Se a impressão digital nos pode identificar, a voz pode revelar muito da nossa personalidade, trair os nossos pensamentos e, até mesmo, descortinar a nossa sexualidade. A voz é, por isso, uma forte componente da nossa vida pessoal e profissional, sendo possível, através dela, exprimir sentimentos, estados de espírito, vontades, prazeres e até medos, desconfianças e receios. Há que, por isso, cuidá-la bem e protegê-la convenientemente. Conheça as suas características diferenciadoras e descubra os cuidados que esta não dispensa.
A voz é um instrumento poderoso que nos aproxima do outro e é capaz de denunciar o nosso estado de espírito, devendo por isso "ser adequadamente emitida e articulada de forma a permitir um eficaz convívio profissional e social", refere Pedro Amaral, otorrinolaringologista. Se a soubermos usar corretamente, essa utilização pode constituir um trunfo em conquistas pessoais e profissionais, sendo possível recorrer a diversas estratégias de ênfase vocal, como, por exemplo, a mudança do volume.
"Uma voz expressiva, fluente e bem colocada pode transmitir uma imagem muito positiva aos outros, enquanto se for trémula, monocórdica e baça dá uma imagem negativa, podendo interferir na análise de outros aspetos pessoais", afirma também Maria do Rosário Luciano, terapeuta da fala. Ao longo das últimas décadas, foram muitas as investigações científicas que o comprovaram. As cordas vocais são o órgão-mãe da voz e localizam-se na laringe, que é também essencial à sua produção. Para o resultado final, contribuem também as musculaturas abdominal e do tronco, a grelha costal, os pulmões, a faringe, a cavidade oral e o nariz.
Deste modo, a produção da voz, coordenada pelo sistema nervoso central, requer a interação da fonte produtora de uma coluna aérea composta pelos pulmões e por músculos, do modelador que são as cordas vocais e de uma caixa de ressonância que integra a faringe, a boca e o nariz. É, por isso, comparável à produção de som de um instrumento de sopro, como o trompete, como explica a terapeuta da fala. "As cordas vocais funcionam como o trompetista", compara também o otorrinolaringologista.
"Os lábios abrem-se e fecham no bocal do instrumento e o corpo do instrumento funciona como a caixa de ressonância, à imagem das estruturas anatómicas referidas anteriormente", esclarece Pedro Amaral. A produção das palavras é completada pelos movimentos da língua, dos dentes e dos lábios. Segundo o médico, os principais inimigos da voz são "o consumo de medicamentos, de drogas, de tabaco, de cafeína e de álcool". Estão, no entanto, longe de serem as suas únicas ameaças.
Conselhos para uma voz (mais) saudável
Existem outros fatores que podem prejudicar a voz. "As variações hormonais, as doenças do trato respiratório superior e o refluxo gastroesofágico e faringolaríngeo interferem na sua qualidade", refere o otorrinolaringologista. A vida sedentária e o stresse também são nocivos, bem como as variações de temperatura e o abuso e mau uso vocal, nomeadamente através de gritos desnecessários. Os problemas decorrentes de alguns destes fatores podem implicar a necessidade de cuidados médicos especiais.
Em determinadas situações, pode ser necessário recorrer a aulas de voz e até mesmo a terapia da fala. "Sempre que haja uma patologia vocal, quer seja de etiologia orgânica ou funcional, as pessoas devem recorrer à terapia da fala, especialmente os profissionais da voz e quem faz mau uso do seu aparelho vocal", alerta Maria do Rosário Luciano. Beber água, chás e infusões para hidratar a garganta é uma das formas de o preservar. Artistas como a cantora canadiana Celine Dion fazem curas de silêncio para o proteger.
A justificação para as variações de tom
À semelhança do que sucede em todas as áreas da nossa vida, também a voz sofre alterações ao longo da nossa existência. A altura tonal é mais aguda no bebé. Com o crescimento das estruturas da laringe, vai-se tornando mais grave. Durante a puberdade, devido às alterações hormonais que marcam esse período, acontece a chamada muda vocal. O tom médio pode baixar entre 10 a 12 tons no sexo masculino e até 10 tons no sexo feminino.
Aos 18 anos, a voz atinge o estado adulto, embora haja ainda um refinamento a fazer para expandir as habilidades vocais. Na fase adulta, a voz continua a sofrer alterações provocadas pelas hormonas, como seja no período pré-menstrual e menstrual, gravidez e na menopausa. Os 65 anos marcam o declínio da voz. Para assegurar um bom funcionamento do aparelho vocal naturalmente, mantenha a cabeça direita e fale pausadamente.
Os erros a evitar a todo o custo
Há uma série de comportamentos comuns que deve deixar de ter para proteger a sua voz:
- Falar muito alto
- Chorar ou rir excessivamente
- Falar com os dentes muitos cerrados
- Fazer alterações bruscas do tom de voz
- Usar uma intensidade excessiva ou prolongada
- Falar com pouco ar
- Conversar exageradamente
- Tossir excessivamente
- Gritar
- Sussurrar
- Falar em ambientes secos, empoeirados ou ruidosos
- Falar excessivamente durante quadros gripais ou alérgicos
- Falar abusivamente no período pré-menstrual
- Falar muito após ingerir aspirinas, calmantes ou diuréticos
5 regras para cuidar melhor da voz
1. Beber entre sete a oito copos de água à temperatura ambiente por dia.
2. Praticar exercício físico para aumentar a circulação sanguínea.
3. Consumir comida saudável sem excesso de condimentos.
4. Usar roupa confortável.
5. Descansar a voz após um período de uso excessivo.
Os benefícios da terapia da fala
Sabia que, com a terapia da fala, é possível reaprender a utilizar corretamente o aparelho vocal? Esta terapêutica envolve a identificação de comportamentos vocais inadequados, que são depois corrigidos com recurso a técnicas de relaxamento, de mudança e acerto de postura, de controlo da respiração, de eliminação do esforço laríngeo, de modulação da intensidade e de altura tonal. Para além de uma (re)aprendizagem da técnica vocal, também pode contemplar a implementação de um programa de hidratação adequado.
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