A incidência de cancro aumenta com o avançar da idade e, em mais de 60% dos casos, os doentes têm idade superior a 65 anos na altura do diagnóstico.
Os recentes avanços no diagnóstico e nas terapêuticas oncológicas têm-se traduzido num aumento significativo de sobreviventes – cerca de 44 milhões em todo o mundo - e prevê-se que continue a aumentar –que já é conhecido como “tsunami grisalho”. De facto, com o sucesso das novas terapêuticas assiste-se a uma mudança de paradigma, passando o cancro a ser considerado uma doença crónica.
Todavia, esta nova população de sobreviventes, acumula várias comorbilidades, o que coloca importantes desafios ao seu tratamento. Têm uma incidência aumentada de fatores de risco cardiovasculares (FRCV), alguns deles em comum com o cancro (diabetes, obesidade, sedentarismo, tabagismo) e, de doença cardiovascular (DCV), não apenas devido ao envelhecimento populacional global, mas sobretudo devido aos efeitos cardiotóxicos e angiogénicos tardios das terapêuticas oncológicas.
De facto, as DCV são a principal causa de morbilidade e mortalidade não-oncológica nestes doentes.
Em comparação com a população geral, estes doentes têm uma taxa de mortalidade oito vezes maior, uma taxa 15 vezes maior de insuficiência cardíaca (IC), 10 vezes superior de doença coronária (DC) e 9 vezes maior de acidente vascular cerebral (AVC), e esta alta incidência de eventos cardiovasculares secundários às terapêuticas oncológicas (farmacológica e radioterapia) pode persistir por toda a vida.
Portanto, é imperativo alertar a comunidade médica e os doentes para esta nova realidade, de forma a melhorar a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento das DCV nesta população de sobreviventes.
Será também muito importante preparar a transição destes doentes das consultas hospitalares (oncologia; hemato-oncologia; radioterapia; cardiologia) para os médicos de família, com protocolos de seguimento em que para além da deteção da recurrência tumoral esteja também incluída a monitorização cardíaca para possibilitar a deteção atempada e o tratamento dos eventos cardiovasculares tardios, em particular a DC e a IC.
Um artigo de opinião da médica Manuela Fiúza, especialista em Cardiologia.
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