Maio, Mês do Coração é celebrado com várias atividades dedicadas à saúde cardiovascular, organizadas pela Fundação Portuguesa de Cardiologia. A Fibrilhação Auricular (FA), alteração mais comum do ritmo cardíaco, é responsável por 20% dos AVC’s em Portugal. Numa entrevista exclusiva ao SAPO Saúde, o cardiologista Pedro Monteiro desmistifica esta doença de início súbito que continua a ser a principal causa de morte em Portugal.

ENTREVISTA:

O que é um Acidente Vascular Cerebral (AVC)?
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é caracterizado pela perda rápida de função neurológica, que decorre quando os vasos sanguíneos cerebrais se rompem ou entopem. O AVC acontece quando as células cerebrais morrem ou deixam de funcionar normalmente porque lhes falta o oxigénio e os nutrientes, por bloqueio do fluxo sanguíneo, ou porque uma artéria se rompe e são inundadas de sangue.

O AVC é uma doença de início súbito, que pode ocorrer por dois motivos: Isquémia (falta de suprimento sanguíneo para um tecido orgânico) ou hemorragia. Nos dois tipos de AVC’s o resultado é o mesmo: as células da área afetada morrem, causando consequências que podem ir desde a morte, até paralisias, problemas de fala, de visão, de memória, entre outros.

No contexto de uma Fibrilhação Auricular, os AVC’s resultam de coágulos sanguíneos. Estes acontecem quando se acumula sangue no coração e as cavidades superiores do coração não se contraem corretamente. O sangue acumulado nas aurículas e forma coágulos, que se podem deslocar através da corrente sanguínea e bloquear o afluxo de sangue ao cérebro, causando um AVC.

Como se traduz a Fibrilhação Auricular (FA)?

A Fibrilhação Auricular é uma forma de arritmia cardíaca em que as aurículas apresentam movimentos irregulares. Traduz-se em batimentos irregulares do coração que fazem com que o sangue não flua corretamente, provocando a formação de coágulos. Estes coágulos, quando passam para o cérebro, podem causar danos irreversíveis.

A Fibrilhação Auricular é a alteração mais comum do ritmo cardíaco em adultos de todo o mundo, afetando mais de nove milhões de pessoas na União Europeia e nos Estados Unidos. Em Portugal, 2,5% dos adultos com mais de 40 anos tem Fibrilhação Auricular, estimando-se que uma em cada 4 pessoas vai desenvolver Fibrilhação Auricular ao longo da sua vida.

Qual a relação entre AVC e FA?

Os AVC’s acontecem no contexto de uma Fibrilhação Auricular quando se acumula sangue no coração, em virtude de as cavidades superiores do coração não se contraírem corretamente. O sangue acumula-se nas aurículas e forma coágulos, que se podem deslocar através da corrente sanguínea e bloquear o afluxo de sangue ao cérebro, causando um AVC.

Um AVC é o equivalente cerebral a um ataque cardíaco. O fluxo deve fluir para e através do cérebro, para permitir que este funcione corretamente. Se este fluxo for bloqueado por um coágulo, o cérebro perde o seu fornecimento de oxigénio e energia, causando danos que podem levar à incapacidade ou à morte.

A Fibrilhação Auricular é um dos fatores de risco mais importantes dos acidentes vasculares cerebrais. As pessoas com Fibrilhação Auricular possuem um risco cinco vezes superior, de terem um acidente vascular cerebral do que as pessoas que não têm este problema. Anualmente, o número de pessoas que têm um acidente vascular cerebral relacionado com a Fibrilhação Auricular atinge três milhões de pessoas.

Os acidentes vasculares cerebrais relacionados com a Fibrilhação Auricular tendem a ser mais graves, incapacitantes e causadores de morte, do que os outros tipos de acidentes vasculares cerebrais. Esta situação constitui um imenso peso para as famílias e os serviços de cuidados de saúde nacionais. Efetivamente, na Europa e Estados Unidos, os acidentes vasculares cerebrais relacionados com Fibrilhação Auricular, custam mais de 11 mil milhões de Euros por ano aos sistemas de cuidados de saúde.

O que causa a Fibrilhação Auricular?

O risco de Fibrilhação Auricular aumenta com a idade. Ela afeta 1% dos adultos em todo o mundo. Uma em cada quatro pessoas com idade superior a 55 anos desenvolverá o problema. A Fibrilhação Auricular é mais comum em pessoas que têm doença cardíaca ou condições relacionadas com o coração, como a insuficiência cardíaca.

São conhecidas as seguintes condições e fatores do estilo de vida que podem desencadear Fibrilhação Auricular:
• Tensão arterial elevada
• Situações de obesidade ou excesso de peso
• Diabetes
• Glândula tiróideia hiperativa
• Cancro do pulmão
• Consumo excessivo de álcool

Quais os diferentes graus de dependência dos doentes AVC?
O AVC tem consequências físicas e psicológicas que obrigam a um processo de reabilitação específico. Mais de metade dos doentes que sofre um AVC e sobrevive, fica dependente de terceiros para os seus cuidados de vida diária.

Os AVCs relacionados com a Fibrilhação Auricular tendem a ser mais graves, incapacitantes e causadores de morte. Esta situação constitui um imenso peso para as famílias e os serviços de cuidados de saúde nacionais.

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