Um estudo publicado recentemente por um grupo de investigadores, baseado num inquérito realizado a 10.519 portugueses no início do estado de emergência, comprova o significativo impacto negativo da pandemia na saúde mental. Quase metade (49.2%) reportou impacto psicológico moderado ou grave, variando os níveis de depressão, ansiedade e stresse entre os 12% e os 30% da amostra.
Embora ainda não existam estudos, é opinião quase unânime entre a comunidade científica de que as consequências para a saúde mental serão mais duradouras e poderão atingir o seu pico após a pandemia ter sido ultrapassada. Esta opinião é consubstanciada no facto de estarmos a viver uma crise socioeconómica que afetará inevitavelmente a saúde mental. Importa, pois, chamar a atenção sobre a necessidade de reforçar os apoios para a saúde psicológica.
O papel do psicólogo junto dos profissionais de saúde, governo e população
Podemos identificar três grupos que têm beneficiado, ou podem beneficiar, da ajuda do psicólogo: os profissionais de saúde, os decisores políticos e os cidadãos.
No que respeita aos profissionais de saúde, sobretudo os que estão na “linha da frente” no combate à COVID-19, estes têm manifestado fadiga e medos diversos associados ao desempenho da função, bem como, ao mesmo tempo, um sentimento de impotência face à gravidade da doença. Aqui o psicólogo oferece um apoio fundamental na tentativa de atenuar os impactos psicológicos negativos, como o Burnout ou Perturbação de Stress Pós-Traumático.
Quanto aos decisores políticos - que incluem o Governo, DGS, autarquias e autoridades policiais -, o psicólogo aporta o conhecimento que tem sobre o comportamento humano, que tem sido sem dúvida fulcral para os aconselhar sobre a previsibilidade dos impactos esperados aquando da tomada de determinadas decisões. Destacamos aqui o seu papel no apoio ao desenho das medidas associadas à declaração do estado de emergência e calamidade.
Por fim, ao nível dos cidadãos, o seu papel é essencial na promoção do bem-estar mental/psicológico do paciente e dos seus familiares. Em particular, tem sido fundamental garantir o apoio de doentes com COVID-19, pessoas com doença mental preexistente, grupos de risco, desempregados e pessoas que vivem em zonas de elevado risco de contágio.
O papel da Ordem dos Psicólogos
Desde a primeira hora que a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) tem acompanhado o enorme e complexo desafio que enfrentamos com a COVID-19, tendo sido responsável pela conceção, formação e supervisão clínica da Linha de Aconselhamento Psicológico: um serviço com 63 psicólogos disponibilizado através da linha telefónica SNS24, a funcionar desde o dia 1 de abril, fruto de uma parceria entre o Governo e a Fundação Calouste Gulbenkian.
A OPP esteve ainda envolvida na elaboração de documentos sobre os riscos nas áreas do comportamento, saúde pública e psicológica, que serviram de base para tomadas de decisões politicas, bem como foram disponibilizados conteúdos e conhecimento, contribuindo para a literacia da população e fomentado o debate público.
Linhas e serviços de apoio psicológico gratuitos
Tem existido uma grande necessidade (e procura) de serviços de apoio psicológico, e é expectável que essa necessidade aumente substancialmente, devido às consequências da pandemia de longo prazo para a saúde mental. Onde poderá procurar apoio psicológico? Eis alguns dos principais serviços disponíveis gratuitamente.
Serviço de Aconselhamento Psicológico da linha telefónica SNS24
Este serviço está disponível para a população geral, incluindo os profissionais de saúde, através do número 808 24 24 24, opção 4. Conta com 63 psicólogos. Entre 1 de abril e 11 de maio atendeu uma média de 233 chamadas por dia. No total, foram atendidos 8496 utentes do SNS e 971 profissionais de saúde.
SOS Voz Amiga
Esta linha telefónica já existe à vários anos e surgiu com o objetivo de prevenir o suicídio em Portugal. Foi reformulada com o aparecimento da pandemia e agora destina-se a disponibilizar ajuda a “todos aqueles que se encontram em situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão ou risco de suicídio”. Esta disponível através dos números 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660. Entre março e abril atendeu 1700 chamadas, um aumento significativo (+50%) em comparação com fevereiro.
Sociedade Portuguesa de Psicanálise
Este serviço disponível através do número 300 051 920, é da responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Psicanálise e foi criado em 25 de março. Conta com 60 psicólogos, psicanalistas, psiquiatras e pedopsiquiatras e tem como objetivo “ouvir, conter, devolver, para tranquilizar as pessoas”, que estão “muito aflitas e ansiosas com a situação que estamos a viver”.
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
A Santa Casa disponibiliza um serviço de apoio psicológico gratuito através da internet, descrito como um “projeto nacional de sessões de apoio online para uma intervenção psicológica em crise, gratuito e rápido para promover a saúde mental durante a epidemia Covid-19”. Funciona por videochamada e entre 3 de abril e 18 de maio realizou mais de 600 sessões (embora já tenham ultrapassado os 1000 pedidos de marcação de consulta).
Além dos serviços aqui mencionados, o SNS tem continuado a atender os utentes, tendo-se verificado um aumento significativo do número de consulta de psiquiatria de seguimento. Muitos outros apoios estão disponíveis, em particular ao nível local. Várias câmaras municipais abriram linhas de apoio psicológico, com o objetivo de ajudar a combater a solidão e isolamento durante a fase de quarentena. Poderá informar-se sobre quais são os serviços disponíveis na sua zona de residência.
Ao nível dos apoios para profissionais de saúde, podemos referir, entre outros, os serviços disponibilizados pela Ordem dos Médicos, Ordem dos Enfermeiros, Sociedade Portuguesa de Psicanálise (já aqui referido), Centro Hospitalar Universitário de Santa Maria (Lisboa), Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto), Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e Administrações Regionais de Saúde.
E qual tem sido o papel dos psicólogos da PsicoAjuda? Além de termos continuado a prestar os serviços de psicologia ao nossos pacientes, em muitos casos recorrendo ao telefone e à videoconferência, desde cedo percebemos que esse apoio teria que ir para além da consulta de psicologia. Uma vez que alguns dos nossos pacientes trabalham nos hospitais da região de Leiria e estavam na linha da frente no combate ao COVID-19, tomamos a iniciativa de oferecer alguns alimentos no fim dos turnos como forma de manifestar a nossa gratidão e reconhecimento pelo trabalho que eles estavam a realizar
A minha mensagem final para si é que não tenha medo de procurar ajuda. Se necessitar de apoio psicológico poderá recorrer quer aos nossos serviços, quer aos serviços públicos disponíveis lneste artigo. E tenha esperança que vai ficar tudo bem.
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria
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