Estima-se que 20% das pessoas com esclerose múltipla apresentem uma nevrite ótica como primeira manifestação da doença.
A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crónica e degenerativa do sistema nervoso central, sendo a principal causa de incapacidade neurológica não traumática nos adultos jovens. Caracteriza-se pela degradação da mielina, uma substância que reveste e protege as fibras nervosas e que é essencial para a condução eficiente dos impulsos nervosos. Um erro do sistema imunitário leva a que a mielina seja considerada um corpo estranho e seja atacada, dando início a um processo inflamatório que se desenrola por fases ou surtos.
As manifestações da EM variam muito de uma pessoa para outra, tanto na natureza dos sintomas, como na gravidade e na progressão da doença. As queixas visuais são particularmente comuns e são frequentemente um dos primeiros sintomas, podendo ter um importante impacto na visão e na qualidade de vida dos doentes.
Estima-se que 20% das pessoas com EM apresentem uma nevrite ótica como primeira manifestação da doença. Trata-se de uma inflamação do nervo ótico (o nervo da visão), que se carateriza por perda de visão de um olho e se desenvolve ao longo de dias. Frequentemente, associa-se a dor ocular ao movimentar os olhos e à perceção anormal das cores. Durante o curso da doença, cerca de 70% dos doentes terão pelos menos um episódio de nevrite ótica. Embora na maioria dos casos ocorra uma boa recuperação da visão, alguns doentes podem ficar com défices permanentes.
Os efeitos da EM no sistema visual não se limitam à nevrite ótica. A EM pode ainda causar descoordenação dos músculos oculares, resultante de lesões nas áreas do cérebro que controlam o movimento dos olhos. Quando os olhos não estão coordenados, surgem duas imagens, a diplopia. Outro sintoma possível é o nistagmo, que se caracteriza por movimentos involuntários e rápidos dos olhos, prejudicando uma visão estável.
Assim, as manifestações oftalmológicas podem servir como um importante alerta e permitir o diagnóstico mais precoce de esclerose múltipla. Por outro lado, a vigilância contínua de sintomas visuais em doentes com EM é crucial, não só para melhorar o prognóstico visual, mas também para o controlo eficaz da doença.
Um artigo de Lígia Ribeiro, médica oftalmologista e coordenadora do Grupo Português de Neuroftalmologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO).
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