A investigação na área da saúde mental ao longo das últimas décadas tem sido consistente: a psicoterapia é eficaz na resolução de problemas do foro psicológico. De facto, cerca de 80% das pessoas que fazem psicoterapia têm um nível de bem-estar superior ao das que não fazem qualquer tipo de “tratamento”. Mais ainda, em muitos casos, a psicoterapia tem demonstrado ser tão eficaz quanto o tratamento psicofarmacológico, apresentando resultados geralmente mais duradouros.

Escolher fazer psicoterapia é exigente e requer motivação, mas compensa para a maior parte das pessoas, resultando, no final do processo, em melhorias significativas e redução dos sintomas que as levaram a pedir ajuda.

Contudo, todos conhecemos alguém que já teve uma experiência negativa ao consultar um psicólogo, seja por não ter sentido melhorias ou - no pior dos cenários - por ter sentido que estava a piorar. São casos pouco frequentes, mas que ainda representam de 5% a 10% da população de clientes.

Existem alguns aspetos que têm sido relacionados com o sucesso ou insucesso de um processo terapêutico:

  1. Fatores comuns a todos os processos terapêuticos, tais como a qualidade da relação terapêutica e a experiência de empatia por parte do cliente;
  2. Características idiossincráticas do cliente (p.e. preparação para a mudança ou a severidade dos sintomas) e fatores de vida externos à terapia (p.e. viver num ambiente que seja um obstáculo ou uma ameaça ao processo terapêutico);
  3. Expectativas do cliente em relação ao processo psicoterapêutico (p.e. duração e tarefas) e ao psicoterapeuta;
  4. Intervenções ou “técnicas” específicas utilizadas pelo psicólogo.

Ainda que todos estes aspetos possam ser trabalhados e ajustados no contexto de uma relação terapêutica colaborativa e segura, a maior parte das pessoas que silenciosamente sente desconforto ou incerteza em relação ao processo terapêutico, acaba por terminá-lo precocemente. Outros poderão escolher continuar a investir num processo que não se apresenta eficaz ou a dar resposta às suas necessidades. Nenhum destes cenários é desejável, até porque a não resolução de situações de insatisfação tem o potencial de perpetuar ideias erradas sobre o que é psicoterapia, magoando em última instância aqueles que sofrem com perturbações psicológicas.

Se sentir que é possível não estar a beneficiar do seu processo terapêutico, reflita sobre quanto é que cada uma destas afirmações se poderá aplicar a si:

  • Sinto que não estou a melhorar/ piorei em termos do meu bem-estar.
  • Noto que houve uma quebra na minha relação com o/a meu/minha terapeuta.
  • Tenho-me sentido criticado/a ou julgado/a nas consultas.
  • Eu e o/a meu/minha terapeuta não temos um entendimento semelhante sobre aquilo que é importante para mim neste processo.
  • Já estamos a trabalhar há algum tempo, mas ainda não faço ideia de como a terapia me pode ajudar.

Qualquer uma destas situações torna mais provável a existência de experiências negativas em terapia e abre caminho para a estagnação, deterioração e, no fim da linha, o drop out. Caso se reveja nas descrições acima, fale com o seu psicólogo ou psicoterapeuta.

A existência de ruturas na relação terapêutica é natural. Tal como nas outras relações da nossa vida, existem pontos de tensão, atritos e reações complexas. Infelizmente, nem todos os profissionais conseguem identificar e agir sobre estes momentos de forma imediata. Porém, comunicar sobre os aspetos da terapia que não estão a funcionar, ainda que desconfortável, torna possível a sua exploração de forma empática e o diálogo em torno da resolução dos problemas identificados. Nesse processo, muitas vezes a relação não só sobrevive, como se transforma, tornando-se mais genuína, próxima e reparadora. E uma relação terapêutica de qualidade é fundamental para o sucesso de qualquer psicoterapia.

A maior parte dos psicoterapeutas será capaz de validar e reconhecer a imensa coragem do cliente que introduz um tema difícil concernente à relação terapêutica. Uma parte muito residual poderá não o fazer.  Se identificar ao longo do tempo a persistência de atitudes de crítica, distração, desinteresse, hostilidade, desaprovação ou comportamentos eticamente reprováveis, pode e deve denunciar o caso à Ordem dos Psicólogos Portugueses.

A psicoterapia é um contexto relacional delicado e especial, mas não deixa de ser um serviço. Todos os que procuram ajuda psicoterapêutica merecem tê-la, com qualidade e eficácia, numa relação de empatia, respeito e colaboração. Mesmo que por vezes seja difícil e desconfortável, trazer para a conversa o que não corre bem e explorá-lo em conjunto é, ao mesmo tempo, um voto de confiança, um exercício de assertividade, e uma prenda bonita que o seu psicoterapeuta irá certamente agradecer.

Inês Amaro - Psicóloga clínica

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