Sol, mergulhos e contacto com a natureza. A perspetiva é tantadora, não é? Não faltam motivos para que o verão seja sinónimo de prazer, diversão e de benefícios para a saúde. Apesar de muitos tirarem férias nesta altura, não devem, no entanto, fazer férias a uma série de cuidados. O sol, por exemplo, é essencial para a absorção de vitamina D, fulcral na prevenção da osteoporose, ainda que a exposição solar exija precauções.
E a água do mar pode ser usada com fins terapêuticos, sabia? Mas os mesmos fatores que contribuem para o nosso bem-estar podem, se não soubermos usufruir deles, colocar-nos em risco de desenvolver complicações de saúde. A boa notícia é que, já a seguir, lhe dizemos o que pode fazer para as prevenir. A partir daí, é consigo. Apenas tem de seguir as recomendações dos especialistas para viver um verão em pleno!
Intoxicação alimentar
Tenha cuidado com o que ingere nesta altura do ano para prevenir uma possível intoxicação alimentar que lhe pode dar cabo dos tão aguardados dias de descanso. "É um desarranjo gastrointestinal que implica uma infeção", explica Pedro Ribeiro da Silva, médico de medicina geral e familiar, que alerta que "o calor promove o desenvolvimento de microrganismos nos alimentos". Há, por isso, que estar vigilante.
"Em geral, um organismo saudável consegue destruir a bactéria ou vírus, mas se estiver fragilizado, no caso das crianças, dos idosos e das pessoas muito cansadas ou em stresse, estará mais suscetível", acrescenta o especialista. Eructações, os vulgares arrotos, são, a par de náuseas, vómitos, barriga inchada, dor na região abdominal, diarreira e febre, os sinais de alarme a que deverá estar atento neste período.
Para prevenir este problema, prefira alimentos secos e evite os que têm cremes, molhos, maionese, manteiga ou bolos recheados, mesmo embalados. Tenha particular atenção à frescura de ovos, marisco e bivalves. Utilizee uma geleira para transportar os alimentos. Se tiver dúvidas sobre a frescura e refrigeração dos alimentos vendidos em barracas de praia ou nos países muito quentes para onde viaje, não os consuma.
Indigestão
Também é muito comum nesta fase do ano. A indigestão ocorre "se algo perturba o processo normal de digestão, que para ou fica lento. Se fizermos exercício físico intenso depois de comer, o corpo ou envia sangue para os músculos ou para o estômago", explica Pedro Ribeiro da Silva. O mesmo pode suceder ao mergulhar durante a digestão, a menos que a água esteja a uma temperatura idêntica à do corpo, 37º C.
Se estiver exposto ao sol durante muito tempo, devido à vasodilatação nos membros inferiores, também pode suceder, sobretudo em crianças ou idosos. Dor de cabeça, no caso de uma pequena paragem de digestão, dores fortes na zona do estômago e na parte de cima do intestino, cãibras ao fazer exercício e desmaio são os sinais de alarme a que deve estar atento, em caso de indigestão. Perante a ocorrência de algum deles, interrompa o comportamento que pode ter provocado a paragem de digestão. Se necessário, ligue imediatamente para o 112, expondo claramente a situação.
Para prevenir este problema, na praia ou na piscina ou em dias de piquenique no campo, faça refeições leves, cuja digestão não implica um afluxo de sangue significativo ao estômago. Evite, todavia, passar muitas horas sem comer, como chega a suceder. Não se esqueças que três horas é o tempo que deve esperar, após uma refeição, antes de se expor intensamente ao sol, de tomar banho ou de fazer exercício físico.
Golpes de calor
É um dos piores efeitos do calor intenso, apesar de também poder suceder em dias de sol moderado. Ocorre quando o organismo deixa de produzir suor para arrefecer. Em 15 minutos, a temperatura corporal pode atingir 39º C, podendo causar a morte ou danos cerebrais. Esteja atento a sintomas como a febre alta, pele vermelha, quente e sem suor, pulso rápido e forte, cefaleia, tonturas, náuseas, confusão, perda de consciência.
Esgotamento devido ao calor
Em situações extremas de exposição ao calor intenso, podem surgir problemas graves que exigem cuidados médicos urgentes, como é o caso deste problema, que resulta de uma alteração do metabolismo hidro-electrolítico pela perda excessiva de água e de eletrólitos pela sudação. Atente em sintomas como sede e sudação intensa, palidez, cãibras, cansaço, dor de cabeça, náuseas, vómitos, desmaio, pulso que oscila entre fraco e rápido, respiração rápida e superficial.
Retenção de líquidos
Milhares de pessoas sofrem deste problema. "O calor provoca uma vasodilatação venosa e linfática que leva a que o sangue e a linfa não circulem com tanta rapidez e permaneçam mais tempo nas veias e capilares, pelo que começa a passar mais líquido para o tecido intersticial [espaços entre as células], o que se manifesta sobretudo nos membros inferiores", explica o cirurgião vascular Eduardo Serra Brandão.
Inchaço e sensação de peso e cansaço nos pés e pernas são sinais de alarme. Se os tiver, passe as pernas por água fria, massajando cada uma com o chuveiro, de baixo para cima, durante dois minutos, ao final do dia. Quando se sentar para descansar, eleve as pernas ao nível da cintura. Para prevenir a retenção de líquidos, beba um litro e meio a dois litros de água por dia e afaste as pernas do sol. Na praia ou piscina, levante-se, no máximo, de meia em meia hora, para molhar as pernas e permaneça até arrefecerem. Banhe-se regularmente em água salgada.
"Devido à sua alta densidade e riqueza em sódio, puxa o líquido intersticial, aliviando o edema", acrescenta o especialista. Quando não estiver demasiado calor, caminhe durante meia hora a uma hora, a passo ritmado, sem interrupções, "para fazer a drenagem do sangue através dos músculos da barriga da perna e do pé", recomenda ainda. Se possível, ande à beira-mar, com água pelo joelho, para promover a massagem.
Quebras de tensão
A tensão arterial é a "quantidade de sangue que corre nos vasos sanguíneos para chegar às diferentes partes do corpo", explica Pedro Ribeiro da Silva. Na quebra de tensão, "desce abaixo do valor mínimo necessário para assegurar as funções de órgãos vitais", esclarece o especialista. O calor promove a dilatação dos vasos e favorece a perda de líquidos, o que faz diminuir a quantidade de sangue em circulação.
Tonturas, fraqueza e desmaio são os três principais sinais de alarme a que deverá estar atento, particularmente durante os dias de maior calor. Se apresentar estes sintomas, sente-se ou deite-se. De seguida, eleve os pés acima da cabeça, para facilitar a chegada de sangue ao cérebro. Se for hipertenso, em vez disso, coloque uma almofada debaixo da cabeça. Quando se sentir melhor, levante-se progressivamente.
Para prevenir quebras de tensão neste e nos restantes meses do ano em que as temperaturas subam mais, evite permanecer ou praticar exercício em ambientes muito quentes durante longos períodos temporais e beba muitos líquidos, sobretudo água, de forma a compensar as perdas. Evite ainda o excesso de bebidas alcoólicas, tradicionalmente associadas à desidratação. Hidratar-se convenientemente é essencial.
Candidíase, pé de atleta e onicomicose
O calor e a humidade propiciam o desenvolvimento destas infeções que afetam respetivamente a vulva e vagina, os pés e as unhas, pelo que deve protegê-los. Estas infeções transmitem-se pelo contacto com pessoas que as têm ou por objetos ou superfícies contaminadas. Por isso, tome as seguintes medidas preventivas:
- Prefira calçado largo e ventilado
- Após o banho, seque muito bem a pele, especialmente as axilas, virilhas e espaços entre os dedos dos pés
- Não ande descalça em pisos constantemente húmidos, como chuveiros, balneários ou saunas
- Não partilhe os seus utensílios de pedicure nem roupas, calçado, pentes, toalhas ou bonés de outras pessoas
- Observe a pele e o pelo dos seus animais de estimação, sobretudo no caso de ter cães e gatos. Qualquer alteração como descamação ou falhas no pelo, pode ser sinal de uma infeção fúngica
- Evite mexer em terra sem usar luvas
- Consulte o podologista se existir sinal de infecção fúngica nos pés
- Evite usar roupas molhadas muito tempo, sobretudo fato de banho ou roupa interior. Ao sair do mar ou piscina, seque-se rapidamente
- Prefira roupa interior de algodão. Evite roupa interior apertada e cuecas tipo fio dental
- Evite o contacto prolongado com água e sabão.
Otite
Causada por bactérias ou fungos, é uma infeção mais comum no verão do que julga, sobretudo em quem tem a membrana do tímpano perfurada. Como explica Anselmo Pinto, otorrinolaringologista, pode ser causada ou agravada por "banhos sem a devida precaução, devido ao contacto com as águas". O risco de a contrair aumenta "no caso de banhos em rios, muitas vezes poluídos", esclarece ainda este especialista.
Perda total ou parcial de audição, dor, sensação de ouvido tapado e otorreia, nome dado à escorrência pelo ouvido, são os sintomas a que deve estar atento. Caso não tenha história de traumatismo ou perfuração, aplique uma gota de álcool no ouvido aos primeiros sintomas. Aplique uma solução de água salgada por via nasal. Evite a entrada de água nos ouvidos recorrendo a tampões, aconselha ainda o médico.
No caso de ir para a praia ou para a piscina e se esquecer dele, como por vezes sucede, sobretudo quando há crianças e são muitas as coisas a preparar, deixa um conselho. "Um simples algodão com vaselina é eficaz, está sempre limpo e adapta-se perfeitamente ao ouvido", recomenda Anselmo Pinto. Procure o médico se não sentir melhorias, para obter um diagnóstico e indicações de tratamento adequados.
Conjuntivite
É uma inflamação da membrana que reveste o interior das pálpebras e a parte branca do globo ocular. Pode ter origem numa bactéria, num vírus ou numa alergia, as causas mais comuns. Nos meses de verão, o risco é agravado pelo "maior contacto com a água do mar, rio ou piscina" e pela tendência para termos uma "postura mais relaxada face à saúde", como sublinha o médico oftalmologista Luís Gouveia Andrade.
Vermelhidão, ardor, lacrimejo, secreção mucosa e sensibilidade à luz são os principais sinais de alarme. Como prevenir? Segundo o especialista, não é difícil. Basta ter algum cuidado! Lave as mãos frequentemente, evite esfregar os olhos, não partilhe a almofada ou toalha de banho e evite contactos de rosto com rosto. Após o banho na praia ou piscina, aplique nos olhos uma lágrima artificial ou soro fisiológico.
"Ajuda a acalmar e facilita a eliminação de potenciais agentes infecciosos", refere. Evite mergulhar com lentes de contacto. "Oferecem uma superfície excelente para microrganismos aderirem e desencadearem infeção", adverte o especialista. Procure afastar-se de pessoas com quadros gripais, pois "muitos dos agentes que provocam conjuntivite causam também infeções respiratórias", afirma ainda o médico.
Herpes labial
Também é comum neste período. "É uma reinfeção de um vírus adormecido", explica Jorge Rozeira, dermatologista, segundo o qual o primeiro episódio de infeção se manifesta "através de uma reação sistémica tipo gripe, após a qual o vírus permanece no organismo". A par do período menstrual e do stresse, "a radiação solar é um fator desencadeante" de recidiva, afetando os lábios ou outras áreas da face.
Sensação de formigueiro ou prurido à volta da zona afetada e vermelhidão e bolhas que evoluem para feridas de difícil cicatrização dolorosas, como as úlceras, são os sinais de alarme mais comuns nestas situações, como descreve o especialista. Para prevenir o herpes labial, evite o contacto com saliva de pessoas afetadas em fase de contágio, incluindo beijos. Evite ainda a exposição solar da área afetada.
No caso de apresentar sintomas, aplique um antiviral tópico, à venda na farmácia. Se a situação se tornar grave ou muito incomodativa, como pode suceder, consulte de imediato um dermatologista. Tendo em conta que o herpes labial é particularmente contagioso, tenha também a preocupação de não contagiar os que o rodeiam. Além de não lhes dar beijos, deve lavar as mãos se tocar nos lábios.
Queimaduras oculares
Nos meses de maior calor, são muito comuns, ainda que continue a ser grande o número de pessoas que as tende a desvalorizar. Descubra, de seguida, três dos erros mais comuns que não deve, de todo, cometer:
- Exposição prolongada da vista ao sol. "Pode causar lesões por secura da superfície dos olhos, muito dolorosas e que se podem associar a infeção", refere o oftalmologista Luís Gouveia Andrade.
- Olhar diretamente para o sol. "Daí podem resultar queimaduras da retina com perturbação permanente da visão", acrescenta ainda o especialista.
- Utilizar óculos de sol sem proteção anti-UV. A exposição à radiação ultravioleta é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de cataratas e doenças da retina.
Texto: Rita Miguel com Anselmo Pinto (otorrinolaringologista), Eduardo Serra Brandão (cirurgião vascular), Luís Gouveia Andrade (médico oftalmologista), Jorge Rozeira (dermatologista), Manuel Azevedo Portela (podologista), Maria Gil Varela (ginecologista) e Pedro Ribeiro da Silva (médico de medicina geral e familiar)
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