O segredo do sucesso desta bebida reside na variedade de sabores e, acima de tudo, nas inúmeras utilizações a que se presta. De acordo com as várias culturas, pode ser usado para efeitos medicinais, como pretexto para convívio social ou, inclusive, como manifestação cultural, e até ao serviço da estética.
Na antiguidade, beber chá diariamente era algo reservado às classes sociais mais elevadas. Pelo contrário, as classes mais desfavorecidas, recorrendo à sabedoria popular, recorriam ao chá em busca do alívio para as suas maleitas.
Actualmente, beber chá já não é um prazer reservado somente aos mais favorecidos. A sua utilização democratizou-se e este serve, não só para aliviar o stress do dia a dia, passar momentos agradáveis a sós ou na companhia de amigos, mas também para combater uma indisposição ou até para coadjuvar dietas e contribuir para a beleza.
Neste último ponto, o chá vermelho e o verde são os principais aliados. O hábito enraizou-se de tal modo na sociedade contemporânea que, nos dias de hoje, o chá é bebido a qualquer hora e em qualquer lugar. Um evento social, uma pausa durante o horário laboral ou uma ida às compras, em casas especializadas ou até em cafés tradicionais, tudo serve de pretexto para desfrutar de um bom chá.
Efeitos terapêuticos
Beber um chá ou uma infusão pode ajudar na prevenção e alívio de algumas maleitas. Por exemplo, a infusão das folhas de chá contém fitoestrógeneos, que reduzem o risco de desenvolvimento da osteoporose. Para além disso, as folhas de chá contêm uma considerável quantidade de polifenóis, que possuem propriedades antioxidantes.
Há mesmo quem defenda que o consumo regular de chá, associado a um estilo de vida saudável, pode proporcionar a protecção contra vários tipos de cancro e reduzir o risco de doenças cardiovasculares. O chá também é utilizado como medicamento pelo facto de conter cafeína, tanino e substância volátil aromática.
Acredita-se que possui efeitos sedativos, diuréticos, bactericidas, baixa o teor da glicémia e tem, também, um efeito anticancerígeno. Conheça as propriedades mais importantes sobre alguns tipos de chás:
Chá Vermelho ou Pu-Erh
Possui propriedades curativas, actua sobre as substâncias que regulam as funções corporais, ajudando, inclusive, a reduzir o colesterol. Para além do seu efeito depurador, o pu-erh é um óptimo digestivo, sendo muitas vezes utilizado pelos orientais, após uma refeição mais "pesada".
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Bom diurético, é igualmente utilizado em casos de diarreias, cansaço, ressacas e dores de cabeça, bem como em situações de malária, conjuntivite, septicemia e epilepsia. Usado exteriormente, quer seja líquido, em forma de creme, gel ou sabonete, pode ser útil na profilaxia de infecções, nas queimaduras e em contusões, porque tem um efeito antibacteriano e reforça o sistema imunitário.
Por outro lado, o chá vermelho não influência o sistema cardiovascular e ajuda a combater o cansaço e a depressão. Para além disso, pode beber-se a qualquer hora, porque não causa insónias e é indicado mesmo para quem tem problemas de estômago.
Chá Verde
A seguir ao chá preto, este é o mais divulgado e consumido na Europa. Com poderes curativos que fortalecem o sistema imunitário, este chá é considerado uma bebida light, dado que uma chávena do mesmo contém somente duas calorias. Como é uma bebida com baixo teor de teína, é um óptimo substituto para o café, principalmente à noite, já que não provoca insónias.
Esta bebida contribui, ainda, para reduzir o risco de doenças cardiovasculares e, devido à elevada percentagem de catequinas que possui, o chá verde actua ao nível dos intestinos, fígado e pulmões, eliminando as substâncias tóxicas do organismo e proporcionando um efeito adelgaçante e anticelulítico.
É particularmente rico em vitaminas A, C e E, que desempenham uma função relaxante no organismo e possui um elevado teor de flúor, o que faz dele um dentífrico eficaz no combate da cárie dentária.
Muito rico em antioxidantes, o chá verde ajuda a retardar o envelhecimento, estando, actualmente, muito em voga a sua inclusão na composição de produtos de cosmética.
Espírito Zen
As propriedades do chá estendem-se também ao nível espiritual. Na chamada "cultura do chá", a utilização e apreciação da bebida estão intimamente ligadas à meditação e à espiritualidade, encaradas como caminho para a perfeição da alma, mediante a identificação com a natureza.
Nos dias de hoje, começa a ser comum fazer-se um intervalo para uma chávena de chá e as casas da especialidade têm proliferado, em parte, devido ao ambiente que se cria em torno da bebida, ajudando a descomprimir e relaxar da tensão de um quotidiano agitado.
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Psicólogos britânicos chegaram mesmo à conclusão que o intervalo para o chá, durante o dia de trabalho, funciona como a melhor forma de estabelecer a comunicação entre colaboradores, mais do que reuniões, mensagens electrónicas ou publicações institucionais.
De acordo com os estudos, mais de oitenta por cento dos empregados afirma que fica mais informado sobre o que se passa no ambiente laboral durante a pausa para beber chá do que numa reunião de pessoal.
Ao serviço da beleza
O chá é famoso, sobretudo, pelas suas propriedades relaxantes e estimulantes. Porém, de há uns anos a esta parte, tem vindo a chamar a atenção pelos seus benefícios para a beleza. Uma novidade no Ocidente, porque, no Oriente, o chá é utilizado há séculos como produto de beleza: para o banho ou cabelo, como dentífrico, loção, creme ou desodorizante.
Atentas ao crescente interesse dos consumidores por esta bebida, as indústrias farmacêutica e de cosmética têm investido no desenvolvimento de produtos e protocolos à base de chá. O chá assume, igualmente, um papel muito importante como coadjuvante em dietas de emagrecimento.
Por exemplo, o que conhecemos normalmente como chá vermelho é consumido como complemento de dietas de emagrecimento, na Europa e nos Estados Unidos. Apelidado como "devorador de gorduras", esta variedade de chá é ainda uma boa aliada na diminuição do nível de colesterol no sangue.
Para além disso, contribui para a rápida assimilação do nível de álcool no sangue e reforça o metabolismo do fígado, colaborando para o desaparecimento do efeito casca de laranja da pele. O resultado de uma alimentação saudável, complementada com chá Pu-Ehr, é uma silhueta muito mais estilizada e firme.
Já o chá verde possui o poder de eliminar toxinas e prolongar a juventude. Diurético, permite ainda baixar o peso. Além disso, é utilizado na aromaterapia e na cosmética para relaxar o corpo e a mente.
Ter um aspecto jovem e saudável, uma pele lisa, sem manchas e hidratada, um corpo firme, um cabelo suave, brilhante e com volume, são alguns dos objectivos que podem ser alcançados com a ajuda do chá verde.
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Contudo, é necessário encarar o processo, não como uma medida de recurso, mas como um estilo de vida. Ter uma alimentação equilibrada e fazer exercício regularmente são parte essencial desse estilo de vida.
Mente sã em corpo são
A máxima do poeta Juvenal "Mens Sana in Corpore Sano" nunca foi tão citada como na actualidade, o que revela uma preocupação crescente com a saúde. Actualmente, há uma maior necessidade de encontrar o equilíbrio entre bem-estar físico e espiritual e os institutos de beleza e spas têm aumentado a sua oferta de rituais holísticos, em que o chá surge como um aliado.
Esta bebida relaxante, estimulante, e que ajuda na prevenção do aparecimento de doenças, cuida da saúde mesmo quando a pessoa está em repouso, já que continua a actuar sobre o organismo muito depois de ser consumida.
Nos spas, espaços de tratamento e beleza particularmente vocacionados para o bem-estar físico e psíquico, é comum não só servir-se chá, como também utilizá-lo nos diversos procedimentos, seja em folha ou em produtos de cosmética. Regra geral, é servida uma chávena de chá verde quente ao cliente, para ajudar a relaxar e estimular a acção do cuidado estético.
No caso da drenagem linfática, por exemplo, a função do chá é também agilizar a acção da própria massagem e aumentar o seu efeito anticelulítico e adelgaçante. Na hidrofitoterapia, é comum usar-se folhas de chá para cobrir o corpo, a fim de esfoliar a pele e, em simultâneo, promover a eliminação das toxinas.
Rituais diferentes
A dedicação dos orientais ao chá continua a ser um mistério para os povos do Ocidente. No entanto, nas diferentes regiões do globo, esta bebida é consumida segundo hábitos e rituais muito diferentes. Considerado uma oferenda sagrada, no Tibete, o chá é coado com manteiga de iaque e sal ou leite de cabra.
Já na China, o chá era parte integrante da cerimónia de casamento. Fervido em água quente, o cardo produzia uma infusão amarga que era dada a beber aos noivos, antes do casamento, para que provassem as amarguras de uma vida sem alguém com quem a partilhar.
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Depois da boda, ambos bebiam uma chávena de chá verde, mais ligeiro e suave, que simbolizava como seria agradável a vida com um companheiro. Por seu lado, na Turquia, as futuras noras são avaliadas pela sua perícia na preparação da infusão, e, em Marrocos e no Egipto, a bebida é servida em copos de vidro efusivamente decorados.
No Irão e no Afeganistão, o chá verde bebe-se para saciar a sede, e o preto antes de enfrentar o calor (ambos são bebidos com muito açúcar). Em Inglaterra, o costume foi introduzido pela portuguesa D. Catarina de Bragança, grande admiradora da bebida, que levou como parte do seu dote de casamento com o rei D. Carlos II, soberano daquele país, uma caixa de chá da China.
Servia-o na corte, aos aristocratas, iniciando a tão conhecida tradição do Chá das Cinco, um ritual nacional que perdura até hoje e, ao qual, nem a rainha falta. Na Rússia, coloca-se na boca uma colher de marmelada ou um torrão de açúcar antes de beber chá.
No que respeita à temperatura do chá, os hábitos também registam algumas divergências: no Reino Unido, o chá é ingerido a ferver e, nos Estados Unidos, a versão gelada faz as delícias de cerca de dois terços da população.
Origem do chá
Não se sabe ao certo a origem do chá, mas há quem defenda que a planta do chá foi descoberta pelo imperador chinês Shen Nung, em 2737 A. C. que, por precaução, aconselhava os seus súbditos a ferver a água antes de a beberem.
Num dia quente, o imperador estava a descansar debaixo de uma árvore e sentiu muita sede. Ferveu água para beber e, devido a uma brisa ligeira, algumas folhas da árvore que o abrigava caíram dentro do recipiente da água fervida.
Shen Nung viu a água adquirir uma cor estranha e, por curiosidade, provou o líquido. O sabor, diferente do que estava habituado, agradou-lhe bastante. E, desta forma, nascia o chá. Na Europa, as primeiras referências à planta do chá foram feitas por Marco Polo nos relatos das suas viagens.
Porém, o chá só chegou à Europa mais tarde, através das rotas comerciais entre o oriente e o velho continente, não se sabendo, no entanto, quem trouxe a bebida para a Europa. Em Portugal, apesar de o chá ter sido trazido do oriente e comercializado desde muito cedo, a sua inserção na cultura nacional permanece um mistério.
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Modo de preparação
Na época da dinastia Ming (1368-1644 D.C.), apenas o chá verde era conhecido. No entanto, a necessidade de percorrer longas travessias até o produto chegar ao destino, fazia com que tivessem de ser dados diferentes tratamentos às folhas de chá para as conservar, o que originou a "descoberta" dos diferentes tipos desta bebida.
Na verdade, todos os chás provêm da mesma planta, a camellia sinensis, pelo que a distinção é feita consoante o tratamento, a qualidade e a preparação das folhas. Assim, dependendo do processo a que for submetida, da folha da camellia sinensis obter-se-á chá preto, verde, branco, vermelho ou Pu-Erh e Oolong.
A escolha é variada e a opção deve ser baseada não só nos gostos pessoais de cada um, mas também no tipo de chá ou infusão que melhor se adequar ao propósito a que se destina. Devido às limitações do estilo de vida moderno, o chá tradicional em folha tem vindo a ser substituído pelas práticas e funcionais saquetas.
No entanto, o produto final não é tão rico em propriedades como o que resulta da utilização das folhas. Nas saquetas é utilizado o pó resultante da crivagem ou do corte das folhas de chá. Ora, para que se obtenha um chá repleto de sabor, devem ser utilizadas as folhas da camellia sinensis, que, quanto menos partidas estiverem, melhor será a qualidade da bebida.
Para obter a melhor infusão de chá verde ou de Pu-Erh, deve aquecer a água até atingir uma temperatura entre os 70º e os 90º graus. Por cada chávena, coloque uma colher de sobremesa de chá no infusor. Deixe repousar o chá verde durante 2 a 3 minutos e o vermelho durante três. Retire o infusor e beba.
Um cuidado igualmente importante para obter o máximo sabor do chá é a utilização de um bule diferente para cada tipo de chá. Desta forma, os sabores não se misturarão nem se confundirão. Outro aspecto a ter em conta é a conservação das folhas da camellia sinensis, que devem ser mantidas em latas herméticas e guardadas num local fresco e seco.
Adoçar ou não?
Beber chá é, hoje em dia, não só um acto social, como também uma forma de ajudar a manter o corpo saudável. Todavia, a ingestão desta bebida não é, nem deve ser, um sacrifício. Assim, para os mais renitentes, que sempre ouviram dizer que não se deve pôr açúcar nesta bebida, aqui ficam três sugestões:
- Mexer o chá com um palito de açúcar
- Juntar mel biológico
- Adicionar açúcar mascavado ao chá
Infusões para o Verão
Com a chegada do Verão, um chá quente não é muito convidativo. No entanto, para os amantes desta bebida existem outras alternativas, já que, consoante o gosto de cada um, qualquer chá pode ser bebido frio e até com gelo. Existem ainda as infusões de várias ervas, uma mistura de vários frutos, ideais para as crianças, porque não possuem corantes, conservantes ou açúcar.
Fotografia: © Morten Heiselberg – Fotolia.com
Agradecimentos: GlobalGourmet
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