Os produtores de frutas e hortícolas portugueses duvidam que os casos mortais de contaminação por uma bactéria registados na Alemanha estejam relacionados com a produção de pepino, levantando a hipótese de problemas no armazenamento dos produtos.

Para Domingos dos Santos, presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP), dificilmente os pepinos transmitem a bactéria Escherichia coli.

“Custa-me a aceitar que este tipo de bactéria seja transmitida pelos pepinos. Estes agentes patogénicos não atacam os vegetais. Não é um produto transformado, é uma verdura que é colhida. Se houvesse algum problema seria por contaminações cruzadas. Por exemplo, através de um armazém, havendo uma contaminação superficial”, refere, em declarações à agência Lusa.

Reiterando ter “sérias dúvidas” que o problema seja provocado pelos pepinos, o responsável também vê com dificuldade que possa ter havido contaminação através do transporte.

“Dificilmente terá sido o transporte, que é normalmente refrigerado. [Os legumes] podem não ter estado nas condições de armazenamento adequadas”, afirma.

O presidente da FNOP sublinha que não devem ser criadas situações de alarme sem antes se identificarem as causas, recordando que o vetor de transmissão da bactéria ainda não foi detetado.

Aos consumidores, Domingos dos Santos assegura que o mercado horto frutícola em Portugal “tem um nível de segurança muito elevado”, mas aconselha sempre higiene: “Devemos lavar sempre fruta e legumes”.

Até ao momento, a FNOP não tem dados que indiquem eventuais quebras de consumo de pepino, legume em que Portugal é auto-suficiente.

Contudo, para o presidente da federação, este argumento pode “iludir o consumidor”: “num mercado livre podemos sempre importar ou exportar”.

A bactéria Escherichia coli está geralmente presente nos intestinos dos animais.

Segundo o especialista em saúde pública Mário Durval, a estirpe em causa da bactéria produz toxinas que podem levar ao rebentamento dos glóbulos vermelhos, deixando de haver coagulação do sangue eficaz e fazendo-o sair pelos rins, bloqueando-os, explicou. O período de incubação da doença pode ir dos três aos oito dias.

O perito alerta que não há possibilidade de contágio direto, como numa gripe ou síndrome respiratório, em que há riscos de infeção pessoa a pessoa.

“Tem de haver consumo ou contacto com fezes”, especifica.

Centenas de pessoas foram contaminadas, registando-se na Alemanha um total de 1.200 casos, entre suspeitos e confirmados. Há pelo menos 14 mortos.

A Alemanha afirmou quando a crise surgiu que os pepinos que terão causado a infeção terão tido origem em Espanha o que levou países como a Áustria, a Bélgica e a Rússia a fechar a porta a vários produtos espanhóis.

31 de maio de 2011

Fonte: Lusa/SAPO