A ativação deste músculo é desencadeada por um impulso elétrico que se origina, automaticamente, em células especializadas, a uma determinada frequência cardíaca (número de batimentos por minuto), dependente da gestão de um sistema regulador (sistema nervoso autónomo).

É de salientar a grande capacidade do coração pois se consideramos uma frequência cardíaca de 70 por minuto, representa um número de batimentos superior a 100.000 e um volume de sangue ejetado de cerca de 7.200 litros por dia.

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As arritmias

Quando existe uma alteração na geração dos estímulos elétricos ou uma perturbação da condução deste impulso, ao longo do coração (bloqueios), surgem as arritmias que podem desencadear batimentos lentos, rápidos ou irregulares, traduzindo-se, habitualmente, em palpitações (sensação da alteração do batimento cardíaco). Por vezes podem não provocar sintomas ou manifestarem-se por outro tipo de queixas, tais como, cansaço, falta de ar, tonturas, dor torácica opressiva ou mesmo por desmaio.

As arritmias podem ser benignas, não traduzindo doença primária do coração, mas serem o reflexo do incumprimento de um estilo de vida saudável, como por exemplo, ausência de exercício regular com descondicionamento físico (inadaptação às exigências da vida dos dias de hoje), do consumo excessivo de álcool, da privação do sono.

Noutras situações, se associadas a fatores de risco cardiovasculares (ex. tabagismo, obesidade, hipertensão, colesterol elevado, diabetes mellitus, etc) e, particularmente, em contexto de alterações da estrutura do coração (ex. sequelas de enfarte do miocárdio), podem ser graves, por vezes mesmo potencialmente fatais – risco de morte súbita.

A arritmia crónica mais frequente na prática clínica denomina-se fibrilhação auricular (estimada em 2,5% da população portuguesa acima dos 40 anos e superior a 6% acima dos 60 anos) e resulta da desorganização da ativação elétrica das aurículas, levando à incapacidade mecânica. Como consequência, surge estagnação do sangue nestas cavidades o que favorece o aparecimento de coágulos. Se se verificar migração para a circulação podem provocar a obstrução das artérias, nomeadamente a nível do cérebro, provocando um AVC (a fibrilhação auricular aumenta em 5 vezes o risco de AVC).

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A fibrilhação auricular é muitas vezes silenciosa e, por isso, de difícil diagnóstico. No entanto, esta arritmia deve ser sempre pesquisada, nomeadamente quando a causa do AVC não é identificada (AVC criptogénico) no estudo inicial (20 - 40% dos casos). Ela é responsável por cerca de 30% destes eventos que, habitualmente, têm maior gravidade e mortalidade, e um risco de recidiva avaliado em 10 – 12% ao ano. A identificação da arritmia é crucial para que sejam tomadas as medidas terapêuticas adequadas que passam por medicação que fluidifica o sangue (hipocoagulação oral).

O diagnóstico desta arritmia baseia-se na realização de um ECG e de um Holter (monitorização do ECG durante 24 – 48 horas), bem como na avaliação da estrutura do coração através de um ecocardiograma. Em algumas situações são necessários exames adicionais.

Quando permanece por esclarecer a causa do AVC, está indicado aumentar o tempo de monitorização do ritmo do coração, com um Holter de longa duração que pode ir até 15 dias mas, muitas vezes, todo este estudo é negativo.

Para ultrapassar esta limitação, foi desenvolvido um novo dispositivo, de reduzidas dimensões, que de uma forma pouco invasiva é injetado sob a pele ao nível do tórax, e que permite uma vigilância diária do ritmo cardíaco até um período de 3 anos (detetor de eventos sub-cutâneo). Estes dispositivos comunicam com um aparelho (via wireless) que é ligado à corrente elétrica de casa e que transmite informação diretamente ao médico ou para a equipa do hospital (monitorização remota), sempre que se verifica uma ocorrência importante.

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Estes aparelhos são, também, um auxiliar diagnóstico de grande valia no esclarecimento da causa da síncope, nomeadamente quando surge com grandes intervalos de tempo entre os episódios, mas que pode estar associada a potencial risco de vida.

Promover um estilo de vida saudável

Em conclusão, é importante promover um estilo de vida saudável que ajude a manter um bom funcionamento do coração. É possível, assim, evitar de forma significativa a ocorrência de arritmias que em alguns casos podem ter consequências muito graves.

A sensibilização da população para o reconhecimento de sintomas de alarme é primordial para que seja colocado em prática o plano diagnóstico. Quando a causa permanece por esclarecer, é necessário prolongar a vigilância do ritmo cardíaco, através dos meios técnicos hoje já disponíveis, de forma a permitir tomar as medidas terapêuticas mais adequadas.

Um artigo do médico António Hipólito Reis, especialista em Cardiologia.