Falando à Lusa a propósito do Juramento de Hipócrates de 170 futuros médicos, que está marcado para domingo em Braga, o presidente da Secção Norte da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, apontou ainda como "imperioso e impreterível" que se faça uma "aposta séria" em campanhas de literacia em Saúde de forma a evitar o recurso ao Serviço de Urgências por doentes que deviam procurar serviços de cuidados primários.
Para o responsável, um dos "graves problemas" do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é a saída de médicos para outros países e o facto de aqueles profissionais preferirem exercer no setor privado, pelo que aconselha a que "sejam criadas condições apelativas" para os clínicos optem pelo serviço público, o que "não passa necessariamente e apenas" pelos vencimentos.
"No Natal e no Ano Novo e em alturas de surtos nomeadamente de gripe que se esperam é recurso às urgências hospitalares aumenta e muito e os serviços não estão devidamente preparados para isso pelo que há constrangimentos expectáveis", disse.
Miguel Guimarães considerou que esta não é uma situação que se deve dar atenção "apenas nestas alturas" pelo que defendeu que devem ser tomadas medidas para solucionar o problema: "Não podemos estar a ter esta conversa todos os anos. É preciso tomar medidas para que isto seja evitado nomeadamente evitar o recurso em excesso a empresas de contratação temporárias de médicos".
Segundo explicou, "o recurso a médicos temporários pode até agravar o problema uma vez que quando os médicos falham a culpa não é de ninguém e apenas se podem aplicar multas às empresas", por isso, apontou, " a resolução passa por optar sempre pela contratação de clínicos para os quadros ou da contratação direta de profissionais".
Outro problema apontado é o aumento da afluência aos serviços de urgência de utentes que, disse, "deviam ser tratados pela rede de cuidados primários mas que muitas vezes não sabem onde se devem dirigir acabando por isso nas urgências".
De forma a combater aquele "recurso em excesso" às urgências hospitalares, Miguel Guimarães afirmou ser "imperioso e impreterível uma aposta séria em campanhas de informação a longa duração".
Ou seja, considerou, "não basta uma ou duas semanas de campanha perto do Inverno porque isso não é suficiente para combater a iliteracia em saúde da população que tem que aprender que com sintomas de gripe não deve recorrer a um serviço de urgência".
Questionado sobre se faltam médicos no SNS, Miguel Guimarães explicou que "falta um bocadinho de tudo".
"Faltam médicos, falta organização e falta sobretudo investimento nos recursos humanos. Temos assistido nos últimos anos à saída de centenas de médicos para o estrangeiro e ao pedido de reformas de milhares. É preciso criar condições para que quem está agora a iniciar a carreira fique no SNS e não opte por emigrar ou por exercer no setor privado. É preciso garantir a dignidade no acesso e no exercício à profissão, não passa necessariamente e apenas por uma questão de vencimentos", disse.
No domingo, vão prestar o Juramento de Hipócrates jovens oriundos de todas as escolas médicas do país que no último ano concluíram a sua formação pré-graduada.
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