Um dos sintomas típicos da depressão é a falta de apetite. O problema é agravado quando o doente não está a alimentar-se convenientemente e de forma equilibrada. O contrário também acontece. Algumas pessoas tendem a comer exageradamente. A relação entre a alimentação e a depressão não pode ser ignorada. Saiba de que forma alguns alimentos podem contribuir para um maior bem-estar dos doentes.
Parece ser uma característica comum de todos os doentes: quando mais necessitam de uma alimentação completa, variada e equilibrada, mais tendem a negligenciar as suas necessidades alimentares. “A depressão, muito diferente de uma reacção normal face a um desapontamento, faz com que alguns indivíduos percam o apetite, ao passo que outros comam bem mais do que deveriam”, explica a Dr.ª Alexandra Bento, presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas (APN). As duas realidades são preocupantes. Comer a mais ou a menos nunca traz vantagens, sobretudo se determinada pessoa já sofre de uma qualquer patologia.
“As pessoas com depressão podem, portanto, vir a sofrer de deficiências ou desequilíbrios nutricionais – sobretudo falta de vitaminas do complexo B e de vitamina C e dos minerais cálcio, ferro, magnésio e potássio. Apesar de ainda não estar claramente estabelecida a relação exacta entre os diversos nutrientes e a actividade química do cérebro, não restam dúvidas de que a nutrição deficiente ou os problemas de peso contribuem para uma deterioração rápida do estado de humor”, esclarece a nutricionista.
Que alimentos são recomendados?
As pessoas que sofrem desta doença devem “consumir cereais integrais e leguminosas, carne magra, peixe gordo, marisco e ovos, de forma a ser-lhes fornecidas vitaminas do complexo B”. Não podem também negligenciar o “ferro, potássio, magnésio, cobre e zinco. O consumo regular de fruta e hortícolas frescos (brócolos, couves, melão, laranjas, frutos silvestres…) contribuirá para a ingestão de vitamina C. Os legumes de folha verde-escura contribuem para melhorar os níveis de cálcio e carotenóides, a fruta fornecerá potássio e ferro, e os lacticínios (de preferência com baixos teores de gordura) farão aumentar as reservas de cálcio”, salienta Alexandra Bento.
A alimentação deve ser completa, variada e equilibrada, “evitando carências vitamínicas ou outras, que conduzam à desnutrição”, acrescenta a especialista.
As pessoas que sofrem de depressão devem evitar o consumo de bebidas alcoólicas, uma vez que estas podem exercer um efeito adverso sobre o estado de humor, além de poderem contribuir para a redução do apetite, comprometendo o estado nutricional. Por outro lado, “a ingestão excessiva de cafeína pode exacerbar o estado depressivo e também provocar insónias. Quem sofre de depressão deve evitar consumir café ou outras bebidas cafeinadas à noite”, adianta a presidente da APN.
Certos alimentos também podem agravar o estado depressivo em pessoas susceptíveis. “Se suspeita da existência de alguma ligação entre uma susceptibilidade a determinado alimento e o seu estado de espírito, tente eliminá-lo da sua dieta, no sentido de verificar se sente algum alívio.”
A influência da medicação
“As pessoas medicadas com antidepressivos que contenham monoamina oxidase devem evitar o consumo de alimentos com elevado teor de tiramina, entre os quais se incluem alguns tipos de bebidas alcoólicas (exemplo: cerveja, vinho tinto, licores, vermute), bem como alguns tipos de queijo, fígado de vitela ou frango, salames, carnes enlatadas, salmão fumado, extractos de levedura. A reacção entre a tiramina e os compostos químicos presentes em alguns antidepressivos pode afectar o sistema nervoso, provocando, entre outros, palpitações e dores de cabeça”, sugere Alexandra Bento.
Conselhos para lidar melhor com a depressão
– Reduzir a ingestão de alimentos ricos em açúcar e/ou gordura (especialmente ácidos gordos saturados e colesterol, gorduras sólidas e gorduras hidrogenadas e sobreaquecidas);
– Dar preferência ao peixe, às carnes brancas e magras, em detrimento das carnes gordas e vermelhas;
– Aumentar a ingestão de cereais completos, frutos e vegetais; aumentar a ingestão de cálcio através do consumo de lacticínios magros;
– Evitar bebidas alcoólicas e refrigerantes, optando pela ingestão abundante de água, chás ou infusões (sem adicionar açúcar) ao longo do dia;
– Reduzir o consumo de sal, recorrendo às especiarias e às ervas aromáticas para tempero; praticar-se, no mínimo, cinco refeições diárias, nunca esquecendo o pequeno-almoço.
– A par da alimentação, deve praticar-se, pelo menos, 30 minutos diários de exercício físico moderado, que, entre outros benefícios, contribui para o aumento da auto-estima.
Texto: Cláudia Pinto
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