
A esclerose múltipla é uma doença autoimune crónica que afeta o sistema nervoso central (cérebro e espinal medula), caracterizada por inflamação, desmielinização (destruição da bainha de mielina que reveste as células do sistema nervoso), e neurodegeneração, levando a diversas manifestações clínicas, como fadiga, comprometimento sensorial e disfunção cognitiva. A doença é frequentemente diagnosticada entre os 20 e os 30 anos de idade e, à semelhança de outras doenças autoimunes, atinge com maior incidência as mulheres. Trata-se de uma doença neurológica que pode afetar significativamente as capacidades físicas e a qualidade de vida dos doentes, constituindo a principal causa de incapacidade neurológica nos adultos jovens.
Estimativas recentes (2020) referem uma prevalência de esclerose múltipla de 2,8 milhões de doentes a nível mundial. Em Portugal, estima-se em oito mil as pessoas com esta doença. As manifestações da doença variam de pessoa para pessoa e, em cada pessoa, os sintomas variam ao longo do tempo. Os tratamentos atualmente disponíveis são dirigidos à regulação do sistema imunitário, não conseguindo, no entanto, impedir a progressão da doença nem reverter os danos no sistema nervoso central.
Um artigo de revisão recentemente publicado na revista científica Frontiers in Cell and Developmental Biology destaca o potencial das células estaminais mesenquimais (MSCs) como uma abordagem terapêutica promissora para a esclerose múltipla, devido às suas propriedades imunomoduladoras (de regulação do sistema imunitário, ajudando a reduzir a inflamação), neuroprotetoras (protegendo os neurónios de outros danos) e regenerativas (promovendo a remielinização e a regeneração neuronal).
Os autores do artigo analisaram estudos pré-clínicos (em modelos animais) e ensaios clínicos (em humanos) que avaliaram a segurança, eficácia e limitações da terapia com MSCs em diferentes tipos de esclerose múltipla. Nos estudos alvo desta análise, as MSCs foram obtidas a partir de medula óssea, tecido adiposo, tecido do cordão umbilical, entre outras fontes. Os resultados indicam que as MSCs podem reduzir a atividade inflamatória, promover a reparação da mielina e melhorar a função neurológica. Apesar dos resultados promissores, para a implementação clínica eficaz da terapia com MSCs é necessário continuar a investigação no sentido de determinar a melhor via de administração das células, estabelecer a dose mais adequada e a frequência ideal de tratamento e ainda como combinar as MSCs com os tratamentos já existentes. Assim, segundo os autores, embora ainda existam várias questões com necessidade de resposta, a terapia com MSCs tem potencial para poder revolucionar o tratamento da esclerose múltipla, constituindo uma abordagem que, conjuntamente com os tratamentos existentes, poderá melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes.
Carla Cardoso
Diretora Investigação & Desenvolvimento da Crioestaminal
Comentários