O consumo de antidepressivos em Portugal quase triplicou em apenas 12 anos.

Os dados foram recentemente revelados num relatório apresentado pelo Infarmed. Este aumento de 240 por cento justifica-se, segundo a Autoridade Portuguesa do Medicamento, com a toma prolongada desta medicação, o seu fácil acesso e a alteração das indicações de prescrição.

Contudo, são as benzodiazepinas que mais preocupam o psiquiatra Álvaro Carvalho, que recomenda particular atenção aos ansiolíticos. O seu uso justifica-se caso a depressão seja acompanhada por ansiedade, mas sempre sob supervisão médica e durante o tempo mínimo possível.

O consumo elevado de antidepressivos, revelado pelo estudo do Infarmed, não é, na opinião de Álvaro Carvalho, o coordenador do Programa Nacional para a Saúde Mental, contudo, o dado mais preocupante.

Outros psicofármacos têm efeitos mais nefastos. «Apesar de os ansiolíticos, os sedativos e os hipnóticos terem aumentado apenas seis por cento, ainda são o subgrupo de maior consumo em Portugal, em particular as benzodiazepinas, quando seria suposto haver uma redução do consumo. É este grupo que provoca os principais efeitos secundários e dependência», adverte o especialista.

«Cerca de 40 por cento de estados clínicos disfuncionais têm, simultaneamente, depressão e ansiedade. Mas só um especialista consegue perceber que por trás da ansiedade está a depressão e que esta é que é a causadora do mal-estar. Nestes casos, pode haver um uso não justificado de certos psicofármacos», alerta ainda Álvaro Carvalho.

Regras de segurança na toma de antidepressivos:

- Não suspender a medicação sem consultar o médico e/ou
antes de terminar o tratamento, que dura no mínimo três a seis meses. A paragem
precoce pode provocar retrocesso nos sintomas e mal-estar.

- Como qualquer psicofármaco, antes de parar convém fazer a
redução lenta da dose (desmame) sob supervisão do médico que acompanha o caso.

- Se, durante as férias, a pessoa se tiver esquecido de
pedir nova receita, convém reduzir a dose por alguns dias para não ficar sem a
medicação de repente.

- Quando há necessidade de substituir um antidepressivo por
outro, mesmo sendo da mesma família, não convém fazer uma substituição
automática. Pode ser necessário um período em que os dois são tomados simultaneamente.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Dr. Álvaro de Carvalho
(psiquiatra e diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental da Direção-Geral
da Saúde)