"Estas tempestades resultaram do vento forte à superfície associado à depressão Célia, a qual influenciou o estado do tempo na Madeira nos dias 14 e 15 de março e se encontra neste momento sobre o Mediterrâneo em fase de dissipação", explica o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) em comunicado.
"Além dos impactos deste episódio de poeiras ao nível social, uma análise preliminar permitiu também identificar um impacto no desempenho dos modelos numéricos de previsão do tempo. Em particular, sobre Portugal Continental, foi possível identificar que a existência de uma elevada concentração de poeiras nos níveis médios e altos da atmosfera (correspondendo a uma maior disponibilidade de núcleos de condensação) deu origem à formação de uma densa camada de nuvens que de outro modo não se teria formado e que, por esse motivo, não foi bem prevista pelos modelos numéricos de previsão do tempo", admite o IPMA.
Em consequência da referida camada de nuvens, a radiação solar que atingiu a superfície foi menor que a prevista pelos modelos numéricos e, em consequência, os valores da temperatura do ar, em particular da temperatura máxima, foram inferiores aos valores previstos, com as diferenças a atingirem cerca de 5°C em alguns locais, explica.
"A análise preliminar deste episódio sobre Portugal Continental sugere que a elevada concentração de poeiras do deserto junto à superfície está relacionada com o padrão da circulação atmosférica associada à depressão Célia, que permitiu transportar as poeiras em níveis baixos da atmosfera desde a região da Argélia até à Península Ibérica, contornando o sistema montanhoso do Atlas pelo seu bordo oriental", refere a nota.
"Tipicamente as poeiras resultantes das tempestades de areia na região da Argélia são transportadas para o Mediterrâneo vindo a afetar também os países Mediterrânicos do sul da Europa", acrescenta.
"É frequente a Península Ibérica ser afetada por tempestades de areia que se formam na região de Marrocos a sul do Atlas. Nestes casos, o transporte das poeiras ocorre ou pelo bordo ocidental do Atlas, através de uma circulação sobre o oceano Atlântico, ou através de um fluxo para norte sobre o Atlas, em que as poeiras são projetadas para níveis mais elevados da atmosfera. Em qualquer destes casos as concentrações próximo da superfície tendem a ser inferiores ao caso atual", lê-se ainda.
"A concentração de poeiras sobre a Península Ibérica deverá diminuir gradualmente, no entanto não é de excluir a probabilidade de poder continuar a afetar o estado do tempo até dia 19, podendo persistir a formação de uma camada de nuvens altas, a dissipar-se lentamente, condicionando a temperatura observada à superfície. O vento irá persistir do quadrante leste, sendo temporariamente forte nas terras altas", conclui.
Cuidados de Saúde
A Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica reforçou esta quinta-feira a divulgação de algumas medidas que podem ajudar a prevenir o desconforto respiratório, assim como do nariz e olhos:
- Mantenha uma boa adesão ao tratamento da sua doença alérgica. Tome a sua medicação nas doses e horários prescritos pelo seu médico;
- Evite passar muito tempo no exterior e, sobretudo, não pratique exercício físico ao ar livre;
- Mantenha as janelas fechadas, evitando a entrada de poeiras em casa;
- Na rua, use máscara, de preferência, do tipo FPP-2 para proteger o nariz e a boca;
- Se tem desconforto ocular e/ou nasal, aumente a regularidade da limpeza dos olhos e/ou nariz com soro fisiológico;
- Caso sinta um agravamento muito intenso dos sintomas, fale com o seu médico.
A Direção-Geral da Saúde admitiu na terça-feira que se verifica "uma situação de fraca qualidade do ar no Continente, com maior expressão nas regiões Norte e Centro". "Esta situação deve-se à intrusão de uma massa de ar proveniente dos desertos do Norte de África, que transporta poeiras em suspensão e que atravessa Portugal Continental, aumentando as concentrações de partículas inaláveis de origem natural no ar", lê-se no website.
"Este poluente (partículas inaláveis – PM10) tem efeitos na saúde humana, principalmente na população mais sensível, crianças e idosos, cujos cuidados de saúde devem ser redobrados durante a ocorrência destas situações", indica.
Os especialistas da Sociedade Portuguesa de Pneumologia também lançaram um alerta devido às mais recentes alterações do ar atmosférico sentido em Portugal, com recomendações específicas, sobretudo para a população asmática.
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