Em 2009, o Hospital de Santa Maria foi pioneiro, em Portugal, na colocação de um novo dispositivo cardíaco - o pacemaker de segunda geração - considerado um marco na história dos dispositivos cardíacos implantáveis.
Um ano depois, o exemplo foi seguido por mais sete hospitais portugueses.
O que o torna inovador? O facto de ser compatível com a ressonância magnética, «o exame com maior capacidade de diagnóstico de lesões ainda em fase inicial e que é importante para diagnosticar precocemente doenças mortais como o cancro, o AVC ou outras doenças neurológicas», sublinha Manuel Carrageta, cardiologista e presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.
De facto, até o aparecimento do pacemaker de segunda geração, «os doentes estavam impedidos de realizar a ressonância magnética dado que o aparelho ficaria danificado e poderia ocorrer uma queimadura interna dos tecidos no local do seu implante», explica Manuel Carrageta.
Este novo dispositivo, criado pela Medtronic, é feito de componentes não magnetizáveis para que as ondas electromagnéticas da ressonância magnética não afectem o dispositivo. Desta forma, pode ser utilizado durante este exame sem apresentar riscos para o doente, possibilitando assim o diagnóstico precoce de doenças oncológicas e neurológicas.
A «mecânica» do ritmo cardíaco
Como explica o cardiologista, no nosso coração, «os estímulos nascem ritmicamente a partir do nódulo sinusal, situado na aurícula direita, e têm de passar pelo nódulo auriculoventricular que se situa entre as aurículas e os ventrículos. Há pessoas que têm esse nódulo bloqueado. Com a idade, ele vai perdendo a capacidade de conduzir os estímulos.»
Na prática, quando há um bloqueio auriculoventricular, descreve Manuel Carrageta, «o coração bate muito devagar, cerca de 30 pulsações por minuto. Nestes casos, as pessoas ficam sem energia, sem equilíbrio, sonolentas, sem forças e, podem até desmaiar, porque a quantidade de sangue que é enviada para todo o organismo é insuficiente.»
Neste casos de bloqueio auriculoventricular, o pacemaker – o marcador de ritmo – surge como a solução necessária e indispensável para regular o ritmo do coração.
O funcionamento do pacemaker
O pacemaker «provoca uma descarga eléctrica e transmite ao coração os estímulos necessários para o seu bom funcionamento. Com o pacemaker o coração vai contrair-se ritmicamente à velocidade que decidirmos, geralmente à volta de 60 pulsações por minuto», conta Manuel Carrageta.
Na prática, revela o especialista, «o pacemaker vai substituir a função do nódulo sinusal, que envia um estímulo eléctrico e rítmico, com frequência cardíaca semelhante ao que a pessoa tinha, permitindo que o coração se mantenha com a frequência ideal para assegurar a circulação do sangue, ou seja, que permita levar o sangue a todas as partes do organismo, fornecendo-lhe assim oxigénio que vai alimentar todos os órgãos.»
Graças ao pacemaker, pessoas com problemas de ritmo cardíaco podem recuperar a sua rotina normal, sem qualquer restrição. Em Portugal são implantados cerca de 3500 pacemakers por ano.
Na Europa, contam-se já dois milhões de portadores de pacemaker, calculando-se que 50 a 75 por cento venham a precisar de realizar uma ressonância magnética ao longo da vida.
A cirurgia de implantação do pacemaker
Segundo Manuel Carrageta, a cirurgia que permite a colocação deste pacemaker, «é muito simples» e não difere da implantação dos pacemakers de primeira geração.
A intervenção dura cerca de 40 minutos, exigindo apenas anestesia local e, ao fim de um ou dois dias de internamento, o doente pode regressar a casa.»
«No dia-a-dia, o pacemaker, que tem uma validade de cerca de dez anos, não representa qualquer limitação», assegura ainda, lembrando que «será apenas necessária uma consulta periódica, de seis em seis meses, para vigiar o funcionamento do aparelho».
Leia o testemunho de uma jornalista que assistiu à implantação de um pacemaker aqui.
Texto: Sofia Cardoso com Prof. Manuel Carrageta (presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia)
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