A teoria da restrição calórica resulta de experiências muito interessantes que demonstraram que os animais aos quais é feita uma restrição da alimentação, dentro de determinados limites, vivem bastante mais que os animais que são alimentados Ad libitum, isto é, sem qualquer tipo de restrição.
Para que seja eficaz no aumento do tempo de vida essa redução deve rondar os 40%, ou seja, a alimentação dos animais deve estar condicionada a 60% do que normalmente consumiriam caso se alimentassem sem restrições. Esta é a janela em que se começam os sentir efeitos significativos da restrição calórica, com resultados consistentes em todos os organismos-modelos utilizados nos estudos de envelhecimento, e até em chimpanzés, cães e outras espécies de animais em que se verificou que a restrição calórica atrasa o envelhecimento. Veja-se o exemplo dos macacos Rhesus, que ilustram bastante bem as diferenças nas características fenotípicas entre o indivíduo que esteve sujeito a uma dieta de restrição calórica e o que se alimentou sem restrições, sendo que as diferenças também são sentidas a nível das funções orgânicas e da sua boa forma.
Foram já efetuadas várias experiências para tentar perceber qual é o componente da alimentação que tem um efeito nocivo na longevidade, e concluiu-se que não tem que ver com calorias, hidratos de carbono ou lípidos, mas sim com um aminoácido essencial: a metionina (contam-se entre os alimentos mais ricos neste nutriente: clara de ovo, bacalhau, queijo parmesão, farinha de sementes de sésamo, castanha do Brasil, carne de vaca e galinha). Tal significa que há vias complexas de regulação deste aminoácido.
Ninguém tem realmente a pretensão de curar o envelhecimento, até porque este não é uma doença; porém, é quase universal o desejo de tratar as doenças associadas ao envelhecimento. Aqui a questão que se coloca é saber o que é que se pode aprender com o conhecimento dos mecanismos moleculares que estão por detrás deste fenómeno que nos permita ter abordagens inovadoras, complexas e sofisticadas de modo a impedir ou travar as manifestações patológicas associadas ao envelhecimento. Ao invés de tratar individualmente cada uma das doenças associadas ao envelhecimento, ir ao cerne do fenómeno e actuar sobre o fenótipo que contribui para elas: os mecanismos moleculares do envelhecimento.
Um artigo de Sérgio Loureiro Nuno, fisioterapeuta e professor universitário.
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