A menopausa é definida como o cessar da menstruação resultante da perda de atividade folicular ovárica que ocorre na mulher por volta dos 51 anos. Atendendo a que a esperança de vida da mulher em Portugal é de 82,6 anos, estima-se que um terço da sua vida seja passada na menopausa. Segundo a Pordata existirá cerca de dois milhões e meio de mulheres em idade de menopausa em Portugal.
Embora seja um acontecimento fisiológico traz algumas consequências a curto, médio e longo prazo que poderão ser sentidas ou não pela mulher e que exige por parte do médico uma resposta adequada. As consequências a curto/médio prazo são aquelas que mais preocupam as mulheres e são a principal causa de pedido de consulta e de apoio. Destas fazem parte a sintomatologia vasomotora (calores, afrontamentos, fogachos) mas também as alterações do humor e do sono, dificuldades de concentração, dores osteoarticulares e as perturbações génito-urinárias.
Em relação à sintomatologia vasomotora, que poderemos afirmar ser a “imagem de marca” da menopausa, tem uma prevalência elevada de cerca de 70% e 40% das mulheres referem-na como incapacitante condicionando o seu desempenho diário, podendo prolongar-se em 50% durante mais de cinco anos após a menopausa.
A secura vaginal é um sintoma que integra a síndrome génito-urinária da menopausa (SGUM). Esta entidade clínica tem uma prevalência elevada (mais de 60%) e dela fazem parte sintomas como a secura vaginal por atrofia vulvovaginal, dispareunia / disfunção sexual, urgência miccional e incontinência urinária de urgência. O prurido vulvar é um sintoma, por vezes interpretado como um processo infecioso, mas pode ser também uma consequência da secura vaginal.
As consequências a longo prazo são a osteoporose e aumento de risco cardiovascular.
A menopausa parece ter um impacto negativo na qualidade de vida das mulheres interferindo também no desempenho profissional já que em quase 1/4 das mulheres (23%) os sintomas da menopausa interferem com a sua atividade profissional e em 5% provoca mesmo absentismo laboral, segundo um inquérito realizado em Maio de 2018, em Portugal Continental e Ilhas, a mulheres entre os 45 – 60 anos. Claro que como se conclui tem custos económicos e sociais sobretudo numa fase da vida da mulher que muitas vezes tem responsabilidades profissionais muito exigentes.
Nesse mesmo inquérito, concluiu que a menopausa quando apresenta sintomas afeta negativamente a vida da mulher do ponto de vista pessoal - 80% apresentam SVM, 66% têm alterações do sono, 24% têm dor nas relações sexuais e 23% têm redução do desejo sexual.
Atendendo a todo este impacto, qual a melhor solução?
Sendo os sintomas causados pela falta das hormonas ováricas nomeadamente os estrogénios, compreende-se que a terapêutica hormonal é o tratamento mais eficaz no alívio dos sintomas vasomotores, nas perturbações do sono relacionadas com a menopausa e na síndrome génito-urinária da menopausa desde que respeitadas as contraindicações e deve ser instituída tão cedo quanto possível. É conhecido e comprovado também o papel da terapêutica hormonal na prevenção e mesmo tratamento da osteoporose bem como na prevenção do cancro do colón. No entanto, nas mulheres que não podem ou não querem optar pela terapêutica hormonal poderão escolher estratégias não hormonais como sejam os extratos de pólenes, fitoestrogénios, os antidepressivos para o alívio dos sintomas vasomotores e os inibidores da reabsorção óssea para prevenção e tratamento da osteoporose.
A abordagem não farmacológica é também uma mais-valia quer de forma isolada quer em complemento com as anteriormente descritas e inclui alteração de estilo de vida (cessação tabágica e de ingestão abusiva de álcool), prática regular de exercício físico, yogaterapia cognitivo/comportamental, aromoterapia, acupuntura e debate de ideias e testemunhos em terapia de grupo.
Implementar a adesão à terapêutica e adapta-la ao perfil e necessidades de cada mulher tem sido um objetivo. Assim, no que diz respeito à via de administração, para além da via oral, percutânea, transdérmica através de “selos”, temos mais recentemente dispositivos de pulverização pretendendo facilitar a vida da mulher no que diz respeito à toma.
Sabemos que muitas dos distúrbios sexuais nesta fase se relacionam com a secura vaginal e atrofia que condiciona dor nas relações sexuais, dificuldade na obtenção do orgasmo e como consequência diminuição da líbido. No entanto, há diversos tratamentos disponíveis no mercado, na grande maioria tratamentos locais (vulva e vagina) com pouco ou nenhum efeito secundário pela sua ação sistémica ser nula ou desprezível. Temos assim à nossa disposição o tratamento hormonal, sistémico ou apenas vulvar e vaginal (estradiol, estriol e promestrieno), em doses e formulações diferentes – creme, gel e comprimidos vaginais. Mais recentemente, está disponível ainda uma nova opção terapêutica vaginal, a prasterona em óvulos que para além do tratamento da secura vaginal poderá ter uma ação benéfica a nível sexual porque permite a libertação de uma hormona (dehidroepiandrosterona) importante para a obtenção do prazer sexual.
A abordagem não hormonal inclui diversos hidratantes e lubrificantes sem qualquer limitação no seu uso.
É importante perceber que um tratamento simples e disponível como seja uma terapêutica tópica hormonal ou mesmo não hormonal pode modificar a qualidade de vida da mulher em menopausa e também do seu companheiro(a).
Têm surgido outras abordagens terapêuticas como a aplicação do LASER na vagina e o ácido hialurónico que promove a hidratação da mucosa da vulva e da vagina não apresenta contraindicações mas tal como o LASER implica intervenção médica e o incómodo das injeções locais.
Cabe aos ginecologistas e os médicos de família criarem um ambiente favorável para poder questionar sobre os sintomas vulvovaginais e dar uma oportunidade para a mulher falar sobre a sua sexualidade, integrando-a num paradigma global de saúde e bem-estar e informar que existe solução para os sintomas.
Mais informações em http://www.amenopausa.pt/
Um artigo da médica Fernanda Geraldes, especialista em Ginecologia/Obstetrícia e Presidente da Secção de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG).
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