O coração é o órgão do nosso corpo responsável por fazer circular o sangue para todos os outros órgãos. Este efeito de “bomba propulsora” é comandado por um sistema elétrico (tecido de condução cardíaco) que gera e coordena os batimentos cardíacos. Quando estamos em repouso ou a dormir, este sistema elétrico, tal como um Maestro, “ordena “ que o coração bata devagar (50 ou 60 batimentos por minuto), de forma  rítmica e regular. Quando é necessário correr ou fazer um esforço o mesmo Maestro manda que o coração bata mais rápido (100-150 batimentos por minuto) e mais forte.

Quando por algum motivo esse sistema de condução elétrica está alterado, estamos perante uma arritmia cardíaca, e o coração pode bater de uma forma irregular: mais rápida (designada de taquicardia, como é o caso, por exemplo, da fibrilação auricular), mais lenta (designada de bradicardia) ou até causar paragens cardíacas.

Existem várias causas para estas arritmias, sendo as principais: degenerativa (envelhecimento), enfarte do miocárdio, alterações nas hormonas da tiroide, alterações na função dos rins, nos níveis sanguíneos de potássio e também pelo efeito de vários medicamentos.

Nestas circunstâncias os doentes podem sentir cansaço generalizado, desmaios, tonturas, dificuldade em respirar, palpitações ou morte súbita. Perante estes sinais é fundamental procurar aconselhamento médico para um estudo detalhado e avaliação da necessidade de implantação de dispositivos para corrigir estas alterações do ritmo cardíaco, como por exemplo, o pacemaker.

O que é um pacemaker e como funciona?

O pacemaker ou marcapasso cardíaco é um dispositivo elétrico que estimula artificialmente o coração de forma a que este funcione corretamente.

É constituído por uma bateria ou gerador implantado debaixo da pele, na região peitoral, ao qual se conectam um ou mais eletrocateteres (fios condutores de electricidade) que depois se dirigem às cavidades do coração (aurículas e ventrículos) através das veias do tórax .

Este conjunto tem a capacidade de avaliar continuamente a atividade do coração e substituí-la, quando este não funciona adequadamente, através da emissão de estímulos elétricos artificiais, que o doente não sente.

Existem outros dispositivos semelhantes aos pacemakers que têm a capacidade adicional de identificar arritmias possivelmente fatais, como é o caso da fibrilação ventricular, e eliminá-las através da atribuição de um choque eléctrico, prevenindo desta forma a morte súbita - são os cardiodesfibriilhadores implantáveis- também conhecidos como CDI’s.

Como se implanta?

A implantação do pacemaker é um procedimento relativamente simples, realizado no bloco operatório, sob anestesia local ou leve sedação. Tem duração de cerca de uma hora e o doente pode ter alta no próprio dia ou dia seguinte.

Quais os cuidados a ter após o implante?

Os primeiros 15 dias após o implante exigem um maior cuidado: devem realizar-se os cuidados de penso recomendados e evitar esforços intensos com o braço do mesmo lado onde o gerador do pacemaker foi implantado, para evitar que haja algum deslocamento.

Após este período os doentes podem recuperar gradualmente a sua vida normal, conduzir, trabalhar, fazer desporto ou andar de avião.

Os portadores de pacemaker devem manter um seguimento regular em consulta especializada, no mínimo uma vez por ano, onde se avalia o normal funcionamento do pacemaker, se vigia a ocorrência de diversas arritmias e se ajustam alguns parâmetros de acordo com as necessidades dos doentes.

Atualmente é possível fazer o seguimento destes dispositivos também em consulta à distância, onde o doente conecta um recetor à internet ou via telefone que comunica com o seu aparelho e este envia os dados do pacemaker para o médico assistente (monitorização remota).  A recente pandemia é um bom exemplo da mais valia desta avaliação não presencial.

Um artigo do médico Renato Margato, Cardiologista no Hospital CUF Porto.