O número de novos casos tem vindo progressivamente a aumentar, particularmente nos últimos 30-40 anos. Este aumento deve-se principalmente a estilos de vida que progressivamente se foram instalando, destacando-se o excesso de peso, o sedentarismo e a dieta. A propósito de dieta, merece a pena lembrar o que hoje se considera recomendável para a prevenção de várias doenças oncológicas mas que também é válido para tantas outras patologias: restrição calórica, rica em fibras, alimentos frescos, variados, controle do consumo de carne (especialmente “vermelhas” e processadas) bem como de álcool. E, já agora que falamos de cancro, não fumar!

O crescente aumento do número de novos casos, no entanto, tem-se acompanhado de melhor controle da doença, traduzido proporcionalmente por uma menor mortalidade. Porquê? Na minha perspetiva, por três ordens de razões: diagnóstico mais precoce, tratamentos mais eficazes e maior acesso quer a diagnóstico quer a tratamentos

O diagnóstico mais precoce tem sido (ou deve ser) o resultado de duas ordens de razões:

  1. Programas de rastreio: ou seja, o indivíduo saudável, sem queixas, vai fazer, por rotina, um exame com esse objetivo (colonoscopia ou, pelo menos, uma análise chamada pesquisa de sangue oculto nas fezes – nomeadamente a partir dos 50 anos). O exame, a frequência com que deve ser repetido ou a idade a partir da qual deve ser feito pode ser diferente de acordo com situações específicas que o especialista deverá indicar
  2. O aparecimento de sintomas deve justificar uma adequada valorização, a saber: avaliação médica atempada e a realização de exames de diagnóstico adequados (e igualmente atempados). A propósito do cancro colorretal vale a pena lembrar queixas que merecem a atenção médica: alteração do funcionamento do intestino (quer no sentido de diarreia, quer no sentido de prisão de ventre), sensação de querer evacuar várias vezes, dores abdominais ou aparecimento de sangue nas fezes

Também os tratamentos disponíveis têm contribuído para melhores resultados. Quer com cirurgia (técnicas cirúrgicas e cirurgiões mais dedicados a este tipo de doença), quer com tratamentos medicamentosos (quimioterapia e não só) mais sofisticados e com maior variedade, quer com radioterapia, todos eles individualmente ou em combinação têm contribuído para uma maior probabilidade de cura ou, pelo menos, para um maior controle da doença.

Mas há que recordar: os avanços registados no controle desta doença são fruto de avanços tecnológicos e humanos (especialização) mas estão também em relação direta com a precocidade com que se chega quer ao diagnóstico quer ao tratamento. O cancro não é uma doença “sossegada”, evolui e agrava com o passar do tempo.

Nestes tempos de pandemia, de confinamento, de resistência a sair de casa, há que lembrar que “não há regra sem excepção”: e sem qualquer sombra de dúvida, o aparecimento de queixas (como as referidas) constituem uma justíssima causa – obrigatória! – para sair de casa e procurar ajuda médica. Esperar pode significar perder a oportunidade de cura.

Um artigo do médico António Quintela, oncologista no Hospital CUF Descobertas.