precisamos de ajuda ao longo da vida para certas situações e, em alguns momentos, todos precisamos de profissionais de algumas áreas, incluindo, principalmente diria, a saúde. Um psicólogo é um profissional da saúde como outro qualquer, com a particularidade de contactar com as dificuldades do foro psicológico, algo mais específico e que devemos tentar, sempre, desmistificar para que possamos ajudar, cada vez mais pessoas.
Quando vemos este cenário, onde a psicologia ainda surge como algo quase esotérico, temos de perceber como contornar estas dúvidas e barreiras criadas em torno do processo psicoterapêutico.
Numa primeira instância, a responsabilidade é dos psicólogos. Devem ser mais próximos, devem conseguir aproximar a sua prática às pessoas, levar as pessoas aos gabinetes e centros de psicologia e mostrar o espaço, devem ser intervenientes no dia-a-dia das pessoas ajudando-as a atingir o seu potencial de bem-estar psicológico.
Depois, as instituições públicas. Devem promover esta área, devem perceber os benefícios da psicoterapia em paralelo ou em substituição dos psicofármacos, devem resolver conflitos com a saúde mental e devem, sempre, incentivar e aconselhar a psicologia como uma das soluções.
Por fim, as próprias pessoas. Devem procurar saber mais, devem saber questionar, devem ter a coragem de procurar ajuda e, sobretudo, devem procurar o seu bem-estar psicológico que pode passar por visitar um centro de psicologia clínica.
Numa altura onde as mudanças no mundo são tão fáceis, onde as catástrofes surgem de um momento para o outro, onde dezenas e centenas de pessoas sofrem os efeitos destas alterações, é urgente que a psicologia seja um recurso real, encarado por todos como tal, seja nas clínicas em acompanhamento psicoterapêutico, seja no terreno na intervenção em crise, seja nas instituições na promoção de melhores práticas de saúde. É urgente dar lugar e voz à psicologia!
Tiago A. G. Fonseca
Psicólogo Clínico
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