De acordo com último relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais, que é hoje apresentado, foram notificados na plataforma um total de 416 casos, dos quais 189 de hepatite C, 179 de hepatite B, 30 de hepatite A e 18 de hepatite E.
Segundo os autores do documento, este aumento do número de casos confirmados na plataforma de apoio SINAVE “poderá ser justificado com a retoma da atividade assistencial, que foi afetada pela pandemia de covid-19”.
O documento apresenta, pela primeira vez, dados referentes à hepatite E, que, apesar de menor magnitude quando comparada com as restantes hepatites, teve também um aumento de casos confirmados no ano passado (de 10 para 18).
A tendência de uma maior proporção de casos confirmados no sexo masculino mantém-se, representando cerca de 60% dos casos confirmados de hepatite B e 75% dos de hepatite C.
Considerando apenas os anos de 2021 e 2022, o documento indica que 45% dos casos confirmados de hepatite B têm apresentação crónica e 16% aguda.
Na maioria dos casos (84%) a forma provável de transmissão é desconhecida, em 4% admite-se que seja o contacto sexual heterossexual, em 3% a transmissão vertical (mãe/filho) e os restantes 9% terão outras formas de transmissão.
No que diz respeito à hepatite C, 41% dos casos confirmados têm apresentação crónica, 8% aguda e em 51% é desconhecida.
Nos anos de 2021 e 2022, em 38% dos casos confirmados a forma de transmissão da hepatite C era desconhecida, em 18% surgiu de lesões não ocupacionais (agulhas, mordeduras, feridas, tatuagens, piercings), em 15% por contacto sexual entre homens que têm sexo com homens, em 10% por contacto heterossexual e em 9% por contacto com sangue infetado.
Os últimos dados de prevalência nacional dizem respeito aos inquéritos serológicos nacionais 2015 – 2016, realizados pela Escola Nacional de Saúde Pública, pelo que os autores do relatório chamam a atenção para a necessidade de estudos mais recentes para se conhecer a atual prevalência nacional das hepatites.
Sobre os utentes em tratamento por problemas relacionados com o uso de drogas, relativamente à hepatite C, o documento indica que em 2021, após descidas consecutivas nos dois anos anteriores, houve um aumento da proporção de novas infeções “entre os injetores que iniciaram tratamento ambulatório”, sejam eles novos utentes ou readmitidos.
As hepatites virais foram reconhecidas como uma das principais causas de mortalidade a nível mundial, causando cerca de 1,34 milhões de mortes por ano (cerca de 4.000 por dia). Contudo, quando diagnosticadas precocemente, têm tratamento e são curáveis.
Na região europeia, 14 milhões de pessoas vivem com hepatite C e 112.500 morrem anualmente por esta infeção.
Portugal tem sido referido como um exemplo internacional no caminho para a eliminação das hepatites virais crónicas. Em 2021, registou uma taxa de 0,4 casos de hepatite C crónica diagnosticados por cada 100.000 habitantes, um valor inferior à média da UE/EEE (1,9 casos/100.000). No que se refere aos casos de hepatite C aguda, a taxa em Portugal foi de 0,1 casos/100.000 habitantes, também inferior à taxa de 0,3 casos/100.000 registada na UE/EEE.
A mortalidade por hepatites virais ultrapassa a mortalidade por outras doenças infecciosas, como a infeção por Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) (680 000), a malária (627.000), sendo similar à mortalidade por tuberculose (1,4 milhões).
Nas pessoas com hepatite C crónica, o risco de evolução para cirrose é de 15-30% aos 20 anos e, em caso de cirrose, a probabilidade de evolução para cancro no fígado é de 10-40% aos 20 anos.
A OMS estima que vivam em todo o mundo cerca de 58 milhões de pessoas com o vírus da hepatite C, que morram anualmente 290.000 por cirrose ou carcinoma hepatocelular, surgindo todos os anos cerca de 1,5 milhões de novas infeções. Para a hepatite B, as estimativas apontam para cerca de 300 milhões de pessoas que vivem com essa infeção, 820 000 mortes por ano e 1,5 milhões de novas infeções.
Comentários