Estamos a combater o cancro da forma mais correta? A pergunta tem sido, por diversas vezes, colocada por muitos especialistas em conferências e colóquios internacionais. Nos países mais desenvolvidos, tem muito muito o esforço e o investimento para conseguir transformar, no mínimo, o cancro numa doença crónica. Em 2035, estima-se que o número de novos casos atinja os 24 milhões.

Nos últimos anos, para esperança de muitos, têm sido anunciados novos métodos de despiste e de tratamento desta patologia. Estes são alguns dos que tiveram maior eco na comunicação social:

- Calor como substituto de fármacos na eliminação de tumores

O especialista Ishwar Puri, da Universidade de Virginia Tech, nos Estados Unidos da América, está a investigar uma nova técnica alternativa à quimioterapia que aumenta a temperatura das células cancerígenas até que morram, sem atacar os tecidos circundantes. Este novo tratamento consiste em aquecer o tumor, e só o tumor, a 56º C, de forma a manter os tecidos saudáveis circundantes a não mais de 41º C.

Para consegui-lo, são injetados no paciente fluidos com compostos de ferro, que polarizam mediante um campo magnético e são dirigidos aos tecidos cancerígenos que hiper-aquecem com alta frequência.

- Investigadores portugueses identificam mecanismo na origem do cancro da bexiga

Investigadores do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em Lisboa, identificaram o mecanismo que pode levar ao cancro da bexiga a partir de schistosomose. Esta é uma das infeções parasitárias mais graves do mundo e existe de forma endémica nos países africanos e é transmitida em cursos de água contaminados. A equipa de investigação observou, em doentes infetados, os valores de estradiol, uma hormona sexual produzida pelos folículos ovarianos, acima do normal.

Os ovos do parasita apresentam moléculas que provocam lesões no ADN e que, se não reparadas pela maquinaria genética das células, podem levar a uma mutação que causa o tumor. Estas moléculas poderão ser usadas como biomarcadores, para perceber a vulnerabilidade dos doentes infetados com o parasita para contrair cancro ou como alvo terapêutico, para impedir a infeção.

- Novo medicamento contra o cancro do pulmão

A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) aprovou a utilização hospitalar do pemetrexedo, um medicamento inovador com baixa toxicidade. Este fármaco já era utilizado desde 2004 no tratamento em segunda linha do cancro do pulmão, tendo sido agora indicado para o tratamento em primeira linha deste tipo de cancro. O objetivo da terapêutica é aumentar a qualidade de vida dos doentes e minimizar os sintomas, bem como os efeitos secundários da medicação, potenciando a recuperação da capacidade funcional e profissional.

Um vasto programa de ensaios clínicos demonstrou a vantagem terapêutica deste tratamento num número significativo de doentes. Entidades como o NCCN (National Comprehensive Cancer Network) reconhecem e recomendam a administração deste fármaco por aliar à eficácia uma toxicidade inferior à de outras alternativas terapêuticas.

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- Teste não invasivo de despiste do cancro do cólon e do reto já disponível em Portugal

Já está disponível em Portugal o primeiro teste não invasivo para deteção do cancro do cólon e do reto. Trata-se de uma simples análise ao sangue que permite detetar o bloqueio de um gene que ocorre em mais de 90 por cento dos doentes com esta patologia. Criada pelo laboratório português CGC Genetics, Centro de Genética Clínica, esta técnica não invasiva e indolor permite a deteção precoce do cancro com uma incidência anual de 7.000 novos casos.

A análise pode ser efetuada a qualquer pessoa, mesmo sem sintomas da doença. Se o resultado for positivo, é aconselhada a realização de uma colonoscopia, de forma a obter um diagnóstico assertivo e começar a terapêutica o mais cedo possível.

- Terapia personalizada contra o cancro cerebral

Foi desenvolvido em ensaio clínico um tratamento de imunoterapia que consiste em aplicar vacinas produzidas com células saudáveis e tumorais do próprio paciente. O ensaio feito na clínica da Universidade de Navarra, em Espanha, permite tratar o gliobastoma, um dos tumores cerebrais mais agressivos e frequentes. A terapia funciona como complemento do tratamento standard de cirurgia.

A técnica, que seguida de radio e/ou quimioterapia, procura aumentar a sobrevivência dos pacientes com gliobastoma, consiste em obter células do tumor, multiplicá-las e reinjetá-las por via intradérmica para que possam ser atacadas pelas defesas naturais do paciente, tal como acontece com vírus ou bactérias.

- Novo tratamento contra o cancro cutâneo

A agência americana do medicamento (FDA) aprovou a comercialização de um medicamento para tratar o melanoma, a forma mais mortal de cancro da pele. Este novo medicamento como o nome de Vemurafenib está indicado para tumores que expressam uma mutação genética chamada BRAF V600E que afeta metade dos pacientes com melanomas em estádio avançado. O medicamento foi aprovado juntamente com um teste que determina se as células de melanoma dos pacientes sofrem esta mutação genética.

A segurança e eficácia foram determinadas com base num estudo com 675 pacientes, em que metade tomou o medicamento e a outra metade foi sujeita a quimioterapia tradicional. Cerca de 77% dos primeiros pacientes ainda estão vivos, contra 64% dos últimos.  Em março de 2011, a FDA aprovou o Ipilimumab, outro tratamento para estádios avançados de melanoma.

- Vírus que mata células cancerígenas

Chama-se vírus adeno-associado de tipo 2 (AAV2) e, normalmente, infeta o ser humano sem causar doenças. Investigadores do Penn State of College Medicine mostraram que, em laboratório, pode matar três tipos diferentes de cancro da mama. Em pratos de cultura de tecidos, 100% das células cancerígenas foram destruídas pelo vírus em sete dias.

Os investigadores acreditam que atua ativando proteínas específicas que permitem que células saudáveis cometam suicídio, um mecanismo que, frequentemente, está desligado em células cancerígenas. No ser humano, o uso do AAV2 poderia despoletar a ação do sistema imunitário para o remover, pelo que é necessário continuar a investigação sobre o seu potencial enquanto tratamento.

Veja na página seguinte: O teste sanguíneo que deteta o cancro no fígado

- Teste sanguíneo que deteta o cancro no fígado

A Siemens Healthcare lançou, nos últimos anos, o primeiro painel de biomarcadores direto, estandardizado e automatizado para a fibrose hepática, um dos principais indicadores de doenças hepáticas crónicas, como a cirrose hepática e o cancro do fígado. Este novo sistema de análise permite aos laboratórios fornecer resultados em 60 minutos.

O novo teste sanguíneo avalia a gravidade da doença, combinando três biomarcadores serológicos diretos num algoritmo. O resultado é um valor que corresponde ao nível de fibrose hepática equivalente aos avaliados por meio de uma biopsia ao fígado, o procedimento standard para o diagnóstico de fibrose que envolve maior desconforto para o paciente e dificuldade na interpretação dos resultados.

- Cancro do pulmão menos mortal com recurso a tomografia computorizada

Um inquérito do National Cancer Institute, nos Estados Unidos da América, concluiu que a tomografia computorizada permite reduzir a mortalidade de pessoas com risco de cancro do pulmão em 20%, quando comparada com a radiografia. Entre 2002 e 2004, mais de 53.000 pessoas foram divididas em dois grupos e sujeitas a exames anuais de prevenção.

Um grupo submeteu-se a esses exames através de radiografia e o outro através de tomografia. Os dados foram cruzados com casos de cancro do pulmão e mortes registadas até ao final de 2009, mostrando que o diagnóstico por tomografia reduz a mortalidade, como pretendiam comprovar os autores desta investigação.

- A primeira vacina contra o cancro do pulmão

Após mais 15 anos de investigação, foi patenteada, em Cuba, a primeira vacina terapêutica contra o cancro do pulmão, que tem como objetivo tornar esta doença uma patologia crónica controlável. O registo da vacina noutros países está a decorrer, o que irá conduzir a que a Cimavax-EFG venha a ser comercializada na Europa.

Esta vacina está indicada para aplicar numa fase pós-tratamento, em doentes considerados terminais. Pode também ser utilizada como opção terapêutica, controlando a doença e tornando-a uma patologia crónica.

- DIU protege de cancro do endométrio

Os dispositivos intra-uterinos (DIU) que são usados como método contracetivo podem ser eficazes no tratamento e na cura do cancro do endométrio (revestimento do útero) na sua fase inicial. Segundo uma investigação do Instituto Europeu de Oncologia em Milão, em Itália, as mulheres que sofrem deste tipo de cancro podem vir a ser tratadas sem que sejam extraídos os ovários e o útero, sendo possível preservar a sua fertilidade durante mais anos.

No primeiro teste clínico realizado provou-se que, mediante a libertação progressiva de hormonas levonorgestrel através do DIU, combinada com a injeção mensal de gonadotrofinas, é possível deter e fazer recuar o desenvolvimento do tumor em mulheres com menos de 40 anos de idade. Todas as mulheres que participaram no estudo responderam positivamente ao tratamento e muitas conseguiram engravidar posteriormente.

Veja na página seguinte: A importância da fisioterapia para a recuperação do cancro da mama

- Apoio emocional decisivo para doentes com cancro da próstata

Um estudo recentemente apresentado em Berlim, na Alemanha, veio provar que o apoio emocional é uma das vertentes mais importantes no tratamento do cancro da próstata, apesar de ser uma das mais ausentes, como concluíram os investigadores que o desenvolveram. O trabalho foi realizado em oito países e envolveu mais de 600 doentes, concluindo-se, por exemplo, que 78% dos homens analisados sentiram a sua vida sexual afetada de uma forma negativa no decorrer dos tratamentos aplicados.

A investigação chegou ainda à conclusão que 89% procuraram informação adicional após terem recebido o diagnóstico. Mais de 40% consultaram uma segunda opinião e mais de metade sentiram que o impacto emocional desse diagnóstico não foi abordado nas consultas, além de considerarem que o tratamento os fez sentir menos masculinos. Os investigadores alegam por isso que é necessário não descurar o apoio emocional enquanto complemento terapêutico.

- A importância da fisioterapia para a recuperação do cancro da mama

Uma investigação do Hospital Universitário de Alcalá de Henares, em Madrid, demonstra o quão importante é a fisioterapia para as mulheres sujeitas a uma cirurgia para a extirpação de um tumor na mama. Os investigadores concluíram que submeter-se, logo após a alta médica, a massagens de drenagem linfática, combinadas com exercícios para recuperar a mobilidade do braço, previne o linfedema e a inflamação dos vasos linfáticos. O linfedema consiste na acumulação de linfa nos tecidos do braço e é provocado pela extirpação dos gânglios da axila.

- Vacina contra o cancro da mama

Publicado no jornal Natural Medicine, um estudo de cientistas norte-americanos testou uma vacina que previne o cancro da mama em pequenos roedores de laboratório, tendo obtido resultados muito promissores. A vacina testada tem como alvo uma proteína encontrada na maioria dos tumores da mama. Ainda assim e, apesar de agora se pretender fazer os mesmos ensaios clínicos com humanos, o médico imunologista responsável pelo projeto admite que deverão passar vários anos até que a vacina possa vir a estar no mercado.

- Biópsia líquida que deteta o cancro

Entrou em fase experimental um teste sanguíneo desenvolvido por cientistas da Universidade de Boston, nos EUA, que permite capturar uma célula cancerosa entre um bilião de células saudáveis, graças a um microchip, facilitando o processo de deteção de cancro. Esta nova descoberta representa um avanço significativo face ao único teste sanguíneo já usado, que quantifica as células doentes mas não permite a sua colheita e análise.

As pesquisas desenvolvidas até ao momento mostram ainda que é mais eficaz a avaliar o sucesso dos tratamentos anticancro do que técnicas de imagem como a mamografia e a colonoscopia, tendencialmente mais utilizadas.