Muita gente considera que, se sofre de doenças como asma e rinite, não pode praticar uma atividade física com regulariadade.
«Era comum pensar-se que uma pessoa com alergia ou, particularmente, com asma, não deveria praticar desporto. Hoje sabe-se que é necessário desmistificar este conceito», afirma Mário Morais de Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.
As elevadas concentrações de pólen no ar, detetadas desde o final do inverno e acentuadas de abril a junho, explicam o agravamento dos sintomas de alergia a pólenes nesta altura do ano, mas também uma maior sensibilidade a ácaros, fungos, pelos de animais, veneno de insetos e outros alergénios a que estamos expostos. No entanto, isso não é argumento para deixar de fazer exercício. Basta adotar estratégias adequadas ao seu problema.
No caso da rinite alérgica
É uma doença alérgica inflamatória crónica e a manifestação mais habitual de alergia aos pólenes. Os sintomas incluem prurido, congestão e corrimento nasais, crises de espirros, tosse e irritação na garganta, conjuntivite alérgica (prurido ocular, lacrimejo, olho vermelho, edema das pálpebras).
Posso fazer exercício? Sim, não só pode como deve. «Os doentes com rinite alérgica sentem habitualmente que as suas queixas melhoram com a prática de exercício, o que se relaciona com diferenças de inervação das vias aéreas superiores e inferiores», fundamenta Mário Morais de Almeida.
No caso da asma
É a doença alérgica mais grave das vias aéreas e surge frequentemente associada à rinite. As alergias ao pólen, ácaros do pó, animais ou fungos são fatores de risco primordiais para o seu desenvolvimento e persistência, mas a sua ausência não exclui o diagnóstico de asma.
Posso fazer exercício? Sim, se adotar os cuidados necessários. «A prática de exercício favorece o controlo da doença asmática pelo condicionamento físico que provoca, nomeadamente muscular, pela prevenção da obesidade ou excesso de peso e pelo progressivo aumento da tolerância ao esforço e da autoconfiança».
No entanto, «a prevenção da agudização da doença pelo próprio exercício deve ser prioritária, pelo que é essencial o controlo terapêutico da infl amação brônquica crónica que lhe está subjacente». «Cumprindo um plano adequado de controlo feito pelo médico, o asmático pode e deve participar em desportos ou outras atividades físicas, sejam aulas de educação física, desportos de lazer ou de alta competição», considera Mário Morais de Almeida.
Se sofre de asma, identifique o exercício certo para si
- Se já pratica um desporto...
«Desde que a doença esteja controlada, poderá fazer qualquer exercício ao nível de uma pessoa não asmática», justifica Mário Morais de Almeida. Peça aconselhamento médico sobre os cuidados a adotar.
- Se quer começar...
Prefira exercícios aeróbios e dinâmicos em ambientes quentes e húmidos.
«Permitem melhorar a dilatação das paredes musculares dos brônquios (broncodilatação) e controlar a hiperventilação (respiração demasiado rápida e superficial), evitando o arrefecimento e a desidratação da mucosa brônquica e a consequente fisiopatologia que justifica a asma induzida pelo exercício», explica o alergologista. Se sofre de asma e/ou rinite alérgiaca, evite treinar ao ar livre, durante a manhã, em dias quentes e ventosos e em locais poluídos, nomeadamente, muito tráfego automóvel, poluição industrial, fumo de tabaco.
As modalidades mais bem toleradas
- Baixo risco
Natação em piscina. É a modalidade mais frequentemente aconselhada. «No entanto, recentemente tem assumido crescente atenção a presença de altos níveis de cloro, por vezes relacionada com problemas de ventilação, com ação irritante das vias aéreas, bem como a presença de fungos nos balneários e outras áreas de uso comum integradas nos complexos de piscinas».
- Risco baixo a médio
Esgrima, ginástica rítmica, dança, golfe, circuito de manutenção, caminhada, cicloturismo ou outras não associadas a altos níveis de hiperventilação.
- Risco médio
Ténis, voleibol, basquetebol, andebol, futebol, luta, judo, provas de atletismo de curta distância ou outros que alternam fases aeróbias e não aeróbias e períodos curtos de exercício contínuo (menos de cinco a oito minutos), com intervalos.
- Alto risco
Ciclismo, atletismo, desportos de inverno, como o ski, ou outros de longa distância, com treinos contínuos e ao ar livre ou ao frio. A corrida de atletismo de longa distância é, tradicionalmente, considerada a disciplina de maior risco para a asma induzida pelo exercício. Montanhismo, escalada, mergulho e outras atividades subaquáticas ou a alta altitude não estão proibidos, mas obedecem a restrições.
Pratique exercício físico em segurança
Os oito cuidados essenciais que deve seguir:
1. Peça aconselhamento médico especializado. Em alguns casos, a prática de exercício deve ser precedida da inalação de fármacos para controlar e prevenir queixas.
2. Informe o seu treinador, professor ou colegas sobre a sua situação clínica.
3. Respire pelo nariz. Assim o ar aquecerá e ficará mais húmido.
4. Evite treinar em ambientes frios e secos ou em contacto com elementos irritantes (poluição e tabaco, entre outros).
5. Cerca de 30 minutos antes de um exercício prolongado faça vários sprints (corridas rápidas) de 30 segundos, com intervalos de dois minutos. Como alternativa ou em associação, aqueça continuamente durante 15 minutos, no máximo a 100 a 120 batimentos cardíacos/ minuto.
6. Tenha sempre consigo a medicação de alívio indicada pelo médico. Nomeadamente, um broncodilatador de ação rápida para uso inalatório.
7. Não faça exercício se a sua doença alérgica não está controlada (por exemplo, após uma infeção respiratória ou se não estiver a cumprir a medicação preventiva) ou se tiver sintomas significativos durante o treino.
8. Consulte o boletim policlínico acedendo ao site www.spaic.pt para saber quais os períodos de maior concentração de pólenes no ar e escolha a melhor altura ou local para treinar.
Texto: Rita Miguel com Mário Morais de Almeida (alergologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica)
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