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Gera perturbações do sono, problemas ortopédicos, gastrointestinais, cardiovasculares e diabetes
A obesidade é um dos problemas de saúde que mais afeta a população e cada vez mais cedo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2010 estimou-se que globalmente existiam mais de 42 milhões de crianças com menos de 5 anos com excesso de peso.
Em Portugal, não existem dados concretos sobre a obesidade nas crianças entre os 1-3 anos de idade, mas profissionais de saúde estimam que 30% destas crianças tenham excesso de peso e a tendência é para aumentar.
Deste modo, a obesidade infantil é já encarada como um problema de saúde pública, estando associada à probabilidade de desenvolver obesidade na idade adulta e levando a perturbações no sono, problemas ortopédicos, distúrbios gastrointestinais, doenças cardiovasculares e diabetes.
Educação alimentar
É importante que os pais percebam que é na infância que se inicia o desenvolvimento de hábitos alimentares, que começam a tomar forma a partir do 1º-2º anos de idade. Assim os pais são os principais responsáveis pela nutrição da criança, pelo que devem tomar as decisões certas para garantir um futuro saudável aos seus filhos.
Em Portugal, apenas cerca de metade das mulheres amamenta até aos 2-3 meses e menos de 20% preenche as recomendações da OMS, ou seja, mantem o aleitamento materno em exclusivo até o mais próximo possível do 6º mês de vida.
A diversificação alimentar, que deveria ser iniciada entre os 4-6 meses de idade, é frequentemente iniciada precocemente, a partir dos 3-4 meses, contribuindo para riscos nutricionais futuros.
Também em Portugal, o leite de vaca ainda é por vezes oferecido ao bebé precocemente, a partir dos 8 a 9 meses. O leite de vaca (pasteurizado e UHT) tem uma composição nutricional inadequada para esta idade, com um baixo teor de ferro e um elevado teor proteico, e nunca deve ser utilizado, pelo menos, no primeiro ano de vida. Segundo a Sociedade Portuguesa de Pediatria, é aconselhável a utilização de “leites infantis” até aos 24 a 36 meses de vida, dada a baixa qualidade nutricional do leite de vaca em natureza, como foi já referido.
A ideia preconcebida, mas incorreta, de que a criança “gordinha” é a mais saudável leva os pais a oferecer quantidades excessivas de alimentos calóricos à criança. As crianças não devem ser vistas como mini-adultos e um dos principais erros na alimentação dos mais pequenos é a quantidade/qualidade de alimentos ingerida.
O consumo de produtos destinados à alimentação infantil oferece assim um equilíbrio adequado de nutrientes por refeição, favorecendo uma alimentação adequada a cada idade. Não se esqueça que o que dá hoje ao seu filho, reflecte-se para o resto da vida.
Por Carla Rêgo, Médica Pediatra do Hospital Cuf Porto e coordenadora da Equipa Multidisciplinar para o Tratamento da Obesidade Infantil no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital Cuf Porto.
Carla Rêgo é ainda fundadora e Presidente do Grupo Nacional de Estudo e Investigação em Obesidade Pediátrica
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