Os dados do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM indicam um aumento superior a 40% de ocorrências desde o início da pandemia, com destaque para os incidentes críticos, que mais do que duplicaram.
“Os nossos dados espelham a resposta de emergência. Importa atuar nas fases anteriores, de prevenção e identificação precoce, evitando chegar aos pedidos de ajuda em crise e em emergência”, alerta a psicóloga Sónia Cunha, responsável pelo CAPIC.
A especialista insiste na necessidade do reforço robusto nas respostas primárias, envolvendo a saúde, a comunidade escolar e as famílias. “Todos têm de estar envolvidos”.
“A nossa resposta surge na fase em que há descompensação, descontrolo. Se já antes nos preocupávamos com este aumento de perturbações nos mais jovens, com sintomas mais depressivos, ansiedade, com ao escalar e prolongar da pandemia temos assistido a um reforço desta sinalização”, reconhece, lembrando que, nesta área, não há resultados rápidos.
Sónia Cunha lembra que “a resposta em saúde mental é continuada”: “Não é algo que se faz como uma sutura e fica resolvido. Por vezes, os próprios e as famílias sentem essa dificuldade, não têm retorno do esforço no imediato. Mas os resultados rápidos em saúde mental não existem”.
A responsável lembra que as idades mais jovens “são cruciais no desenvolvimento da personalidade” e insiste que, em situações de crise, “são sempre os mais vulneráveis e o tecido social mais fragilizado que mais sofre”.
“E atenção que continuamos a viver em pandemia. É uma situação que se tem prolongado. Quanto mais esticamos o elástico mais exige de nós”, sublinha a psicóloga, apontando ainda as assimetrias na resposta na área da saúde mental a nível nacional.
Sobre o CAPIC, refere que os serviços foram reforçados e que agora são 24 psicólogos que trabalham neste centro, depois de um reforço de nove elementos – quatro contratados no âmbito da resposta à pandemia e outros cinco que entraram para os quadros do INEM na sequência de um concurso em 2021.
Atualmente está a decorrer um concurso para o preenchimento de outras seis vagas.
“Ainda assim, continuamos a necessitar de reforçar”, reconhece.
A responsável frisa que “estes dois anos mostraram que nos período pós-picos e pós-confinamento foi quando houve mais manifestações e pedidos de ajuda” e sublinha: “Muitas vezes só depois se percebe o efeito deste extremo da nossa capacidade”.
“Só nos próximos anos, com o retorno a uma futura normalidade, é que vamos perceber as necessidades efetivas. Adivinham-se uns anos exigentes pela frente”, considera.
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